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Alguns animais ficaram dias atolados. (Foto: CRMV-MG)

 

O Conselho Regional de Medicina Veterinária de Minas Gerais (CRMV-MG) contabiliza ao menos 73 animais resgatados de locais atingidos pela lama da barragem 1 da Mina do Feijão, em Brumadinho (MG), até a quinta-feira (31/1). A entidade atua no local desde a tarde de sexta-feira (25/1), dia do acidente.

Os animais vêm sendo encaminhados para um hospital veterinário de campanha e alojados em uma fazenda alugada pela Vale. De acordo com a empresa, o local foi preparado para atender espécies de pequeno e grande porte. Há estruturas para bovinos, equinos, suínos e peixes. Foram montadas também estações de alimentação, medicação e terapia intensiva.

A mineradora informa que as ações apoiadas por ela são feitas por biólogos contratados em parceria com o Conselho Regional de Medicina Veterinária. Segundo a Vale, são cerca de 40 profissionais mobilizados às duas margens do Rio Paraopeba, por onde se move a lama da barragem.

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Integrante da Comissão de Desastres do Conselho Regional de Medicina Veterinária de Minas, Laiza Gomes, uma das coordenadoras de resgate de fauna em Brumadinho, explica que só a comissão está com 15 profissionais no município.  E recebeu apoio de colegas de diversas partes do Brasil que foram cadastrados e colocados sob a coordenação dos veterinários mineiros.

“É uma equipe que está sob orientação da Defesa Civil e do Corpo de Bombeiros. Todos os dias, realizamos reuniões para passar as orientações que os órgãos oficiais têm nos passado. São equipes multidisciplinares, com biólogo, veterinário e bombeiro civil integrado para resgatar a maior quantidade de animais possível”, explica Laiza.

A Escola de Medicina Veterinária da Universidade Federal de Minas Gerais informa que vem enviando desde a última segunda-feira (28/1) equipes com professores, residentes e alunos para também apoiar as ações. Em comunicado, a instituição diz que o trabalho vem sendo feito por meio da chamada Brigada Animal, atuando também sob a coordenação do CRMV-MG.

Laiza Gomes relata que muitos casos surpreenderam as equipes de resgate, que esperavam encontrar animais mais debilitados do que encontraram, já que estavam há dias na áreas atingidas pela lama e sofrendo com o forte calor que tem feito na região de Brumadinho. Mas isso não significa que não sofrem.

“Os animais que temos na fazenda estão estabilizados. Os animais de grande porte, especialmente, são mais resistentes. Mas isso não quer dizer que não sintam. Eles sentem, e muito”, explica a veterinária.

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Dos animais contabilizados pelo CRMV-MG, até o momento, a maior parte é de cachorros. Há também gatos, bovinos, galináceos e até um cágado. A maior parte está em bom estado de saúde. Mas há casos sob cuidados intensivos e semi-intensivos. E uma cachorra está prenha. Depois de recuperados, todos os animais serão colocados para adoção, explica Laiza Gomes.

A quantidade de espécimes em risco passa dos milhares, alertam entidades ligadas à defesa dos diretos e do bem-estar dos animais. A World Animal Protection (WAP) lembra que a região tem uma fauna silvestre de mamíferos, répteis e aves.

Resssalta também que Brumadinho tem uma área rural com animais de companhia e planteis de produção. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), são 15 mil bovinos de corte, 3 mil vacas leiteiras e cerca de 10 mil suínos.

A WAP informa que seu trabalho em Brumadinho tem sido de apoio às equipes do Conselho Regional de Medicina Veterinária. Não apenas em aspectos relacionados ao resgate dos animais em si, mas também na organização de trabalhos voluntários e de abrigos.

Foto mostra boi resgatado da lama em Brumadinho (MG) (Foto: Grupo Força Animal/Facebook)

O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama) está em Brumadinho com cerca de 30 servidores e o apoio de helicóptero nas operações de campo. Até esta quinta-feira (31/1), a contagem do instituto era de 46 animais resgatados. Outros 212 foram encontrados mortos e 134 foram avistados, mas ainda não resgatados.

As ações mobilizam também diversas equipes de voluntários independentes, especialmente organizações não governamentais de defesa dos direitos dos animais. Esses grupos circulam no entorno dos locais atingidos pela lama à procura de animais vivos que possam ser tratados.

O Grupo Força Animal, do Paraná, por exemplo, está com pelo menos 15 pessoas para fazer o resgate e o atendimento veterinário, explica sua presidente Danielly Savi. A ONG atua, prioritariamente, na região metropolitana de Curitiba, mas tem colaboradores em vários lugares do Brasil. “Todo mundo quer ajudar. Os animais estão perdidos na lama”, afirma.

As ações em Brumadinho vêm sendo divulgadas pelas redes sociais. Fotos mostram um bovino resgatado da lama e que, segundo o grupo, está medicado e sendo tratado por veterinários. "Mais uma vida animal salva em Brumadinho", destaca a postagem.

Eutanásia

Animais cujo resgate é considerado impossível passam por eutanásia. Em comunicado divulgado durante a semana, a Defesa Civil de Minas Gerais informou que, nas situações em que se constata a impossibilidade de retirada do animal, uma equipe de veterinários realiza o procedimento por meio de injeção letal.

No início da semana, houve situações de abate a tiros, ação criticada por ativistas de defesa dos direitos dos animais. Também em nota, o Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV) manifestou apoio à ação dos veterinários mineiros e explicou que animais que estavam há dias em áreas de difícil acesso.

“Sob a supervisão de equipe veterinária, nesta segunda-feira (28/1), dois animais (um equino e um bovino), que estavam atolados há 4 dias em local de difícil acesso, tiveram de ser abatidos por meio de rifle sanitário. Os animais encontravam-se em local sem condições de segurança para serem içados, presos em área que oferecia riscos aos socorristas e sem possibilidade de acesso para intervenção de outra técnica de eutanásia", diz o comunicado.

Coordenadora de grupos de veterinários em Brumadinho, Laiza Gomes garante que todas as ações das equipes ligadas ao CRMV-MG têm seguido as normas reconhecidas e têm como princípio a garantia do bem-estar animal.

“Nós queremos retirar os animais, mas, se não conseguirmos, não queremos que eles sofram mais. Eles não têm culpa. Não queremos mais animais sofrendo nesse ambiente caótico e tóxico. O melhor tem sido desempenhado”, garante.
Source: Rural

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