Bolsonaro afirmou que o decreto que flexibilizou o acesso à arma de fogo tem como objetivo "assegurar o direito inviolável à legítima defesa" (Foto: Pixabay)
Entre produtores rurais, é consenso a aprovação ao decreto do presidente Jair Bolsonaro que facilitou a posse à arma de fogo, mas eles também concordam que é preciso adotar outras medidas, mais severas, para reduzir a insegurança no campo, apontada hoje como uma das principais dificuldades do setor.
Favorável ao decreto, o presidente da Sociedade Rural Brasileira (SRB), Marcelo Vieira, defende mais policiamento na zona rural. "Não é apenas liberar arma no campo que vai resolver a questão da segurança. O crime está cada vez pior. Quase diariamente ouvimos relatos de produtores que foram roubados, agredidos", diz Vieira, cuja entidade tem associados em todas as regiões do Brasil.
O presidente da SRB também alerta para a necessidade de se acabar com o comércio de produtos roubados ou furtados. "Se você permite, está incentivando a insegurança", afirma. Para Márcio Lopes de Freitas, presidente da Organização das Cooperativas Brasileiras, o governo deve criar identificadores para máquinas e equipamentos agrícolas, e incentivar, com recursos e apoio logístico, os Estados a desenvolverem e fortalecerem unidades especializadas de prevenção e combate à criminalidade. "É necessário criar um ambiente que desestimule a prática de delitos que colocam em risco a segurança das pessoas."
+ Valdir Colatto aceita convite para chefiar Serviço Florestal
+ Governo e setor privado estudam política nacional para o leite
Presidente da Associação dos Produtores de Soja de São Paulo (Aprosoja-SP), Gustavo Chavaglia afirmou que o decreto é importante, mas defendeu também aumento da punição para quem compra os produtos do comércio ilegal, de modo a dar mais segurança aos produtores. "Se o bandido pode ter arma, por que o produtor não?", questionou. "Mas precisamos de uma lei mais dura contra o receptador. Mais bandido ainda é quem compra produto roubado."
Segundo Chavaglia, hoje os criminosos vão às propriedades com a certeza de que os produtores estarão desarmados. Com a nova lei, afirma, haverá a sensação de "um contraponto". "Se ele (criminoso) souber que tem a chance de reação, começa a haver uma relação de igualdade", avalia. Segundo Chavaglia, os crimes no campo são mais complexos e os produtores estão mais vulneráveis que na área urbana. "Essa medida (decreto) permite uma mínima defesa."
Porta-voz do Observatório da Criminalidade da Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), André Sanches vê o decreto como uma "ponta" da discussão. De acordo com ele, sete em cada dez crimes no campo são realizados por quadrilhas especializadas. Por isso, diz, ações estruturantes, como o rastreamento do escoamento dos produtos roubados, são indispensáveis. Sanches comenta também que a CNA tem assento no Conselho Nacional de Segurança Pública e tem dado mais destaque à insegurança no campo. "Antes, era invisível", afirmou. "Não podemos fechar o olho para ressa realidade".
Twitter
Nesta quinta-feira, 17, no Twitter, Bolsonaro afirmou que o decreto que flexibilizou o acesso à arma de fogo tem como principal objetivo "assegurar o direito inviolável à legítima defesa". Ele rebateu críticas e escreveu que "medidas eficientes" ainda serão "tomadas e propostas" para melhorar a segurança pública. "Para a infelicidade dos que torcem contra, medidas eficientes para segurança pública ainda serão tomadas e propostas. Os problemas são profundos, principalmente pelo abandono dos governos anteriores. Mal dá pra resolver tudo em quatro anos, quem dirá em 15 dias de governo."A reportagem entrevistou Bartolomeu Pereira, presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Soja (Aprosoja Brasil). Veja, abaixo, os principais trechos.
Qual sua avaliação sobre a aprovação do decreto?
A arma é um componente a mais para a prevenção, para o bandido saber que na propriedade rural há uma arma de fogo. Mas isso não basta. Ficamos distantes da segurança pública e temos alto valor agregado em vigilância e equipamentos, então tudo isso necessita proteção.
O que é feito hoje?
Temos patrulhamento nas propriedades em Goiás e fazemos o georreferenciamento de todas, e organizamos grupos de WhatsApp com produtores e sindicatos rurais. Para vigiar, usamos até drones. Quando alguém estranho passa, a polícia é acionada.
Quais são os resultados?
Diminuímos a criminalidade na região (sul do Estado) e agora as medidas estão sendo ampliadas para outros Estados.
Curte o conteúdo da Globo Rural? Ele também está no Globo Mais. Nesse aplicativo você tem acesso a um conteúdo exclusivo e às edições das melhores publicações do Brasil. Cadastre-se agora e experimente 30 dias grátis.
Source: Rural