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A soja deve ser um dos primeiros produtos agrícolas a sofrer os efeitos de um acordo entre EUA e China (Foto: Ernesto de Souza/ Ed. Globo)

 

A China estaria propondo aos Estados Unidos um adicional de US$ 30 bilhões anuais em compras de produtos agrícolas, como parte de um acordo comercial bilateral. A informação foi divulgada pela agência Bloomberg. A proposta envolveria itens como soja, milho e trigo e seria parte de um memorando de entendimento relacionado às discussões comerciais blaterais, informa a publicação baseada em "pessoas com conhecimento do plano".

Ainda conforme a Bloomberg, o secretário de Agricultura dos Estados Unidos, Sonny Perdue, disse ser prematuro fazer qualquer comentário a respeito do assunto ou do quanto a China poderia comprar de produtos agrícolas como parte de um acordo comercial. “Não quero criar expectativas”, disse, durante a conferência do USDA sobre perspectivas para agricultura.

“Se este volume for anunciado, é algo muito grande. Desde o primeiro momento, quando esse negócio surgiu, o que me preocupa é o acordo que pode sair”, analisa o CEO da Aliança Agro Ásia-Brasil, Marcos Jank, em entrevista a Globo Rural.

Para Jank, o impacto sobre o Brasil seria direto. Os US$ 30 bilhões equivalem a quase tudo que o Brasil exportou para a China em produtos agropecuários no ano passado. De acordo com dados do Ministério da Agricultura, as vendas para o mercado chinês totalizaram US$ 35,5 bilhões.

“Se o valor for esse mesmo, não tem como acontecer esse acordo a não ser em detrimento do Brasil. E o primeiro produto em que eles recuperariam share é a soja. Depois vem o milho, que um produto que o Brasil não exporta para a China, mas poderia estar exportando. Tem que pensar muito em como o Brasil vai agir se houver um acordo”, pontua.

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Em relação à soja, especificamente, Jank pondera que perder espaço na China não é “de todo ruim”, embora se trate do principal destino para o grão brasileiro. Ele lembra que, em função da guerra comercial, o Brasil aumentou suas vendas para o país asiático, mas vendeu menos para outros mercados, espaço que acabou sendo ocupado pelos americanos.

A preocupação maior estaria no complexo carnes. Uma compensação da China para os Estados Unidos geraria uma concorrência em um mercado onde, nas palavras do CEO da Aliança Agro Ásia Brasil, o Brasil navega praticamente sozinho.

A China, lembra ele, chegou a abrir o mercado de carne bovina para os americanos no ano passado. Mas a maior parte das compras foram do produto originário do Brasil e da Austrália.

“Se os americanos entrarem com força no mercado da China, tanto com carne bovina quanto de aves, certamente terá um impacto no Brasil, mas acredito que ainda é muito cedo para avaliar, hoje, em que áreas esse impacto vai se dar. O que dá para dizer é que os volumes são altos”, diz Jank.

OMC

Estados Unidos e China têm até 1º de março para apresentar uma solução para a disputa comercial. A data foi estabelecida em uma “trégua” de 90 dias acordada entre os dos países, que se comprometeram a não adotar novas sanções nesse período. O comércio agrícola é parte de uma ampla negociação que envolve questões como propriedade intelectual e alta tecnologia. Nesta semana, o presidente dos Estados Unidos, Donald  Trump, afirmou que 1º de março não pode ser considerado uma “data mágica” para um acordo com os chineses.

Para Marcos Jank, é preciso saber como esse acordo será fechado em relação às regras da Organização Mundial do Comércio (OMC). Ele pontua que um dos princípios básicos é o da chamada nação mais favorecida: o que um país aplica para um dos parceiros no âmbito da instituição multilateral deve valer a todos os demais.

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Ele não acredita que americanos e chineses farão um acordo fora das regras da OMC. Sendo assim, a questão seria como estabelecer, dentro dessas normas, a preferência de compras de produtos agropecuários dos americanos por parte dos chineses com um valor tão grande.

“De um ano para cá, o Brasil vendeu mais para a China porque a China impôs uma tarifa aos Estados Unidos. Deu preferência, alegando que estava retaliando os americanos. Agora como vai chegar e dizer que vai dar preferência aos Estados Unidos se não houve nada com o Brasil?”, questiona.

Jank ressalta que ainda não é possível entender como essas preferências seriam colocadas em prática. Especula que a solução poderia estar nas empresas estatais chinesas.

“Como, na China, você tem grandes empresas estatais que compram quase tudo de fora, isso pode vir no formato de uma ordem para essas empresas darem preferência aos Estados Unidos”, diz o CEO da Aliança Agro Ásia Brasil.

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Source: Rural

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