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Em 2003, o governo da Argentina tentou declarar o doce de leite como Patrimônio Cultural Nacional, mas o Uruguai solicitou à Unesco que o produto fosse declarado patrimônio gastronômico da região do Rio da Prata (Foto: Getty Images)

 

Os argentinos juram que o doce de leite foi inventado por eles. O relato mais conhecido que atesta a crença aparece no livro ‘La comida em la história argentina’, do escritor local Daniel Balmaceda. A lenda conta que foi no dia 24 de junho de 1829, na fazenda “El Pino”, do então governador da província de Buenos Aires, Juan Manuel de Rosas, onde se negociava o histórico Pacto de Cañuelas, para colocar fim à guerra civil no país. Naquela ocasião, a cozinheira de Rosas teria esquecido no fogo a panela onde esquentava o leite com açúcar para servir às visitas e acabou virando o doce de leite. Desde então, a pequena cidade de Cañuelas se tornou o berço da iguaria e os argentinos se gabam pela invenção.

Existem outras versões, segundo o historiador: uma delas envolve a escritora Victoria Ocampo, que ofereceu o doce para o diretor da orquestra russa Igor Stravinsky para impressioná-lo e ele teria dito que era um produto original de sua terra com o nome de “kajmak”. Já no livro Dulce de Leche. Una história uruguaya, o jornalista Leonardo Haberkorn escreve que a mágica redução açucarada de leite nasceu na Índia há milhares de anos. Outra versão afirma que a invenção veio do Sudeste Asiático, passando por Filipinas até chegar a Acapulco, no México. A autoria do invento é reclamada também pelo Uruguai, enquanto que para os brasileiros, o doce de leite nasceu mesmo em Minas Gerais.

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Em 2003, o governo da Argentina tentou declarar o doce de leite como Patrimônio Cultural Nacional, mas o Uruguai solicitou à Unesco que o produto fosse declarado patrimônio gastronômico da região do Rio da Prata. No Uruguai e na Argentina existem festivais nacionais em homenagem ao famoso doce.

“Ninguém sabe qual é a verdadeira história, mas aqui na Argentina, achamos que somos nós que inventamos”, afirmou o empresário Ernesto Rodrigues, dono da empresa Vacalin, responsável por 80% do fornecimento do doce de leite para a indústria de alimentos. Quase todos os alfajores fabricados no país levam o doce de leite da empresa dele: Havana, Cachafaz, Jorgito, Guaymallén, Terrabusi, Fantoche, Arcos, entre outros. Vacalin também fornece para a produção de sorvete de doce de leite, o sabor mais famoso e consumido no país, e oferece seu produto para o consumo familiar.

Produção argentina

Segundo o Centro de Indústria de Leite (CIL), no ano passado, a produção argentina foi de 149.621 toneladas de doce de leite. Deste volume, somente 3.297 toneladas foram exportadas. O restante foi destinado ao consumo doméstico. “Na última década, o consumo interno tem sido estável em torno de 3,3 quilos per capita/ano”, disse o presidente do CIL, Aníbal Schaller. De acordo com a Worldpanel Divisão da Kantar Argentina, o doce de leite é quarto item na compra de laticínios, atrás do leite, queijo e iogurte. “Ao longo do ano, 85% dos lares argentinos compram pelo menos seis vezes o equivalente a 600 gramas por vez”, disse a consultoria.

Ninguém sabe qual é a verdadeira história, mas aqui na Argentina, achamos que somos nós que inventamos (o doce de leite)”

Ernesto Rodrigues

Num mercado tão grande, há mais de 70 empresas argentinas, entre micros, médios e grandes empreendimentos, segundo dados oficiais de 2017. Entre elas, uma marca atípica que aposta no cara a cara com o consumidor. “Não queremos intermediários, tratamos de chegar diretamente ao consumidor através de um mercado próprio e já temos 30 lojas no país, com um crescimento de 30% por ano”, disse a dona da Luz Azul Lácteos, Gabriela Benac. Com uma produção diária de três mil quilos de doce de leite, a empresa chegou ao máximo da capacidade de produção.

Segundo Benac, o doce de leite argentino é o melhor do mundo porque tem um processo de fabricação muito polido, aperfeiçoado e, ao haver tanta concorrência, cada fabricante tem que melhorar no dia-a-dia. Sua empresa ainda está se posicionando no mercado e não aparece nos rankings das principais marcas. Mas espera a situação do país melhorar para realizar novos investimentos e ampliar sua produção.

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A Ilolay, segunda marca nas vendas de varejo, também opera ao limite. “Estamos com toda a capacidade instalada orientada para o mercado interno. Para poder exportar teria que ampliar a capacidade”, disse Rodolfo Galloni, gerente geral. Ele contou que a companhia produz 42 mil toneladas por ano e possui 14% do market share. “O mercado é maduro, muito automizado e vem com um crescimento vegetativo que não supera 2% a 3%”, afirmou. Conforme explicou, o primeiro lugar neste segmento de consumo familiar é da marca La Serenisima, com 25%%, em terceiro está a Sancor, com 8% e o restante está pulverizado entre as dezenas de fabricantes. Galloni também se gaba da qualidade do doce de leite argentino. “Já provei muitos doces e de diferentes lugares, mas o nosso é especial”, disse contando que, por três anos consecutivos ganhou o prêmio de melhor doce de leite.

Quem também espera melhor momento econômico do país para aumentar a produção é a Vacalin.  “A Argentina está difícil neste momento e é preciso passar esta temporada de crise, mas queremos ser uma multinacional e ter uma fábrica em cada país. Nossos planos são de abrir locais próprios na Espanha, Portugal e Itália, além do sul do Brasil e Nova Iorque, nos Estados Unidos”, contou Rodrigues, que, além da distribuição de sua marca nos grandes supermercados da Argentina possui 11 lojas próprias. Rodrigues enaltece a tradição familiar de laticínios: “No Brasil falta alguém que saiba fazer o verdadeiro doce de leite. Eu tenho 61 anos, somos fabricantes de toda a vida, estamos na quarta geração neste negócio”, afirma. Rodrigues é fabricante também de queijos, manteiga, creme de leite, leite em pó, manteiga e outros produtos derivados do leite. Ele acaba de inaugurar uma fábrica com capacidade para produzir 7 mil toneladas por mês e projeta destinar 25% de sua produção à exportação até 2023.

O mercado uruguaio está composto por várias empresas que elaboram o produto industrialmente e fazendas que o fazem de maneira artesanal (Foto: Getty Images)

 

Na região, quem concorre mesmo pelo posto do melhor doce de leite são os uruguaios e os argentinos. Conforme dados da consultoria ID Retail, no último ano, as vendas do produto aumentaram 5% e o consumo per capita anual é de 4 quilos. Quem comemora o volume é a Cooperativa Nacional de Productores de Leche (Cronapole), líder no país. Seu presidente, Álvaro Ambrois, comentou que o doce – também chamado na região de manjar – foi um dos primeiros subprodutos que elaboraram. O mercado uruguaio está composto por várias empresas que elaboram o produto industrialmente e fazendas que o fazem de maneira artesanal. O volume gira em torno de 5.000 ton/ano. As principais marcas são: Los Nietitos, Manjar (da Cronapole), Colonial e Lapataia. A cooperativa exporta para o Brasil, EUA e México.
Source: Rural

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