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Safra brasileira de trigo deve ser de 5,14 milhões de toneladas neste ano, de acordo com a Conab (Foto: Thinkstock)

 

“Não haverá refresco”. Foi assim que o presidente do Sindicato da Indústria de Trigo do Estado de São Paulo (Sindustrigo), Christian Saigh, resumiu a visão dos moinhos para o mercado do cereal neste ano. Os preços pagos pela indústria devem se manter sustentados neste ano, mesmo com a chegada da nova safra, diz ele, usando como referência a Argentina, principal fornecedor de trigo do Brasil.

“Estamos começando a compra safra nova da Argentina a preços maiores do que em anos anteriores, que a safra de lá foi menor. Ele são competitivos e estão encontrando outros destinos para o trigo deles. Não vejo redução de custos para a indústria”, afirmou, em entrevista coletiva realizada nesta terça-feira (21/8), na sede da Associação Brasileira da Indústria do Trigo (Abritrigo), em São Paulo (SP).

No mercado brasileiro, as cotações do cereal acumulam desvalorizações de mais de 2% neste mês, de acordo com os indicadores do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), baseados no Rio Grande do Sul e no Paraná. As referências na segunda-feira (20/8) fecharam a R$ 877,27 e R$ 963,36, respectivamente.

Apesar da baixa dessas últimas semanas, na comparação com o mesmo período no ano passado, os valores de referência do Cepea para o trigo estão maiores. “Os preços não devem cair muito. Não há perspectiva de queda no curto prazo”, afirmou, durante a coletiva de imprensa, o vice-presidente do Conselho da Abitrigo, João Carlos Veríssimo.

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A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) estima uma produção de 5,14 milhões de toneladas de trigo neste ano. As importações devem totalizar 6,3 milhões de toneladas, de acordo com o relatório de acompanhamento de safra divulgado no início deste mês. A moagem é estimada em 10,7 milhões de toneladas.

Entre janeiro e julho deste ano, o Brasil importou 3,95 milhões de toneladas do cereal, informa o sistema Agrostat, do Ministério da Agricultura. No mesmo período em 2017, o volume tinha sido de 3,59 milhões de toneladas. Só da Argentina, principal fornecedor do mercado brasileiro, o volume passou de 2,9 milhões para 3,54 milhões de toneladas no intervalo de janeiro a julho de um ano para outro.

Para os executivos da indústria de trigo, a atual situação da economia da Argentina, apesar de grave, pouco deve interferir no comércio bilateral do cereal. Mesmo nessas condições, por conta das regras do Mercosul, ainda é mais competitivo comprar do vizinho do que de outras origens.

“Essas oscilações internas não têm prejudicado. E a alternativa é sempre mais cara que a Argentina”, disse Christian Saigh. Para o Brasil, importar trigo de fora do Mercosul implica em mais 10% relativos à Tarifa Externa Comum (TEC), além de 25% sobre o frete.

Política Nacional

Na coletiva de imprensa, a Abitrigo apresentou as linhas gerais de uma proposta de Política Nacional do Trigo, medidas a serem sugeridas ao novo governo para incentivar a produção, o consumo e o comércio exterior do cereal. Trata-se de uma projeto de médio e longo prazo, que inclui temas como regulação, incentivos fiscais, apoio à produção e infraestrutura.

“A política para a soja no Brasil é muito bem feita, para o milho é muito bem feita. Queremos um programa de governo para ao setor tritícola. É uma cadeia que está em 99% dos lares brasileiros e não tem uma política de abastecimento desses produtos”, afirmou João Carlos Veríssimo.

As propostas, ainda em fase de detalhamento, partem da visão de que o Brasil tem uma produção de trigo e um consumo de farinha estagnados. E que há a necessidade de desenvolver novas variedades do cereal, o que a indústria chama de “especialização”, para atender demandas específicas da indústria e também implantar lavouras mais resistentes a doenças como a Brusone e a giberela.

“A produção brasileira está estagnada, mas, segundo a Embrapa, há locais onde pode haver expansão no médio e longo prazo. O consumo ficou estagnado por causa da situação econômica. Nossa proposta não tem a ver só com a política agrícola, mas também com a política econômica do novo governo”, disse o presidente da Abitrigo, embaixador Rubens Barbosa.

Com o crescimento da oferta interna, a expectativa é reduzir a demanda externa. O que não significa, necessariamente, tornar o Brasil autossuficiente em trigo. Os moinhos defendem que o mercado brasileiro continue aberto às importações do cereal e que também possa exportar mais que os níveis atuais, em torno de um milhão de toneladas por ano, em média.

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“No mundo globalizado, não cabe pensar em autossuficiência e impedir a importação. O mercado é que decide. Não se trata de uma visão protecionista”, disse Barbosa. “Em relação a novas origens, depende da agressividade do exportador, mas vamos ficar muito vinculados à Argentina, que sempre será um grande exportador para o Brasil”, acrescentou, citando Estados Unidos, Canadá, Uruguai, Paraguai e Rússia como fornecedores do país.

O Plano Nacional proposto pela Abitrigo reforça também a necessidade de reforma tributária e de redução da burocracia. Em relação à infraestrutura e logística, os moinhos defendem mais investimentos em armazenagem e modernização de processos de alfândega, além de investimentos em modais de transporte.

“A demanda interna vai crescer e a logística será importante não apenas no transporte, mas também na armazenagem. É possível aumentar muito o investimento nessa área. A diversificação de regiões produtoras passa pela logística”, pontuou o presidente da entidade.
Source: Rural

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