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O pacamã é uma espécie de pescado de lida fácil e resistente a doenças (Foto: Divulgação)

 

_A agonia do Rio São Francisco, que há anos vem sendo promovida pela seca da região do Semiárido, pela degradação das margens do leito, pelo represamento e pela exploração descontrolada dos recursos hídricos, coloca em risco o grande número de espécies de peixes que vivem ao longo do curso d’água. Várias delas, endêmicas da bacia hidrográfica, que vai de Minas Gerais até a desembocadura no Oceano Atlântico, depois de formar a divisa natural entre os Estados de Sergipe e Alagoas, podem ser extintas.

Além das ações necessárias para a recuperação do Velho Chico, como o rio também é conhecido, uma alternativa considerada por especialistas é o manejo de espécies nativas em propriedades rurais. Apesar de ainda não dispor de uma tecnologia definida, por ser uma produção incipiente, o pacamã (Lophiosilurus alexandri) é um dos peixes oriundos do São Francisco avaliados com grande potencial para criação comercial.

Pacamã (Foto: Divulgação)

Muito usado atualmente em programas de repovoamento de reservatórios, o pacamã tem capacidade de atingir até 72 centímetros de comprimento e 5 quilos de peso, oferecendo carne saborosa, com alto rendimento de filé e sem espinhos intramusculares. Também chamado de linguado-do-são-francisco ou ninquim, pode ser servido assado, frito ou ensopado. Nutritivo, é alimento saudável para ser parte das refeições diárias dos brasileiros, inclusive para quem segue uma dieta de baixa caloria.

O pacamã é uma espécie de pescado de lida fácil e resistente a doenças. Embora seja carnívoro, pode ser engordado com ração industrializada após um período de condicionamento alimentar, para evitar o canibalismo entre os exemplares. Assegurar alimentação frequente e espaço de 1 metro quadrado para cada peixe no tanque também são medidas que evitam a prática da predação.

Entretanto, uma grande vantagem no manejo do pacamã está na execução do processo reprodutivo pelo próprio criador. Outrora um desafio, por apresentar desova parcelada, ovos aderentes, dificuldade na distinção entre macho e fêmea (ausência de dimorfismo sexual) e cuidado parental – quando os pais cuidam da prole –, a reprodução em escala tornou-se acessível com os avanços das pesquisas.

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De comportamento gregário, o pacamã tem cabeça achatada, pele de tom escuro, três pares de barbilhões na face e mandíbula projetada para frente, ficando os dentes expostos com a boca fechada. Permanece a maior parte do tempo na parte mais funda dos rios, onde se camufla na terra. A estratégia adotada em seu hábitat na natureza tem o objetivo de mantê-lo afastado da luminosidade, a fim de protegê-lo do ataque de predadores.

Mãos à obra
INÍCIO O pioneirismo na exploração do manejo do pacamã em cativeiro requer do produtor investimento na reprodução do peixe. Uma consulta com pesquisadores da espécie e profissionais do setor de piscicultura é necessária para agregar conhecimento e reduzir erros na formação dos primeiros lotes de alevinos.

AMBIENTE Com as características dos Estados do centro-norte do país é o mais adequado para o desenvolvimento do pacamã, que tem pouca tolerância a locais onde a água apresenta-se mais fria. Por isso, recomenda-se dar preferência para criar o peixe em regiões com predomínio de temperaturas mais quentes. Por outro lado, a espécie não tem exigências quanto aos aspectos químicos da água, inclusive suporta baixos níveis de oxigênio.

TANQUES Com medidas entre 1.000 e 2.000 metros quadrados de lâmina d’água e profundidade de 80 centímetros são ideais. Além de escavados, podem ser de alvenaria ou revestidos com geomembrana, que são mais apropriados com uma camada de areia no fundo. Durante o dia, o pacamã tem o hábito de ficar com o corpo enterrado, deixando apenas os olhos de fora. Para o abastecimento de água, abra valas simples ou construa canais de concreto. Adote um sistema de vazão comum, com saída por meio de tubos de PVC em forma de cachimbo ou de monge.

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ALIMENTAÇÃO Para a engorda é composta de rações extrusadas para carnívoros. Entretanto, como o pacamã gosta de manter-se no fundo, triture o alimento, adicione água quente e faça pequenas bolas para que afundem. Por ter hábito noturno, forneça a refeição no final da tarde. Lambaris vivos são recomendáveis como complemento. Ofereça também resíduos de filetagem frescos, mas sem exageros, pois as sobras deterioram a qualidade da água.

REPRODUÇÃO Tem período concentrado entre setembro e maio, porém, se estende por todos os meses do ano em regiões quentes. A desova parcelada do pacamã permite a cada 15 dias coletar os ovos, que colam na primeira superfície que encontram, geralmente nos ninhos abertos na areia. Faça vistoria diária no viveiro de reprodutores, dando preferência para coletar os ovos um dia após ter identificado a ninhada, favorecendo o aumento da taxa de sobrevivência. Transfira o material para incubadoras tipo calha. No mesmo dia ou no seguinte, deve ocorrer a eclosão dos ovos. Nos seis primeiros dias, a principal fonte de nutrientes para o desenvolvimento é o saco vitelínico. Em seguida, inicie o fornecimento do zooplâncton. A partir da segunda quinzena, ofereça branchonetas (Dendrocephalus brasiliensis), um microcrustáceo maior que o zooplâncton, e comece a fase de condicionamento à dieta artificial com ração semiúmida. Com 40 dias, já podem ser levados para o viveiro de engorda.

 

Onde adquirir: solicitação de doações de alevinos para formação do plantel de reprodutores pode ser realizada junto aos centros de aquicultura da Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf) em Petrolina (PE), tel. (87) 3866-7752/7732, e em Porto Real do Colégio (AL), tel. (82) 3551-2265/2809; e Companhia Hidro Elétrica do São Francisco (Chesf) em Paulo Afonso (BA), tel. (75) 3282-2514

Mais informações: centros e estações de pesquisa em aquicultura da Codevasf e Chesf, técnicos de institutos de pesca dos Estados e universidades que possuem cursos na área. 

*CONSULTOR: Fábio Rosa Sussel é zootecnista, doutor e pesquisador científico do Instituto de Pesca de São Paulo – UPD Pirassununga, tel. (19) 3565-1200, fabio@pesca.sp.gov.br
Source: Rural

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