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A desvalorização do café no mercado internacional está ligada a uma percepção de ampla oferta (Foto: Divulgação/Grupo Montesanto Tavares)

 

A desvalorização do café no mercado internacional está ligada a uma percepção de ampla oferta, vinda, especialmente, dos três maiores produtores mundiais da commodity: Brasil, Vietnã e Colômbia. Uma situação que tende a ser manter a não ser que haja algum problema climático em originadores do produto. A avaliação foi feita nesta quarta-feira (29/5) pelo analista de inteligência de mercado da INTL FC Stone, Fernando Maximiliano, durante o 8º Coffee Dinner & Summit, promovido pelo CeCafé, em São Paulo (SP).

“O fundamento diz que os preços não vão se sustentar. O mercado está confortável, com o sentimento de que existe uma ampla oferta de café e que essa ampla oferta vai continuar”, afirmou o analista. A posição vendida dos fundos nas bolsas e a oscilação do dólar ajudam a reforçar o cenário baixista para as cotações internacionais, que, em Nova York, vêm se mantendo abaixo de US$ 1 por libra-peso nos principais contratos de café arábica negociados.

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Maximiliano destacou que a produção brasileira de café tem sido volumosa mesmo em anos de bienalidade negativa, quando a colheita é menor. De acordo com o analista, os rendimentos têm sido motivados pela maior aplicação de tecnologia nas lavouras e por uma renovação dos cafezais a uma taxa média de 6,7% ao ano. A produtividade tem crescido, em média, 1,6% ao ano. A estimativa da INTL FC Stone para a produção brasileira neste ano é de 53 milhões de sacas, sendo 36,9 milhões da variedade arábica e 16,1 milhões de conilon.

No Vietnã, segundo maior fornecedor global e com produção concentrada no robusta, a produção também vem aumentando. Lá, o governo anunciou um programa de incentivo a boas práticas agronômicas, com efeitos positivos sobre a produtividade dos cafezais. Só neste ano, a produção vietnamita é estimada em 30,3 milhões de sacas, disse o analista, citando o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA).

Na Colômbia, terceiro maior produtor global, o aumento da produção foi motivado pela renovação do parque cafeeiro incentivada pelo governo. Fernando Maximiliano lembrou que a expectativa para este ano é de 14,3 milhões de sacas de 60 quilos no país, quase o dobro em relação a dez anos atrás, quando começou o processo de melhoria do parque cafeeiro.

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A partir dessa renovação dos cafezais, há uma expectativa da produção colombiana chegar a 18 milhões de sacas nos próximos anos, disse ele. Mas vai depender dos preços, que, em algumas regiões do país, já não cobrem mais o custo de produção. Tanto que, recentemente, representantes da cafeicultura colombiana cogitaram deixar de referenciar o café no contrato C, negociado na Bolsa de Nova York.

O aumento nos volumes nos principais fornecedores globais gerou estoques em patamares elevados no final da safra 2018/2019, lembrou o analista da INTL FC Stone. E a relação entre o estoque e o consumo está em elevação, sinalizando que a oferta tem crescido mais rápido que a demanda por café. Daí vem a percepção de uma ampla oferta no mercado global.

“Aqui no Brasil, os preços não estão favoráveis. Não estamos vendo negócios e o preço está chegando próximo do custo de produção para algumas regiões, mas aqui no Brasil ainda não está feio como está lá fora. Se a gente olha a Colômbia, o preços do café já não cobre o custo de produção. No Vietnã, os preços estão historicamente baixos”, afirmou.

Demanda

Do lado da demanda, Fernando Maximiliano avaliou que não houve um grande movimento até agora. Nem mesmo da Ásia, onde se concentra a maior expectativa de expansão do mercado de café em escala global. O continente europeu, os Estados Unidos e o Brasil são os maiores consumidores globais, sendo o Brasil o único entre os grandes exportadores de café com influência significativa no consumo global da bebida.

Na América do Norte, o aumento da demanda nos último cinco anos tem sido de 2,3% ao ano. Na Europa, esse aumento tem sido de 1,1% no período. Já na América Latina, incluindo o Brasil, tem sido de 2,1%. No continente africano, a demanda tem crescido mais. Porém a região ainda é considerada pouco representativa no mercado global. Já na Ásia e Oceania, as taxas de crescimento no consumo têm sido de 4,5% ao ano, principalmente na China.

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Mas ainda é pouco. Segundo Maximiliano, o consumo chinês está em torno de 180 gramas per capita ao ano enquanto no Brasil, gira em torno de 6,6 quilos por ano. Se os chineses passassem a tomar um quilo de café por ano, o consumo local seria de 23 milhões de sacas, considerando a população atual.

“Se isso acontecer, acabou a superoferta de café e o mercado muda totalmente. A China pode ser uma bomba em termos de consumo de café. Pode começar a consumir café de forma tão grande como aconteceu com o consumo de grãos”, disse.

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Source: Rural

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