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Equipe para em aldeia para conversar com indígenas (Foto: Fernando Martinho/Ed.Globo)

 

Após uma noite no clima agradável de Chapada dos Guimarães, a equipe de reportagem da Globo Rural partiu em direção a Barra do Garças, a 453 quilômetros de distância do último destino. Mas não sem antes ver a paisagem do alto da Chapada, do centro de observação localizado no ponto geodésico do Continente, o local a partir do qual há uma distância equidistante entre os oceanos Atlântico e Pacífico.

Logo ao deixar o Parque Nacional, plantações de soja e milho dominam a paisagem da BR-070, por 176 quilômetros até a cidade de Primavera do Leste. Ao longo desse trecho é possível encontrar muitos silos de estocagem de grãos também, como um silo novinho sendo finalizado pela Agrícola Alvorada, no quilômetro 373. E instalações de grande porte, como os silos da Cooperbem.

Selfie do reencontro da equipe. (Foto: Fernando Martinho/Ed.Globo)

 

Em Primavera do Leste também reencontramos com o instrutor de direção da Scania, Aylon Santos, que teve de retornar a Cuiabá no dia anterior após ter sido barrado na serra da Chapada dos Guimarães, devido ao porte do caminhão de reportagem.

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Após o almoço, seguimos novamente pela estrada, com um novo objetivo: visitar uma aldeia da terra indígena Sangradouro, a 50 quilômetros de onde almoçamos.

Com o fim das plantações de soja e milho, a paisagem vai ganhando os traços da vegetação do Cerrado brasileiro, protegido pelas reservas indígenas. O cacique Alexandre estava em reunião em Barra do Graças, mas quem nos recebeu na aldeia xavante foi Fábio Tsitobrowe, presidente do Conselho Distrital de Saúde Indígena.

Aos 11 anos, Fábio foi morar em Curitiba, onde passou dez anos estudando. Hoje, aos 42 anos, ele defende que o índio deveria ter direito a plantar em sua reserva, garantindo a preservação ambiental e a sua própria cultura. A plantação poderia ser feita em 10% dos 116 mil hectares de reserva, garantindo muita área preservada.

 

  

Ele, no entanto, é contra a posição do governo que pretende aprovar o arrendamento de terras dos índios. “Nós nunca vamos perder a nossa cultura. Veja se os índios Parecis perderam a sua cultura”, diz, em referência ao grupo indígena que está plantando soja em Mato Grosso.

+ Índios paresi plantam soja em Mato Grosso

“Eu penso que, prá mim, não é bom arrendar. Eu gostaria de parceria com amigos, com fazendeiros, trabalhar junto. E sem desmatar tudo. Seria bom para a comunidade que vive aqui. Não adianta desmatar tudo. O certo mesmo é parceria”, afirma ele, que pede ajuda do governo para que a comunidade possa aprender a plantar.

Caminhão da série pronto para seguir viagem.  (Foto: Fernando Martinho/Ed.Globo)

 

Os 2,5 mil índios da reserva vivem em situação de miséria, há índios pedindo dinheiro nas esquinas de Primavera do Leste, conta Fábio. Com o dinheiro da plantação, Fábio acredita que haveria dinheiro para cuidar da saúde do seu povo. Segundo ele, nas décadas de 1970 e 1980, a comunidade tinha plantação de arroz e outros cultivos, mas a iniciativa foi sendo desmobilizada.

“Hoje quem manda mesmo é o dinheiro. Prefiro trabalhar e correr atrás porque não dá para ficar parado. Tem índio formado em enfermeiro. Não adianta ficar parado esperando acontecer. Eu vou morrer como índio, mas é preciso saber produzir as coisas.” 

“Meu principal sonho é que a gente tenha o próprio recurso. Como eu trabalho na área de saúde, se a gente produzisse e desse R$ 120 milhões por ano, R$ 50 milhões ficaria no cofre para comprar remédio e pagar cirurgia. A vida vai melhorar. Estamos sem água, as crianças pegam lá embaixo (no rio). Penso no futuro melhor para os indígenas também.”

Enquanto conversávamos, as crianças jogavam bola e olhavam curiosos para o equipamento do fotógrafo Fernando Martinho. Desde pequenos, eles aprendem a língua xavante e o português. Fábio tem oito filhos, o mais velho roda 50 quilômetros para estudar em Primavera do Leste. E chega meia noite na aldeia. Enquanto isso, a curiosidade da garotada menor cresceu quando Martinho fez decolar o seu drone na aldeia.

Com um presente de Fábio, uma corda branca com uma pena de gavião que é usada para harmonizar as amizades e abrir caminhos, deixamos a aldeia para retornar à BR-070. Próximo ao quilômetro 44, a estrada, que até então estava perfeita tanto no asfalto quanto na sinalização, tem uma subida piora, com buracos e sem sinalização, situação que permaneceu até Barra do Garça.

 

  

 

 
Source: Rural

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