Skip to main content

(Foto: Raphael Salomão/Ed. Globo)

 

Os atuais preços do algodão devem desestimular o plantio e há possibilidade de a área ser menor na safra brasileira 2019/2020. A avaliação é de representantes da cotonicultura reunidos no 12º Congresso Brasileiro do Algodão. Há quem considere, a depender da situação, ser possível uma manutenção da área, mas, para as lideranças do setor, é difícil pensar em semeadura maior.

“A perspectiva é negativa. A baixa de preços é muito recente. Tomada que surja algum fato novo que melhore”, avalia o presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa), Milton Garbugio. Ele destaca que o mercado global tem sofrido os efeitos de fatores como a guerra comercial entre China e Estados Unidos e uma redução da demanda em nível global.

saiba mais

Abrapa quer ter pelo menos 95% da produção nacional certificada até 2020

Bayer decide rever calendário de lançamento de novo algodão transgênico

 

Segundo Garbugio, a Abrapa ainda não fez suas estimativas de plantio. A safra 2018/2019 está terminando e a situação é de indefinição. Ele calcula que há em torno de um terço da produção atual por vender e dois terços já vendidos foram negociados a preços em torno de US$ 0,70 por libra-peso.

Garbugio acha possível pelo menos manter a área na próxima safra, caso as cotações voltem a esse nível. “Mas ainda é cedo para avaliar. A safra que foi produzida vai pagar as contas. Não acredito em rentabilidade muito alta para o produtor. Será uma safra para cumprir compromissos.”

Na Bahia, estado segundo maior produtor do Brasil, a colheita 2018/2019 chegou a 75% da área, com produtividade estimada em 303 arrobas por hectare, diz o presidente da Associação Baiana de Produtores de Algodão (Abapa), Julio Cezar Busato. O rendimento é menor que o da safra passada – de 333 arrobas por hectare – mas deve ser compensado por um ganho de área de 25% na região.

Busato explica que a produtividade caiu por conta do clima, que foi mais seco em janeiro e fevereiro. “Depois veio uma chuva tardia no final de abril, causando apodrecimento de maçãs nas primeiras áreas plantadas.”

No mercado, diz ele, os preços recuaram para a faixa de US$ 0,52 a US$ 0,54 por libra-peso. Na mesma época no ano passado, estavam em US$ 0,76 e US$ 0,78. “Não existe razão para o preço cair do jeito que caiu”, afirma. “O consumo vinha subindo há quatro anos e a situação se inverteu, com produção maior. Não acredito que volte aos níveis de 2018, mas não cai mais que isso.”

A situação frustrou as expectativas. Inicialmente, a Abapa considerava possível uma expansão de até 20% na área para a próxima safra. Ainda não há uma estimativa por parte da entidade, mas Busato reconhece que o cenário hoje é bem diferente e não permite falar em plantio maior.

“Temos um problema na logística de insumos, como fertilizantes. É mais provável que caia”, diz ele, defendendo a manutenção e conquista de novos mercados, principalmente na Ásia para estimular o crescimento da cotonicultura nacional.

Arrumação

 

 

Para André Pessoa, sócio-diretor da Agroconsult, a cotonicultura brasileira está entrando em uma fase de arrumação depois do crescimento expressivo dos últimos anos. O desafio é consolidar o novo tamanho do Brasil no mercado e traçar estratégias que evitem uma retração, em meio a um cenário que tende a ser de preços mais baixos e de maior competição no mercado global.

Segundo Pessoa, o Brasil cresceu enquanto outros produtores de algodão recuaram. E conseguiu aproveitar a boa demanda da China, em meio à guerra comercial com os Estados Unidos. Mas, agora, mudou. Os Estados Unidos devem colher uma área maior e as expectativas de demanda global vêm sendo revisadas.

“A demanda não acompanha o crescimento da produção. Essa é, talvez, a principal preocupação. O desafio será entrar em um mercado que, se crescer, cresce pouco”, afirma Pessoa, que participou de plenária no Congresso. “O ideal seria exportar 2 milhões de toneladas”, avalia, falando em embarques de até 1,8 milhão.

O consultor diz que esperava uma queda de preços, mas reconhece alguma surpresa com as cotações internacionais abaixo de US$ 0,60 por libra-peso em Nova York. Ele avalia que o cenário indica valores em torno desse patamar. Se houver efeito positivo para o Brasil, pode ser nos prêmios, caso haja demanda maior pela pluma brasileira em função, principalmente, da guerra comercial China-EUA.

“A safra 2019/2020 tem preços mais baixos com tendência a não se recuperar. E com a queda de preços, o espaço para capturar margem fica comprometido”, destaca, pontuando que o custo não deve cair e o efeito da taxa de câmbio acima dos R$ 4 depende de como o produtor estruturou o seu endividamento.

Assim, André Pessoa reforça a ideia de que o mais provável é estabilidade para queda na área plantada com algodão no próximo ciclo no Brasil. Se houver aumento, não passa de 5%, chegando a 1,660 milhão de hectares. Mas é uma hipótese que, além de distante, não está associada ao mercado, mas a algumas empresas que ainda precisam consolidar investimentos feitos nos últimos anos.

 

Santa Colomba

Dona de 130 mil hectares de terras no Estado da Bahia, onde atua em diversas culturas, a empresa Santa Colomba não planeja mudança de rumo, apesar da situação do mercado. Na safra 2018/2019, plantou 2 mil hectares de algodão, commodity que responde por 20% do faturamento. Foi a primeira safra da pluma cultivada pela empresa, com uma produtividade média estimada em 300 arrobas por hectare.

No ciclo 2019/2020, o plano é semear 5 mil hectares. O CEO da empresa, Arlindo Moura, que já foi presidente da Abrapa em gestões anteriores, reconhece que o mercado não favorece um aumento de plantio. E também destaca a influência da guerra comercial entre China e Estados Unidos sobre os preços internacionais.

Em fevereiro, diz ele, a Santa Colomba vendeu um terço de sua produção de algodão a um preço médio de US$ 0,76 por libra-peso. Um bom negócio, se considerar que o preço de equilíbrio para a empresa é US$ 0,54, base Nova York.

A decisão de aumentar a área com algodão, explica Moura, está baseada no fato da empresa ter mais áreas abertas, o que, de acordo com ele, é feito à medida que saem as licenças ambientais. Além disso, 1,8 mil hectares antes plantados com café serão convertidos em lavouras da pluma. A meta de produtividade é de 320 arrobas por hectare.

No ano que vem, a Santa Colomba passará também a beneficiar seu algodão. Arlindo Moura conta que foi encomendada uma algodoeira importada dos Estados Unidos, com entrada em operação prevista para julho de 2020. Ele garante que atenderá a demanda atual e tem capacidade para produções futuras ainda maiores.

O plano é chegar a 15 mil hectares de algodão nos próximos cinco anos. “Nossos planos são de longo prazo. Algumas coisas, temos que superar no caminho, mas não vamos mudar de rumo”, garante o CEO da empresa.

*O repórter viajou a convite da Abrapa
Source: Rural

Leave a Reply