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Público visita a Agrishow, em Ribeirão Preto (SP) (Foto: Joel Silva/Ed. Globo)

 

Depois de três dias de feira, a organização da Agrishow mantém o otimismo em relação aos resultados e reafirma a expectativa inicial de um crescimento de até 10% no volume de negócios. Expositores também reforçam a avaliação positiva e dizem ter percebido uma movimentação maior nos estandes.

Os números oficiais da feira deste ano devem ser anunciados na sexta-feira (3/5), mas a edição de 2018 fechou com R$ 2,7 bilhões em negócios. Se confirmadas as previsões, o montante de 2019 pode chegar a R$ 3 bilhões. O ambiente de negócios tem sido visto como positivo, mesmo considerando os problemas relacionados à disponibilidade de recursos para o Moderfrota, principal linha de crédito direcionado para máquinas e equipamentos agrícolas no Brasil.

A ministra da Agricultura, Tereza Cristina, anunciou na segunda um aporte adicional de R$ 500 milhões para programa. O valor ficou bem abaixo da demanda da indústria, mas foi “uma boa surpresa”, na avaliação do presidente da Agrishow, Francisco Matturro. 

O anúncio antecipado do Plano Safra reduziria a ansiedade do produtor rural e o otimismo se confirmaria"

Rodrigo Bonato, da John Deere

Segundo ele, o volume de crédito que sai do Tesouro Nacional é bem pequeno diante do total de financiamentos feitos pelo setor agropecuário. “Na verdade, esse recurso oficial só baliza as taxas que serão cobradas pelas instituições bancárias. É preciso lembrar ainda que o risco para o governo no financiamento é zero. Quem fica com todo o risco é agente financeiro que repassa ao produtor os recursos liberados pelo BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social).”

Instituições financeiras

Na falta dos recursos oficiais, outras instituições financeiras colocam suas condições de financiamento para o produtor, com ofertas que vão desde juros reduzidos (ainda que superiores aos do BNDES) a isenção de taxas. O Santander, por exemplo, anunciou uma linha de R$ 1 bilhão em crédito pré-aprovado para um determinado número de clientes.

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As financeiras ligadas às montadoras também acenam com condições especiais para o produtor rural na Agrishow. O Banco CNH Industrial está com uma linha de CDC que promete carência de até 14 meses para iniciar a quitação das parcelas. A taxa de juros nessa linha é de 7,5%, como a do Moderfrota. O que muda é o prazo de pagamento, que é de cinco anos.

O diretor Comercial, de Marketing e Seguros da instituição, Marcio Contreras, garante que há casos em que o financiamento é aprovado em até 24 horas. “Eu diria que o movimento está até melhor que o esperado, apesar da incerteza em relação ao crédito. Estamos conseguindo aprovar financiamentos durante a feira”, afirma.

Houve quem conseguisse negociar com o crédito oficial. A fabricante Kuhn informou ter fechado já no segundo dia da feira a venda de um pulverizador autopropelido e duas plantadeiras no valor total de R$ 1,6 milhão. De acordo com a empresa, a proposta de financiamento foi aprovada em menos de duas horas pela financeira do fabricante. 

“Trabalhamos com agilidade e menos burocracia para oferecer soluções a nossos parceiros e garantir bons negócios”, diz o gerente comercial do Kuhn Finance, o banco do fabricante, Eduardo Thomé, em comunicado.

A indústria de máquinas tem um ciclo muito longo. É uma cadeia longa para se chegar no produto final"

Christian Gonzales, da Case

AutorAinda que tenha alternativas, há quem diga que a participação do financiamento oficial no mercado de máquinas é importante. O vice-presidente da Case IH para a América do Sul, Christian Gonzales, lembra que o custo do financiamento é importante quando se trata de investimentos em bens de capital, que é de longo prazo. E, mesmo com uma taxa Selic de 6,5% ao ano, o spread bancário (diferença entre a taxa que o banco cobra do empréstimo e a que paga para captar recurso) é alto.

“As taxas efetivas no mercado estão altas. Se o governo não entra, tem um impacto. O custo do produtor ao financiar uma máquina de R$ 500 mil ou R$ 1 milhão com juros de 11% aumenta muito. Ele acaba não investindo. O governo entende isso e realmente tem que dar uma contribuição. Isso é o Moderfrota, no final”, diz ele.

Sem soluços

O executivo da indústria de máquinas e equipamentos avalia que é importante não haver o que chama de “soluços” no crédito para o setor. Segundo Gonzales, essa incerteza inibe a decisão de negócios do produtor rural e interfere no planejamento de produção de toda a cadeia produtiva.

“Avisei seis meses antes ‘olha, a partir desse dia, acaba esse crédito e entra esse novo, acaba essa taxa e entra essa nova’. Todo mundo se planeja. A indústria de máquinas tem um ciclo muito longo. É uma cadeia longa para se chegar no produto final. E depois eu tenho que faturar para a concessionária. Se eu paro o sistema, isso cria grandes problemas”, diz Gonzales.

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Eduardo Nunes, diretor de vendas da Massey Ferguson, concorda que o agronegócio brasileiro está estruturado em torno das linhas de crédito do BNDES e não pode haver mudança nessa política sem uma transição para não perder a competitividade. Ele disse que, assim que a ministra Tereza Cristina anunciou o aporte para o Moderfrota, muitos produtores foram ao estande protocolar pedidos represados desde março, quando os recursos subsidiados começaram a faltar.

