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Alberto Fernández, presidente eleito da Argentina (Foto: Getty Images)

 

O retorno do peronismo ao poder na Argentina acendeu o sinal de alerta no agronegócio local. O setor produtivo teme que a nova gestão imponha restrições que possam frear a expansão dos negócios. No entanto, produtores, empresários e exportadores ouvidos pela Revista Globo Rural acreditam que diante da profunda crise, baixas reservas, forte endividamento e a necessidade de obter divisas do País obriga o próximo governo a apostar nas exportações e no diálogo em busca das soluções para os problemas.

“Dentro do que é a geração de riqueza, o agronegócio é um fator central para o desenvolvimento da economia do país. Por esta razão, estamos muito atentos às decisões que a nova administração vai tomar na direção concreta de dotar de competitividade o nosso setor”, disse o presidente do Grupo de Lideres Empresariais  (LIDE), Rodolfo de Felipe.

Questionado se teme o regresso de restrições, ele disse que os homens de negócios esperam que o futuro seja melhor que o passado. “Ainda não sabemos o que vão fazer, mas interpretamos que nada do que sucedeu no passado pode ser tomado como base para projetar o futuro, o mundo moderno está acelerado e converge um hectare de terra em tecnologia, inovação e conhecimento”, afirmou.

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Em um documento contendo 19 páginas, o grupo técnico do setor agropecuário da equipe de Alberto de Fernández, presidente eleito, afirma que “todas as cadeias produtivas da Argentina Agroindustrial terão garantidas sua rentabilidade, sua capacidade de crescer e desenvolver-se e sua possibilidade de exportar”. No documento a equipe se compromete a que “não haverá medida econômica que afete a rentabilidade do setor”.

Com a promessa do presidente eleito de não repetir erros do passado, o setor de agronegócios aposta nas exportações para retomar o crescimento do país. “Hoje, somente em exportações de carnes temos cerca de US$ 2 bilhões de divisas que entram e não acredito que vão fechar as exportações porque vai contra o próprio País”, disse o produtor de gado de corte e de trigo, Guillermo Alstom , da Cabaña Alstom.

O produtor reconhece que há preocupação, mas acredita que Alberto Fernández sabe que o que ocorreu em 2006, com o fechamento das exportações de carne, “foi um capricho de Néstor Kirchner, mantido por Cristina, e apagaram a Argentina do mapa”.

O grupo [Benetton] está na Argentina desde 1983, e sempre investiu e cresceu, apostando no país, e pensamos que pode haver momentos difíceis, mas o importante é estar aberto ao diálogo"

Agustin Uriel Dranovsky

Com investimentos na Argentina em terras, lã e pecuária, o grupo estrangeiro Benetton tem uma perspectiva de poder manter a produção e, inclusive crescer, segundo o CEO Agustin Uriel Dranovsky. “Temos alguns projetos novos de investimentos, associados às linhas produtivas que temos, como a pecuária, o reflorestamento, a parte de caprinos, que é a mais importante, e nosso frigorifico”, anunciou sem falar em valores. Dranovsky disse que o grupo tem tido boa relação com os governos locais porque geram empregos.

“O grupo está na Argentina desde 1983, e sempre investiu e cresceu, apostando no país, e pensamos que pode haver momentos difíceis, mas o importante é estar aberto ao diálogo”, afirmou. O CEO somou-se ao coro de que o país necessita gerar exportações e é preciso apoiá-las de alguma maneira.

Para o empresário de tecnologia agrícola e produtor Gustavo Grobocopatel, o setor tem que estar ocupado e não se preocupar, porque a prioridade que o governo vai ter é a de encarar a situação econômica que é bastante complexa. “Sabemos que as reservas são limitadas, que o gasto é enorme e que os compromissos que tem que assumir com a dívida no próximo ano são muito importantes. A partir disso, tem que armar de novo uma agenda com todos os setores para ver como atender os compromissos internacionais, e por outro lado, como vamos manter a produção e o comércio exterior e como dar previsibilidade aos investidores”, explicou.

Estamos convencidos que seria um grave erro restringir as exportações, particularmente do setor agroindustrial, porque os únicos dólares que o País vai ter nos próximos anos vão estar vinculados com a exportação"

Gustavo Idígoras

Questionado se neste cenário tão complicado o mais natural seria aumentar os valores das retenções, Grobocopatel disse que se isso for feito, tem que ser de maneira estratégica. “Não pode ser sem olhar estratégico: agora temos retenções para economias regionais ou a produtos que não resistem pagar 4 pesos por dólar e, então, tem que ver de novo qual é a projeção de produção, de preços internacionais, mercado, produto por produto, região por região. Tem muito trabalho a ser feito”, afirmou o produtor. Segundo ele, os produtores querem participar da solução. “Esta é a nossa proposta”, disse.

Setor mais rentável do agronegócio da Argentina, a indústria de farelo e de óleos comestíveis considera que o entendimento neste momento é de que não há espaço para limitar a produção, muito menos as exportações. “Estamos convencidos que seria um grave erro restringir as exportações, particularmente do setor agroindustrial, porque os únicos dólares que o País vai ter nos próximos anos vão estar vinculados com a exportação”, vaticinou o presidente da Câmara da Indústria de Azeites da Argentina (CIARA), Gustavo Idígoras.

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Em coincidência com os analistas, ele disse que o País terá dificuldades de financiamento no mercado internacional e até conseguir uma renegociação com o Fundo Monetário Internacional (FMI) para estabilizar a economia. Vale ressaltar que a Argentina é líder em vendas de óleo de soja em segunda maior exportadora de farelo.

Neste contexto, Idígoras informou que até o momento, as conversas do setor com a equipe de Fernández têm indicado compromisso de não criar restrições às exportações.
Source: Rural

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