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(Foto: Max Pixel/Creative Commons)

 

Preocupações sobre uma possível crise no abastecimento global de fósforo, um nutriente essencial, insubstituível e finito, são crescentes. Aqueles que estão atentos aos desafios que o crescimento populacional nos impõe sabem que o fosfato de rocha é um dos mais valiosos insumos na produção de alimentos e, por isso, é recurso crítico para o futuro das nações. 

O fósforo é vital ao crescimento e desenvolvimento da vida. Está entranhado no metabolismo de pessoas, plantas e animais. Fortalece as paredes celulares e participa na síntese de proteínas, na estruturação do DNA e do RNA, codificação genética, fotossíntese e na fixação de nitrogênio. É componente integral das moléculas do ATP (trifosfato de adenosina), o combustível das células.

Maurício Antônio Lopes (Foto: Reprodução/Embrapa)

Atua também no processamento de gorduras e açúcares, na mobilização de cálcio para formar ossos e dentes, contração muscular, transmissão de impulsos nervosos, secreção de hormônios e na manutenção do pH do sangue. Para nós, seu suprimento diário vem dos alimentos e uma enormidade de indústrias dele depende para produzir desde fertilizantes e defensivos até detergentes, lâmpadas, aço, bronze e muitas outras coisas.

O fósforo não pode ser produzido e sua origem é incerta. É provável que, como o hidrogênio, o carbono e outros elementos essenciais à vida, tenha sido produzido pela explosão de estrelas. Aqui, o fósforo é encontrado em rochas que são distribuídas de forma desigual nos continentes. Isso leva a riscos geopolíticos e à concentração de mercado, podendo restringir sua disponibilidade no futuro. Hoje, apenas dez países detêm 95% das reservas, 72% delas no Marrocos.

Preços voláteis de fertilizantes fosfatados criam insegurança para agricultores em regiões onde o recurso é escasso e choques de preços podem tornar o insumo inacessível aos agricultores mais pobres. O Brasil, com rochas de baixo teor de fósforo e de difícil extração, importa 57% do fosfato que usa.  E nossos solos tropicais, naturalmente pobres em nutrientes, requerem uma quantidade  maior de fósforo do que solos de clima temperado.

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O curioso é que solos tropicais têm grande afinidade pelo fósforo, que permanece em grande parte retido e não acessível às plantas. Estudo realizado pela Embrapa e parceiros revela que quase metade do fósforo aplicado na agricultura em forma de fertilizante inorgânico, nos últimos 50 anos, continua na terra. Uma reserva que vale mais de US$ 40 bilhões e que pode ajudar o Brasil a se precaver contra uma possível escassez futura do nutriente. Ao aprendermos a manejar e reciclar esse nutriente de forma mais eficiente, essa imensa reserva poderá ser mobilizada em favor da agricultura brasileira.

Outro caminho essencial é o aproveitamento dos resíduos da mineração, dos esgotos, do lixo urbano e dos resíduos agropecuários, como dejetos de suínos, bovinos e aves, que podem ser processados e utilizados como fertilizantes.  Em Cuba e na China, é comum o uso no campo do nutriente presente nos dejetos humanos, já que 80% do fósforo ingerido por nós é excretado.

Oura possibilidade, no futuro, é a utilização de conhecimentos que emergem da biotecnologia, da microbiologia e da mineralogia para obter o fósforo de fontes não convencionais. Quem sabe possamos assim selecionar e desenvolver microrganismos capazes de solubilizar e mobilizar, das nossas rochas, fósforo e outros nutrientes e micronutrientes a um baixo custo econômico e ambiental.

*Maurício Antônio Lopes é engenheiro agrônomo e foi presidente da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). Este artigo foi publicado originalmente em novembro de 2018, na edição nº 39 da Revista Globo Rural.

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Source: Rural

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