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Um casarão de 600 metros quadrados, construído na década de 1930, na zona sul da capital paulista, recebe diariamente um caminhão carregado de cana-de-açúcar recém-colhida de canaviais próximos de São Paulo. O produto é armazenado nos fundos do terreno pela manhã e, no fim da tarde, termina dentro de pequenas embalagens a vácuo em forma de palitos. É o agronegócio transformado em produto de varejo, praticamente pronto para consumo. Um hectare de cana vira 70 mil sachês. A empresa existe há três anos, tem crescido em ritmo acelerado, conquistou a maior rede de supermercados do Brasil e, com portfólio ampliado, está prestes a ganhar escala, mudar de sede e apostar no mercado internacional.

A startup Energia da Terra comercializa embalagens de palitos de cana in natura, que podem ser usados como mexedores de cafezinho ou drinques, depois mastigados e descartados. A cada mês, mais de 10 mil sachês são vendidos no mercado brasileiro. No ano passado, a empresa faturou cerca de R$ 250 mil e, para este ano, a expectativa é que a receita mais que dobre, superando R$ 600 mil. O impulso virá com novos produtos, como snacks de frutas desidratadas.

Quem está à frente do negócio é o engenheiro agrônomo Ernest Saraiva Petty e mais quatro sócios (dois agrônomos, um economista e um administrador). Todos com mais de 40 anos, eles decidiram apostar na ideia em 2015, sem muitas pretensões, depois de terem aberto negócios próprios ou trabalhado em grandes empresas.

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Antes de assumir a Energia da Terra, Ernest, que lidera a startup, era sócio de uma rede de bares e restaurantes em São Paulo. Ele decidiu vender suas cotas quando houve o acidente na Boate Kiss, no Rio Grande do Sul. “No dia seguinte àquela notícia, fizemos uma reunião de emergência com todos os sócios para uma autoavaliação das nossas casas. Apesar de todas estarem em conformidade, achei melhor sair”, afirma.

Numa reunião entre amigos e família, ele e os atuais sócios decidiram abrir algo em conjunto e tinham em mente trabalhar com a cana-de-açúcar. “A gente não queria ir para a rapadura nem para o melaço. Suco de cana já tinha iniciativas avançadas e não queríamos ser mais um player. Também não queríamos entrar na ‘cadeia do frio’ (refrigerados), porque é muito cara e ocupa uma área pequena nos mercados. Paramos e pensamos que o hábito de consumir cana é tão popular, mas não uma cultura alimentar. Aí que decidimos entrar.”

Ernest Petty em frente à sede da Energia da Terra

 

EXPERIÊNCIA

Depois de visitar produtores e pesquisar diversas variedades de cana-de-açúcar, para avaliar qual era a mais adequada, eles levaram nove meses para deixar o produto estável na embalagem. Se não for envazada de forma adequada, a cana fermenta e faz a embalagem inflar, tornando o produto impróprio para consumo. A solução veio com as embalagens a vácuo.

Pelo ineditismo do produto, os sócios não sabiam nem a que preço oferecer aos mercados. “Tentamos pesquisar o perfil do consumidor, mas as empresas de consultoria cobravam três dígitos. Como não tínhamos pressa, montamos nossos pilotos e monitoramos pessoalmente. Ficávamos de duas a três horas na loja só observando”, diz Ernest.

Um dia, uma senhora pegou dez sachês. Era a primeira vez que os empresários viam alguém comprando um volume maior. Quando ela chegou ao caixa e a conta ficou alta demais, dispensou metade dos sachês. “Meu primo (um dos sócios) a abordou. Se apresentou como fornecedor e perguntou o que a levou a comprar. Ela disse que adorava, mas que estava muito caro, por isso pegou metade. E aí decidimos reduzir o valor.”

O corte manual da cana e os palitos embalados a vácuo, usados para mexer café ou drinques

 

BOOM

O salto nas vendas dos sachês de cana veio com a conquista de um grande cliente: o Grupo Pão-de-Açúcar (GPA). Levaram mais de um ano para conseguir uma reunião com o responsável por compras da rede. Depois, ainda tiveram de se adequar a um manual de fornecedores da rede com mais de dez páginas.

Outra investida certeira foi negociar com a Maurício de Souza Produções e colocar a Turma da Mônica nas embalagens do produto. “Hoje, a Turma representa qualidade. A mãe compra porque é da Mônica, depois vê que é cana”, diz.

O próximo passo da Energia da Terra é mecanizar a produção, hoje totalmente manual, feita por três pessoas. Como não existe nada semelhante no mercado, a empresa precisou se aliar a uma fabricante de maquinários e elaborar uma patente em conjunto. A máquina, que vai lavar, descascar e fazer porções da cana, está em fase de testes de performance e deve chegar ainda este ano.

MERCADO EXTERNO

Com a produção em escala, os empresários miram reduzir custos e principalmente ganhar o mercado internacional.  A companhia já realizou seis embarques experimentais para Dubai, nos Emirados Árabes Unidos. “Acho que o grande volume vai ser lá fora. Esse produto vai se encaixar muito para os países do Hemisfério Norte. Primeiro, porque é muito frio, segundo porque não se produz cana lá fora. E porque é nutritivo e barato”, diz Ernest.

 

 

 

 

 
Source: Rural

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