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 (Foto: Marcelo Curia/Ed. Globo)

O Carbono Zero, projeto-piloto da Natura que paga um valor anual por desmatamento evitado a produtores que praticam plantio sustentável de frutos amazônicos em Rondônia, terá um recuo neste ano por causa do aumento de desmatamento na região. O tamanho do recuo deve ser definido em reunião neste final de semana entre os cooperados da Reca (Reflorestamento Econômico Consorciado Adensado) e a empresa de cosméticos.

No primeiro pagamento, feito em 2016 e relatado em reportagem da revista Globo Rural, cada um dos 109 produtores cadastrados no projeto receberam em média R$ 5.560 pelo desmatamento evitado de 176 hectares no período de 2013 a 2015.

João Teixeira, coordenador de sustentabilidade da Natura, diz que o monitoramento prévio indica um crescimento preocupante no desmatamento nas propriedades monitoradas no ano passado. “Ainda não conseguimos identificar se o fogo veio do lote vizinho, se o vizinho entrou na área para colocar fogo ou se foi o próprio cooperado.”

Fábio Vailatti, coordenador de projetos da Reca, diz que o valor extra recebido pelos produtores no ano passado já foi menor, mas agora a queda deve ser acentuada porque alguns produtores desmataram além do previsto e devem deixar o projeto.

“Mesmo com os resultados excelentes do Carbono Zero, o desmatamento aumentou porque estamos sofrendo uma pressão muito intensa dos madeireiros e pecuaristas”, diz o coordenador, que também é produtor de cupuaçu, açaí, pupunha, castanhas, rambutam (fruta “cabeluda”) e café em uma chácara de 30 hectares em Nova Califórnia, um distrito de Porto Velho (RO). Quando comprou a propriedade, metade da área estava desmatada e ele iniciou um projeto de recuperação. Atualmente, a floresta já ocupa mais de 70% da chácara.

Vailatti conta que as queimadas na região se intensificaram nas últimas semanas. “Não temos números, mas, há muitos anos a gente não via tanta fumaça por aqui.” Segundo ele, o ciclo é sempre o mesmo: faz-se a retirada da madeira nobre, depois vem a queimada e, na sequência, a pecuária.

Como funciona

 

 

Os sítios e chácaras espalhadas pelos 5.000 hectares dos municípios de Rondônia, Acre e Amazônia atendidos pela Reca são mapeados e se compara a taxa de desmatamento das áreas de referência ao redor com a registrada no ano dentro das propriedades. Após monitoramento e auditorias, a Natura paga um valor pelo total de hectares em que o desmatamento foi evitado. Metade fica com a cooperativa e a outra metade é dividida entre os produtores, de acordo com a área preservada de cada um.

“Deixo a mata trabalhar por mim. Ganho dinheiro para deixar a floresta em pé”, disse o produtor de cupuaçu Gilberto Berger, após receber em 2016 um extra de R$ 11 mil pelo desmatamento evitado em seu sítio de 100 hectares, que tem mais floresta que plantação.

A Reca incentiva o plantio sustentável na região há 30 anos e tem sua sede em Nova Califórnia, distrito de Porto Velho (RO), localizado a poucos quilômetros das fronteiras do Amazonas, Acre e Bolívia.

A Natura, que, desde 2001, compra manteiga de cupuaçu dos produtores para fabricar sua linha de produtos baseadas em óleos e essências da floresta, iniciou o projeto de pagamento por serviços ambientais em 2013. O Carbono Zero tem a assistência técnica da ONG Idesan (Instituto de Conservação e Desenvolvimento Sustentável da Amazônia).

Fundo Amazônia

Vailatti lamenta o recuo nos resultados do Carbono Zero, justamente quando a Reca conseguiu concluir um projeto com uma verba de quase R$ 7 milhões vinda do Fundo Amazônia que triplicou a capacidade de beneficiamento da cooperativa para 3 milhões de quilos de cupuaçu por safra. Além disso, o dinheiro foi usado na capacitação dos agricultores e na implantação de mais 315 hectares de sistema agroflorestal.

Ele conta que a Reca se credenciou em dois novos editais do Fundo Amazônia, mas agora, com a suspensão das doações ao Fundo de Alemanha e Noruega, não sabe sequer se as propostas serão analisadas. “Temos sofrido muito com a desinformação e com a chuva de notícias preocupantes que chega sobre a nova política ambiental do governo.”

Pedro Soares, gerente do Programa de Mudanças Climáticas do Idesan, diz que, infelizmente, a política ambiental do governo Bolsonaro está queimando ativos ambientais que poderiam se tornar ativos comerciais. Segundo ele, nenhum projeto do instituto foi bloqueado no atual governo, mas um plano com outras organizações que previa fomentar a cadeia do café e guaraná na Amazônia não foi contratado, apesar de ter sido aprovado.

O Idesan, sediado em Manaus, trabalha em três frentes na floresta: em projetos de recuperação de áreas degradadas com plantio de café orgânico em sistema agroflorestal no município de Apuí, em integração lavoura-pecuária e em planos de manejo florestal e comercialização dos produtos da floresta junto com cooperativas, como a Reca. “O objetivo é achar estratégias para o desenvolvimento econômico da floresta em pé.”
Source: Rural

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