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(Foto: Globo Rural )

 

*Reportagem publicada originalmente na edição de setembro/2018 de Globo Rural

Safra cheia, preços altos e colheita com mercado garantido. O algodão brasileiro está surfando uma nova onda de prosperidade, mesmo com a indústria têxtil nacional seduzida pelas fibras sintéticas e uma demanda interna estabilizada. Quem tem salvado as lavouras são os estrangeiros, que se interessam cada vez mais pela pluma nacional.

A demanda maior se deve a um trabalho que envolve toda a cadeia produtiva e demanda milhões de reais em investimentos – no campo e depois da porteira. O resultado é a melhora da qualidade da fibra e da credibilidade junto aos compradores.

Hoje, cada fardo de algodão colhido no país passa por um rigoroso processo de análise e classificação em laboratórios com equipamentos de primeira linha. A certificação é uma tendência irreversível e global e que agrega valor ao produto.

Neste ano, mais de 9 milhões de amostras serão analisadas pelo sistema de classificação brasileiro. No ano passado, foram 7,4 milhões.

Os 11 laboratórios espalhados pelo país trabalham em sintonia, com máquinas calibradas com as mesmas referências, e o objetivo é enquadrar cada amostra de algodão numa escala de padrão internacional.

Edson Mizoguchi, gestor de qualidade, e Arlindo Moura, presidente da Abrapa

 

O padrão é definido pelo Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA, na sigla em inglês), que a cada safra elabora caixas da pluma com amostras da colheita americana e as classifica numa escala de cor, resistência, impurezas e comprimento.

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As amostras contidas nas caixas são intocáveis e são enviadas para todos os laboratórios do mundo, para que  possam calibrar suas máquinas de análise e classificação de acordo com a referência dos Estados Unidos e assim todo o mercado trabalhe na mesma escala.

“O Brasil tem hoje um algodão bem mais limpo, com menos impurezas. Se pegar a média da qualidade brasileira, a fibra é forte, resistente e está dentro da melhor faixa para atender a todos os segmentos industriais. Isso agrega para quem está comprando (em garantia de qualidade) e para quem está vendendo, que consegue preços melhores”, explica Edson Mizoguchi, gestor de qualidade da Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa).

Colheita do algodão

 

O investimento pela cadeia produtiva brasileira em laboratórios estaduais e no Centro Brasileiro de Referência em Análise de Algodão (CBRA), em Brasília, soma R$ 50 milhões. Somente o CBRA demandou R$ 9 milhões.

Além dos equipamentos de alta precisão, o ambiente do laboratório é totalmente controlado. A umidade precisa estar em 65% e a temperatura em 21º C. Tudo para evitar distorções nos produtos que passam pelo local. A meta do setor agora é buscar uma certificação que nenhum outro laboratório da América do Sul tem, chamada de ICA-Bremen. “Ela só é dada aos laboratórios que buscam ser árbitros internacionais quando há erro de análise. Estamos buscando essa certificação para ter ainda mais credibilidade, não para ser árbitro.” Segundo Edson Mizoguchi, no mundo são poucos os laboratórios com essa autoridade: são quatro e ficam na Austrália, África, Alemanha e Grécia.

Caixas com a pluma no padrão USDA

 

 

CERTIFICAÇÃO

No campo, todo o processo de produção e colheita do algodão também está entrando em alguma certificação. Segundo dados da Abrapa, 78% da pluma nacional tem alguma certificação e 30% de todo o algodão certificado comercializado no mundo é produzido no Brasil. “Em dez anos, quem não tiver certificação no algodão venderá com deságio (preços mais baixos que os praticados no mercado)”, enfatiza Arlindo Moura, presidente da Abrapa. A entidade trabalha agora para colocar até os pequenos produtores no programa de certificação. Primeiro, as associações fazem um diagnóstico da propriedade e levantam todos os pontos que precisam ser adequados para a certificação.

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O programa é baseado em três pilares (social, ambiental e econômico) e, entre os mais de 80 requisitos, está a obrigatoriedade de o produtor relatar todos os produtos químicos e número de aplicações feitas na lavoura. A mão de obra empregada não pode estar ilegal, muito menos pode haver qualquer tipo de trabalho análogo à escravidão. “Entrar no processo de sustentabilidade e certificação dá lucro”, garante Alvaro Dilli, diretor de sustentabilidade da SLC Agrícola, uma das gigantes que atuam no segmento.

Análise da fibra em laboratório

 

De acordo com o executivo, a empresa colhe R$ 3,8 milhões em “prêmios” por ter certificações, entre as quais a do algodão. “Depois que a sustentabilidade entra no DNA de toda a companhia, não sai mais. Todos aderem.”

Ao juntar-se ao padrão internacional, o algodão brasileiro tem ganhado cada vez mais credibilidade e mercado no exterior. A China, que reduziu suas compras nos últimos anos, em função dos altos estoques, voltou ao comércio e já demonstrou apetite pela pluma brasileira. “Já recebemos representantes da indústria e tradings querendo comprar 500.000 toneladas. Não temos condição de reservar essa quantidade. Esta safra está vendida e 50% da próxima, que será plantada em dezembro, já está vendida. De qualquer forma, estamos indo a uma comitiva em outubro para a Turquia e depois para a China, para tentar organizar isso. Temos de encontrar uma forma de atender”, afirma o presidente da Abrapa.

*O jornalista viajou a convite da Abrapa

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Source: Rural

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