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Bolsonaro e primeiro-ministro de Israel Benjamin Netanyahu (Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil)

 

O Brasil precisa agir rápido e ser mais claro para não perder mercado nos países árabes, avalia Ali Saif o presidente da Cdial Halal, empresa sediada em São Bernardo do Campo (SP) que certifica a produção conforme os preceitos da religião muçulmana. Para ele, os sinais emitidos pelo governo na recente missão oficial a Israel causaram má impressão.

Um desses “sinais” negativos, na visão do empresário, é o fato do presidente Jair Bolsonaro ter visitado Jerusalém e não ter se encontrado com representantes do lado palestino. Outro é a criação de um escritório comercial em Jerusalém, alternativa adotada pelo governo brasileiro à transferência da Embaixada em Israel de Tel Aviv para Jerusalém.

“Foram sinais que desagradaram. Mas ainda dá tempo de corrigir e mandar mensagens positivas. A questão é de urgência. Qual é o movimento que o governo brasileiro fará para reverter isso? Tem que ser algo ministerial, de governo para governo”, questiona, argumentando que o Brasil pode e deve ter boas relações com todos.

A maior aproximação do Brasil com Israel vem sendo defendida pelo atual governo desde a campanha eleitoral e foi reforçada nesse início de mandato. O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu esteve no Brasil para a posse de Jair Bolsonaro, que retribuiu a visita nesta semana. Na viagem a Jerusalém, a promessa de transferir a sede da embaixada brasileira acabou não sendo cumprida. Mesmo assim, abrir uma representação comercial não agradou o mundo árabe.

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“O que tenho sentido é uma preocupação com o Brasil em relação ao posicionamento do governo. Há incerteza sobre investimentos. Estou sabendo de empresas que já foram buscar frango na Argentina”, diz Ali Saif, sem citar nomes de empresas.

Atualmente, o Brasil é o maior fornecedor mundial de proteína halal e há quem veja risco de perda de participação no mercado árabe de forma geral e halal, em particular, a depender de como ficar a relação com esses países. Saif é uma dessas pessoas. Como certificadora de produtos, a Cdial Halal acompanha o movimento comercial. Se está mais aquecido, a demanda por certificação aumenta, e vice-versa.

O empresário se apoia nos números para reforçar a importância da situação. Citando dados atribuídos ao Centro de Desenvolvimento de Economia Islâmica de Dubai, nos Emirados Árabes, informa que o consumo global de produtos halal foi de US$ 2,1 trilhões em 2017. Os alimentos responderam por US$ 1,3 trilhão. Até 2023, pode chegar a US$ 1,9 trilhão.

“O Brasil é o maior exportador de alimentos halal do mundo. Está estruturado para atender esse mercado. Abrir mão seria desperdiçar investimentos e energia. Qualquer 10% que se perde é muito. E quem não está preparado para fornecer hoje pode estar amanhã”, alerta Saif.

Encontro

O movimento do governo Bolsonaro em direção a Tel Aviv acendeu o sinal de alerta no agronegócio. Especialmente a indústria de carnes, que tem nos árabes importantes clientes. Em 2018, o Brasil exportou 4,017 milhões de toneladas de carne de frango, segundo dados do Ministério da Agricultura. Do total, 1,44 milhão foram para os países árabes, 35,8% do volume.

Nos dois primeiros meses deste ano, foram embarcadas 598,7 mil toneladas do produto, conforme a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), que representa a indústria nacional de frango. A Arábia Saudita, que em janeiro descredenciou plantas frigoríficas brasileiras, recebeu 12,8% do volume, participação maior do que a da China no período.

Em 2018, Brasil exportou 4,017 milhões de toneladas de carne de frango, dos quais 35,8% foram para os países árabes. (Foto: Fabiano Accorsi/Ed. Globo)

A própria ministra da Agricultura, Tereza Cristina, reconheceu por diversas vezes que há preocupações no setor. No próximo dia 10 de abril, ela tem uma reunião com representações diplomáticas dos países árabes, na sede da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA). A promessa do governo é de uma “conversa franca” com os embaixadores.

Em nota divulgada pelo Ministério da Agricultura, no início desta semana, a ministra afirmou que o escritório comercial em Jerusalém é um “meio-termo”. Admitiu que a decisão desagradou, mas garantiu que o Brasil é amigo de todos os países árabes e que a intenção é fazer a relação comercial crescer e se manter robusta.

Para Ali Saif, da Cdial Halal, o encontro será importante para o Brasil deixar claro o que pretende. O empresário é elogioso em relação à ministra e lembra que ela teve o respaldo do setor agropecuário ao ser nomeada para compor o primeiro escalão do governo Bolsonaro.

“A ministra está fazendo o possível, mas alguma coisa não está batendo. Ela tem a energia e capacidade necessárias, mas é preciso saber se ela consegue convencer o restante do governo. Espero que consiga dar um passo a mais, já que tem o respeito do setor”, diz o presidente da Cdial Halal.

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Source: Rural

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