Segundo o consultor da Câmara Brasil-Alemanha, o alemão está acostumado com a carne do gado da raça angus, europeu, enquanto a maior parte do rebanho bovino brasileiro é de gado zebuíno, principalmente o nelore (foto) (Foto: Ernesto de Souza)
Uma pesquisa realizada pela Câmara de Comércio e Indústria Brasil-Alemanha com 30 organizações alemãs, entre indústria, restaurantes e supermercados indica que a carne brasileira enfrenta grandes barreiras para conquistar mercado alemão.
A informação foi divulgada hoje pelo consultor Bernd dos Santos Mayer durante a Global Agribusiness Forum (GAF 2018). Em decorrência dos escândalos resultantes da operação Carne Fraca, a carne brasileira não tem mais nem o selo indicativo do País. A decisão de nomear a carne tendo como procedência a América do Sul foi tomada para minimizar os impacto das notícias negativas no setor.
Segundo o consultor da Câmara Brasil-Alemanha, há boas notícias para os exportadores brasileiros em relação ao mercado alemão. A produção local tem caído enquanto aumentam o consumo e os preços. As importações também têm crescido anualmente.
Dos 1,25 milhões de toneladas consumidas anualmente pela Alemanha, 50% vem de outros países, principalmente da União Europeia, Argentina, Brasil e Uruguai. O problema é que o valor pago pela carne brasileiras é 35% inferior ao da argentina. “O preço é baixo é por causa da imagem da carne”, afirma.
De acordo com ele, outro motivo de o preço ser baixo é que o alemão está acostumado com a carne do gado da raça angus, europeu, enquanto a maior parte do rebanho bovino brasileiro é de gado zebuíno, principalmente o nelore.
“A carne bovina alemã tem outro gosto, parecida com angus. O produto exportado para a Alemanha é oriundo do zebu, que vai, principalmente, para os fabricantes de hambúrgueres, pizzarias e refeitórios de grandes empresas. Essa carne não encontra espaço no supermercado como carne premium”, explica.
O moderador do painel era Arnaldo Borges, presidente Associação Brasileira dos Criadores de Zebu (ABCZ), que não mencionou diretamente a observação do consultor. Ressaltou apenas a importância de se discutir a produção de proteína animal tendo em vista a expectativa de crescimento da população e da necessidade global de alimentos.
Conversando com jornalistas depois do painel sobre o mercado de proteína animal, o CEO da Minerva Foods, Fernando Galetti de Queiroz, uma das maiores indústrias frigoríficas do país, disse ter recebido com naturalidade a observação do consultor da Câmara Brasil-Alemanha. Para ele, é apenas uma questão de preferência.
"Tem mercados para diferentes produtos. Tem mercados para carne zebuína, especialmente no Oriente Médio e extremo oriente, onde eles procuram uma carne com menos gordura e tem mercados que tradicionalmente consomem produtos com mais marmoreio, como é a Alemanha, que tem o hábito de uma carne com uma marmorização maior", afirmou o executivo.
Pimenta nos olhos
O ex-ministro da Agricultura Francisco Turra, presidente da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), rebateu críticas à produção brasileira de carne. Afirmou que uma exceção não pode ser vista pela opinião pública como regra, uma clara alusão aos resultados da Operação Carne Fraca.
Segundo ele, notícias de que o Brasil estaria exportando carne podre foram espalhadas por todo o mundo, derrubando todo o esforço feito “com lágrimas e sangue”. “O Brasil aprendeu uma lição de passar a defender o seu produtor e seu produto”, afirma, apostando que essa imagem negativa será revertida.
Ele afirma que diferentemente da Europa, que sofre com influenza aviária e outras doenças que afligem o gado, o Brasil é um exemplo de produtividade e qualidade. “Os outros lá fora não estão imunes de problemas. Escândalo de carne podre na Bélgica, pouca gente ouviu falar. No Reino Unido há plantas fechando, desemprego. A Rússia e a Europa registrando foco de influenza aviaria e outros males. Mas essas informações não chegam da mesma forma que nossas notícias lá fora”, diz.
De acordo com o executivo, a União Europeia não pode questionar os problemas brasileiros diante de casos de gripe suína em seu território. No entanto, Turra acredita que é possível melhorar, especialmente na inspeção governamental. “Acredito que estamos atravessando esse momento terrível, mas em breve nós seremos vistos novamente como fornecedor de produtos saudáveis.”
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Source: Rural