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Uma rede de pesquisadores estimou que quase 17 milhões de animais vertebrados, entre cobras, pássaros, tatus, jacarés, macacos, tartarugas, veados, queixadas e tamanduás, morreram imediatamente nas queimadas de 2020 no Pantanal. As estimativas indicam que pelo menos 16.952.000 animais morreram afetados pelo fogo, uma média de 217,17 por quilômetro quadrado.

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As pequenas cobras e os pequenos roedores representam o maior grupo, com 9.391.408 e 3.288.688 mortes, respectivamente, ou quase 75% do total. A pesquisa envolveu mais de 50 cientistas da Embrapa, ICMBio, Ibama, universidades e órgãos privados e foi publicada na segunda quinzena de dezembro na revista científica Scientific Reports.

Fogo no Pantanal (Foto: José Medeiros/Editora Globo)

 

A equipe usou metodologia de amostragem por distância nos 39.030 quilômetros quadrados afetados pelo fogo para estimar as densidades e o número de animais vertebrados mortos.

Segundo o biólogo Christian Niel Berlinck, pesquisador do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e um dos coordenadores do trabalho, as visitas a campo em busca das carcaças ocorreram em no máximo 72 horas após os incêndios para eliminar a chance de predação.

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Berlinck afirma que o resultado surpreendeu muito os pesquisadores. “A gente já esperava um número alto devido à densidade da região, mas não imaginava que o impacto seria tão grande.”

Segundo ele, a não identificação entre as vítimas fatais de grandes animais, como onças pintadas, lobos, jaguatiricas e antas se deve ao fato de que esses animais não morrem de imediato, pulam as linhas de fogo e fogem para morrer escondidos. Além disso, eles têm densidade menor e habitam lugares mais afastados. “Houve muitos relatos de animais grandes feridos, com queimaduras nas patas, mas ninguém viu por exemplo uma onça morta.”

Incêncio no Pantanal (Foto: Chico Ribeiro/Divulgação)

 

Foram justamente os relatos de muitas mortes de animais no bioma e o desejo de quantificar o número com dados científicos que levaram os pesquisadores a campo entre setembro e outubro de 2020, quando o Pantanal já queimava há três meses.

Segundo os cientistas, o número de mortos, apesar de muito alto, ainda pode ter sido subestimado porque não inclui animais que foram enterrados e que morreram depois em consequência de ferimentos, fome, mudança de habitat e aumento de predação. Os pesquisadores estimam que o impacto indireto dos incêndios atingiu 65 milhões de animais vertebrados e 4 bilhões de invertebrados. Esse cálculo foi baseado na densidade das espécies existentes por quilômetro quadrado multiplicado pela área atingida pelo fogo.

Os incêndios afetaram 26% do bioma, após uma seca extrema nos estados do Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. Segundo a pesquisa, já havia um déficit de 40% nas chuvas na região em 2020, além de um aumento de 2°C na temperatura média desde 1980, criando as condições ideais que contribuíram para os incêndios florestais.

A gente já esperava um número alto devido à densidade da região, mas não imaginava que o impacto seria tão grande."

Christian Niel Berlinck, pesquisador do ICMBio

A pesquisa aponta que o Pantanal já é a ecorregião brasileira com a maior média de focos de fogo por quilômetro quadrado, o que torna a perspectiva de um aumento da frequência e extensão dos incêndios uma séria ameaça à conservação da biodiversidade e dos serviços ecossistêmicos, já que os efeitos cumulativos podem ser consideráveis ​​em uma perspectiva de longo prazo.

Mudanças climáticas e ação humana

Berlinck, que estuda usos, implicações e combate ao fogo há 20 anos, diz que as causas do aumento de incêndios no Pantanal se devem a vários fatores. Primeiro, ele cita o ciclo climático que mostra uma tendência de cinco anos de seca na região e as alterações climáticas no mundo agravadas pelo aumento de temperatura dos oceanos.

Outros fatores agravantes, diz, são o desmatamento da Amazônia, que diminui a umidade que chega ao Pantanal, e o aumento da produção agrícola e pecuária que afeta as nascentes, reduzindo o volume de água que chega ao bioma, caracterizado como ecossistema de savana úmida.

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Para prevenir a repetição do cenário de 2020 e buscar um regime de fogo que seja benéfico para o Pantanal e não cause perda de biodiversidade e danos ao solo, os pesquisadores recomendam técnicas de manejo integrado do fogo.

Berlinck diz que há três grandes pilares no manejo integrado do fogo que estão sendo trabalhados no Pantanal: o conhecimento da ecologia do fogo, a parte social em que pequenos agricultores e comunidades ribeirinhas usam o fogo para manutenção dos ambientes e o manejo histórico, que inclui monitoramento contínuo para detecção precoce de risco de incêndio e eventos de incêndio, a construção de aceiros, a atuação de brigadistas públicos, privados e ligados a ONGs para o combate mais rápido aos focos, a capacitação de moradores e equipes de fazendas e a criação de centros de atendimento aos animais, entre outras medidas.

“A área impactada, embora seja gigante, preservou 70% do Pantanal e os animais mudam de um lugar para o outro. Tenho visto uma recuperação da diversidade biológica, não houve casos de extinção e o que nos deixa com esperança é que muita coisa está acontecendo de forma articulada no Pantanal, muitas pessoas e instituições estão trabalhando juntas para evitar a repetição da catástrofe de 2020.”

 
Source: Rural

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