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A pecuária no Brasil se inicia em 1532, quando Martin Afonso de Souza desembarca em São Vicente com suas 32 cabeças de gado ibérico. Mais de 100 anos se passariam até que, documentalmente, a primeira vaca fosse ordenhada, no Recife, em 1641.

Era o início de uma das atividades mais representativas da economia nacional. O gado da época não era adaptado e muito menos especializado.

Reinava uma absoluta falta de tecnificação, e esse cenário perduraria até o início dos anos 1950, quando o governo federal instituiu as exigências de inspeção sanitária de produtos de origem animal.

E o leite não ficou de fora. Foram estabelecidas as exigências de pasteurização e as qualificações em tipos A, B e C, segundo uma escala crescente de padrões sanitários, e, mesmo assim, pouco havia evoluído na cadeia do leite.

Nada de interessante aconteceu nas duas décadas seguintes, a não ser que, nos anos 1970, surgiram as embalagens descartáveis, favorecendo o processo industrial.

O leite sempre foi uma atividade pressionada pelos preços de safra e entressafra, precariamente auxiliado pela garantia de preço governamental.

Quando, em 1990, é retirado o tabelamento do preço, surgem duas grandes consequências: um efeito negativo na indústria nacional, já constantemente ameaçada pelas importações federais, e a entrada no país das multinacionais. Esses dois efeitos, associados às mudanças no padrão de consumo, modificaram substancialmente a cadeia do leite brasileira.

A invasão de produtos lácteos no mercado, decorrente especialmente da expertise das multinacionais, forçou a indústria nacional a acelerar seu grau de competitividade. Ponto para o setor. Essa cadeia, hoje, é horizontalmente gigante, mas ainda é verticalmente modesta.

Embora registros históricos indiquem que há mais de 60 anos a produção de leite venha aumentando a uma taxa média de 555.000 toneladas ao ano, nossa produtividade ainda está muito distante de seu potencial.

A produção média nacional por vaca gira ao redor de 2.450 quilos de leite, 55% inferior à média neozelandesa e, incrivelmente, 267% inferior à média canadense.

O Brasil produziu, em 2017, algo ao redor de 35 bilhões de litros de leite, dos quais 24 bilhões foram consumidos na forma fluida. O restante, um terço, foi transformado em pelo menos 90 derivados lácteos, que vão da manteiga aos queijos, dos iogurtes às bebidas lácteas.

Nosso recorde de consumo per capita ao ano é de 179 quilos, mas ainda está abaixo daquele recomendado pela OMS, que é de 220 quilos per capita ao ano. Embora seja um alimento nobre para o ser humano e nossa mais importante fonte de cálcio, continua sendo o patinho feio da política do agronegócio.

Em termos econômicos, a cadeia do leite só perde para a carne bovina, respondendo por 24% do valor bruto nacional de produção. O setor é o que mais gera empregos: cerca de 4 milhões de postos de trabalho, do campo à indústria.

Contudo, mesmo na ausência de políticas públicas, com a sazonalidade de preços e um quase total abandono de apoio técnico (78% dos produtores nunca receberam nenhum tipo de assistência técnica, segundo o IBGE, em 2016), a atividade está presente em praticamente todas as propriedades rurais.

Em termos técnicos, hoje se verifica a existência de programas de melhoramento genético que contribuem para a consolidação de uma genética tropical produtiva e sustentável, baseada em raças zebuínas, e que permitem, também, a combinação inteligente dessa genética com a de outras raças especializadas.

No terceiro milênio, os sinais são de evolução, mas muito há para ser feito.

Ilustração: Thinkstock

 

 
Source: Rural

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