Açaí: o furto da Palmeira. (Foto: Divulgação)
O extrativismo vegetal pode render negócios lucrativos e sustentáveis. É o que testemunha o empresário carioca George Braile, fundador da Juçaí, fábrica localizada em plena reserva ecológica Serrinha do Alambari, em Resende (RJ). A empresa comercializa açaí processado a partir do fruto da palmeira juçara, árvore natural do bioma da Mata Atlântica, diferente da espécie mais conhecida, típica da Floresta Amazônica na região Norte.
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O desenvolvimento do produto ocorreu quase do acaso. Durante um período sabático em que viveu na reserva ecológica, o empresário observava com curiosidade o comportamento dos animais que se alimentavam do fruto da juçara. "Me chamaram a atenção a abundância e aparência dele. Experimentei então, extrair o suco e descobri ser delicioso", conta.
Geração de renda
Palmeira Juçara é natural da Mata Atlântica. (Foto: Divulgação)
Ameaçada de extinção devido a décadas de extração clandestina de seu palmito, a juçara hoje é protegida por lei. Isso porque ao contrário de outras espécies, sua palmeira não se regenera após ser cortada para extração do palmito. Sua exploração para fins comerciais pela empresa criada por George Braile, a Juçaí, somente se tornou viável a partir da criação de um projeto de sustentabilidade (Projeto Amável), de forma a garantir o repovoamento das árvores e seu manejo com práticas sustentáveis, abordando tanto questões ambientais, como também sociais e econômicas da área de extração.
Na área com 20 hectares utilizados inicialmente para a extração, há, por exemplo, o compromisso ambiental de preservar um terço dos cachos de frutos das árvores, a fim de garantir o alimento dos animais silvestres.
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Ali, 11 coletores, agricultores familiares e oito mulheres da comunidade local trabalham na venda e no despolpamento dos frutos. "Além de contribuir para preservar uma espécie em extinção, a reserva hoje é uma fonte de geração de renda para os produtores das comunidades locais", destaca o empresário carioca. Em média, a renda mensal dos coletores atinge R$ 2.300, enquanto a renda mensal das mulheres despolpadoras, R$ 1.400.
Também fazem parte do programa sustentável a visitação a escolas com programas de educação ambiental e a geração mensal de 8 milhões de sementes com poder de germinação de 97%, permitindo a formação de novas florestas de juçara para as próximas gerações.
Hoje, com a expansão da produção, a área de extrativismo já ultrapassa 1.000 hectares, contando com a parceria de fazendas nos estados de Rio de Janeiro, São Paulo e Santa Catarina, que fornecem os frutos para a fábrica.
Investimentos
Hoje a fábrica Juçaí produz por mês cerca de 5 toneladas já envasadas e congeladas na embalagem e seu faturamento é de cerca de R$ 100 mil. “Nossa projeção para o ano que vem é atingirmos um faturamento de R$ 300 mil ao mês”, afirma Braile.
Açaí envasado. (Foto: Divulgação)
Das primeiras fases do projeto, iniciado em 2008 com o levantamento de recursos para o desenvolvimento da planta, contratação de um biólogo para desenvolver o projeto sustentável e de um especialista em congelados, até os dias de hoje, foram investidos um total aproximado de R$ 2 milhões, dos quais R$ 250 mil partiram de desembolso do próprio empresário.
Os demais valores foram obtidos por meio de diferentes tipos de captação, como R$ 100 mil de um investidor anjo (pessoa física). "Foi muito importante para esse passo inicial conseguir captação de recursos. A Faperj (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro), por exemplo, foi também um apoio valioso na montagem da fábrica e no desenvolvimento de embalagens", diz o sócio proprietário da Juçaí.
Para competir no mercado, o açaí juçara oferece como principal diferencial o fato de conter uma quantidade de antioxidantes (substâncias que combatem doenças e o envelhecimento das células) quatro vezes superior à do açaí tradicional, originário da Amazônia. "Se o açaí tradicional já ganha o mundo inteiro a partir das propriedades que possui, nosso açaí juçara então pode ir ainda mais longe", calcula Braile.
Foco no exterior
Fábrica produz 5 toneladas por mês do produto. (Foto: Divulgação)
Desde 2010 o Juçaí foi lançado para comercialização em redes supermercadistas das regiões Sul e Sudeste. A lucratividade no entanto passou a depender de um novo ganho de escala, inclusive para possibilitar a exportação. "O produto deu certo, todo mundo gosta, é sustentável sócio-ambientalmente. É um negócio lindo. Mas agora dependemos de capital para triplicar a produção e chegar a uma escala para exportação com dimensão até mundial", planeja George Braile.
As vendas ao mercado externo tiveram início com o Chile e exigiu primeiro investir no desenvolvimento do volume de produção. "E enquanto não tínhamos volume para começar a exportar, aproveitamos para investir agregando valor ao produto, conquistando certificações em áreas como 'orgânico', 'sustentável', 'kosher' e outros. Agora já estamos exportando e em breve devemos diversificar para outros países além do Chile. Estamos buscando captar novos recursos para isso", diz Braile.
Source: Rural