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Yacouba Sawadogo, agricultor de Burkina Faso (Foto: Reprodução/YouTube Global Landscapes Forum – GLF)

 

Yacouba Sawadogo, de Burkina Faso – um homem sobre o qual provavelmente você nunca ouviu falar –, é proveniente de um país que se dilui no imaginário das agruras africanas. Mas o que ele tem de importância? Yacouba nasceu em algum momento por volta de 1946. É uma precisão que basta para os padrões tribais africanos da época. Obteve uma formação escolar básica, mas sua aptidão inata era a agricultura.

Burkina Faso é um pequeno país onde se aglomeram cerca de 19 milhões de habitantes que comem lagartas de árvores para suprir a demanda de proteína (elas têm 63% de proteína!) e veneram crocodilos, porque reza uma lenda local que eles permitiram que uma dona de casa pegasse água em um lago durante uma das secas monumentais da região.

Luiz JosahKhian (Foto: Divulgação/ABCZ)

Quando a pequena região onde Yacouba vivia foi dizimada, em 1980, por uma seca assoladora, a população local migrou para as cidades em busca de sobrevivência. Yacouba, não. Ele encarou o desafio de plantar no deserto e protagonizou uma das maiores histórias de sucesso ecológico da África.

Yacouba não descobriu nenhum fertilizante milagroso, não inventou nenhum equipamento high-tech e nem pesquisou novas variedades de plantas adaptadas. Ele simplesmente resgatou e combinou técnicas seculares de seu próprio povo e as colocou em prática novamente.

Foi considerado louco por acreditar que o deserto floresceria com sua tecnologia indígena e teve suas primeiras lavouras e plantios de árvores queimados pelos habitantes remanescentes. Persistiu e alcançou seus objetivos. A esta altura, você deve estar se perguntando: mas como?

Yacouba reuniu basicamente duas técnicas. Uma delas é conhecida com o nome de zaï, que são buracos cavados a intervalos regulares e próximos. Os zaïs têm duas funções: ao serem preenchidos com fertilizantes naturais, recuperam o solo, permitindo o plantio, e, durante os breves períodos de chuva, armazenam e redistribuem a água.

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A outra técnica é a construção de barreiras de pedras do tamanho de um punho ao longo e por toda a área a ser plantada. Elas ajudam a retardar o escoamento de água durante a chuva, evitando a erosão e, por consequência, ajudando o solo a absorver mais água e reter nutrientes. Além disso, durante a noite, ajudam a reter o orvalho e umedecer a terra. Simples, mas só até que alguém o faça sistematica e ininterruptamente.

Yacouba transformou uma região totalmente desertificada entre Burkina Faso e o Níger em uma floresta de 40 hectares com mais de 60 espécies de árvores perenes, além do cultivo de pasto, milho e sorgo, produção de mel e frutas.

Muitos especialistas em meio ambiente africano são categóricos em reconhecer que Yacouba fez mais pela África agrícola que todos os esforços mundiais em conjunto. No ano passado, ele foi agraciado com o prêmio Right Livelihood Award 2018, conhecido como Nobel Alternativo, concedido pela Right Livelihood Award Foundation, uma entidade independente, apartidária e não ideológica com sede em Estocolmo, na Suécia, que apoia pessoas e organizações que desenvolvem soluções para questões globais.

O prêmio o consagrou “por transformar terra árida em floresta e demonstrar como os agricultores podem regenerar seu solo com o uso inovador do conhecimento local e indígena”.

*Luiz Josahkian é zootecnista, especialista em produção de ruminantes e professor de melhoramento genético, além de superintendente técnico da Associação Brasileira dos Criadores de Zebu (ABCZ). Este artigo foi publicado originalmente em fevereiro de 2019, na edição nº 400 da Revista Globo Rural.

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Source: Rural

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