Rafael Mioto, vice-presidente para a América Latina da New Holland, afirma que a agricultura brasileira não está preparada para trabalhar sem subsídios. O diretor de Mercado Brasil da marca, Alexandre Blasi, acrescenta que os subsídios são fundamentais para o setor continuar a ser o propulsor do PIB brasileiro. Segundo ele, apenas 3% da porcentagem da renda dos agricultores brasileiros é proveniente de apoio direto do governo, ante os 5% de produtores russos, 15% dos chineses, 17% dos americanos e 34% dos europeus.

Questionado se prefere um Plano Safra com mais recursos e juros maiores ou o contrário, Mioto afirmou preferir mais disponibilidade de dinheiro para financiamentos, desde que haja previsibilidade. "É preciso saber qual é a real taxa de juros ao longo dos sete anos de financiamento."

Visitante fotografa máquina na Agrishow 2019 (Foto: Joel Silva/Ed. Globo)

 

 

 

Em entrevista coletiva, o diretor de vendas da John Deere, Rodrigo Bonato, se disse confiante em relação ao Plano Agrícola e Pecuário 2019/2020. "O anúncio do plano de forma antecipada reduziria a ansiedade do produtor rural e o otimismo se confirmaria”, disse. “Hoje o Brasil é o país mais bem posicionado para explorar a agricultura. O trabalho conjunto do governo, indústria e agricultor permite ao país continuar a se desenvolver”, acrescentou o diretor de marketing da John Deere para América Latina, Antonio Carrere.

Cooperativas

Manfred Dasembrock, presidente da central do Sicredi PR-SP-RJ, sistema de cooperativas de crédito, vai além. Para ele, o setor não precisa lutar por Plano Safra. "Temos que lutar é por política agrícola, para que não haja rupturas." Ele concorda que os subsídios, que já são poucos, devem ser mantidos, porque o custo Brasil é muito alto. Mas garante que o sistema financeiro pode encontrar uma alternativa, desde que a inflação permaneça controlada e os juros, baixos.

Segundo o executivo, as sinalizações do governo de mudança no crédito rural não devem atingir o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf), público-alvo do Sicredi. O sistema 116 cooperativas. Na Agrishow, o Sicredi formalizou a parceria com o hub de inovação Agtech Garage, localizado no chamado Vale do Silício brasileiro, em Piracicaba (SP). O objetivo do hub é promover a conexão entre produtores rurais, startups e instituições de ensino para desenvolver soluções inovadoras para o agronegócio.

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Para Walmir Segatto, presidente da cooperativa de crédito Credicitrus, instituição que tem 93 mil cooperados e 65 agências no Estado de São Paulo e no Triângulo Mineiro, o crédito oficial ainda é o principal recurso da safra brasileira. “O Plano Safra pode sofrer mudanças em seu formato, mas tem que ser temporal, ou seja, sair na hora certa para o produtor planejar sua safra. Se sair em novembro, por exemplo, a vaca já foi pro brejo.”

Segatto diz que, cerca de 50% dos financiamentos agrícolas efetivados pela Credicitrus usam o dinheiro subsidiado do Tesouro Nacional. A instituição financeira integra o sistema Sicoob, formado por mais de 450 cooperativas de crédito.

Pronaf médio

Em visita a Agrishow, o deputado federal e presidente da FPA (Frente Parlamentar da Agropecuária), Alceu Moreira, disse que o próximo Plano Safra, que será divulgado em 12 de junho, deve estender as políticas de crédito rural com juros mais baixos para os médios produtores, que ele prefere chamar de médios proprietários. Atualmente, os menores juros do crédito oficial são destinados ao Pronaf.

Precisamos ter mais concorrentes internacionais oferecendo crédito e acabar com o arcabouço legislativo demagógico que protege os caloteirosigite a frase"

Ricardo Salles, ministro do Meio Ambiente

“Será uma espécie de Pronaf para os médios produtores porque nós estamos perdendo milhões de toneladas que eles poderiam produzir se tivessem assistência e verba adequadas. O objetivo é que os pequenos e médios possam ter condições de atingir o mesmo nível de produtividade dos grandes.”

Moreira afirmou que não vai faltar crédito para os grandes produtores porque, como eles oferecem risco pequeno, têm acesso a juros mais baixos em qualquer instituição bancária. Na opinião do deputado, a agricultura brasileira não tem que ser viabilizada pelo crédito. “O Estado precisa cobrar menos da agricultura. Não dá para pagar 34% de tributo. É preciso tirar o sócio oculto do processo para viabilizar a propriedade e gerar renda ao produtor. Aí, um dia ele não vai precisar de financiamento.”

Já o ministro Ricardo Salles, em passagem pela feira, disse que diante da falta de recursos do governo, a questão do crédito rural tem que passar por novas linhas de financiamento que substituam os juros subsidiados. Para isso, segundo ele, é necessário ter mais concorrentes internacionais oferecendo crédito. Outra medida para diminuir os juros do crédito agrícola seria acabar com o "arcabouço legislativo demagógico que protege os caloteiros no país".

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Source: Rural

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