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Encontradas em estado de abandono, em Brotas, no interior de São Paulo, as búfalas da fazenda Água Sumida, cujo proprietário foi preso em flagrante por maus tratos aos animais, morreram de inanição. É o que aponta o laudo final da perícia após a necropsia de cinco animais (quatro búfalas e um bezerro) encontrados mortos no local. Ainda de acordo com o documento, as fêmas foram submetidas a inseminação artificial mesmo apresentando Escore de Condição Corporal (ECC) considerado caquético e, portanto, sem condições de parir.

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Búfulas foram encontradas com sinais de desnutrição em meio a "cena de guerra", segundo policiais (Foto: Catharina Bastos/ARA)

 

De acordo com a perita responsável pelo caso, Eryka Zolcsák, foram encontrados tubos de inseminação e armazenamento de sêmen, seringas e medicações descartadas de forma imprópria no local onde ao menos metade do rebanho encontrava-se prenhe. “São indícios da crueldade que os animais eram submetidos, pois mesmo com ECC inadequados, eram obrigadas a gerar filhotes, causando ainda mais emagrecimento e sofrimento. Em laudo veterinário já apresentado, é possível notar que diversas tiveram parto precoce, por não aguentarem a prenhez”.

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Em seu relatório, a perita usa como parâmetro a Circular 57 da Embrapa, que classifica o escore corporal dos animais de 1 a 5. “O escore 1 é para vacas muito magras e é caracterizado por cavidade profunda na região de inserção da cauda, costelas e ossos da pélvis (bacia) pronunciados e facilmente palpáveis, ausência de tecido gorduroso na pélvis ou na área do lombo e profunda depressão na região do lombo”, afirma o documento que menciona animais de ECC 1 e 2 no local.

“O escore 2 é para vacas magras e é caracterizado por cavidade rasa ao redor da inserção da cauda, pélvis facilmente palpável, extremidades das costelas mais posteriores arredondadas e superfícies sentidas com ligeira pressão, e depressão visível na área do lombo”, descreve a circular.

De acordo com o exame de necropsia, as búfalas mortas apresentavam “atrofia serosa da gordura em tecido subcutâneo e na camada que recobre diversos órgãos”, o que indica “que os animais passaram por longo período sem alimentação suficiente, o que faz com que o organismo utilize a gordura disponível no corpo, como fonte de energia”.

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“As condições às quais os animais foram submetidos foram tão adversas, que, mesmo animais internados em um hospital de campanha, recebendo todos os cuidados veterinários necessários por 20 dias, além de alimento e água em quantidade e qualidade necessárias, não conseguiram se recuperar”, destaca o documento.

Em uma das fotos anexadas, a perícia aponta para a falta de pastagens no local onde os animais se encontravam enquanto, noutra parte da fazenda, uma lavoura de soja se desenvolvia em plena seca demonstrando “clara falta de manejo adequado da pastagem por parte do autor” e “sendo inegável apenas o descaso com os animais”.

Em relação às instalações da fazenda, a perícia apontou que elas eram “completamente precárias e impróprias, impossibilitando o correto manejo do rebanho, não havia ambiente asséptico para ordenha, os tanques de refrigeramento do leite estavam em uma sala imprópria, aberta, possibilitando à entrada de roedores, pássaros, insetos e outros animais passíveis de zoonoses, na sala não havia refrigeração (ar condicionado)”.

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O documento sugere que seja aberto um novo processo de investigação para verificar laudos de qualidade do leite e manejo do rebanho até março, data da última nota de venda de leite da fazenda. “Caso estas não sejam apresentadas, a investigação deverá detectar crime contra a saúde pública, tanto na fazenda de saída do leite, como também na fazenda receptora”, aponta o documento.

A perícia também apontou crime ambiental diante do descarte incorreto das carcaças e animais mortos na fazenda. Numa vala de 34,8 mil metros, foram encontrados 62 crânios de búfalos e “diversos outros ossos”. Desses, apenas dois eram animais com idade superior a cinco anos e, portanto, em idade ótima de reprodução – o que contraria a alegação do proprietário, de que se tratavam-se de vacas velhas. Além disso, a vala foi encontrada a 249,5 metros de uma nascente, o que também configura crime ambiental.

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Em outra parte da fazenda, a perícia encontrou um cemitério clandestino com 42 búfalos, 4 cavalos e 1 cachorro, além de outros ossos. “Tanto a vala, quanto o cemitério, estão situados em área de pasto, parte da vala está aberta e exposta, podendo transmitir doenças aos animais vivos, tanto de seu próprio rebanho, como animais silvestres nativos, a área estava repleta de urubus, que podem levar zoonoses aos demais rebanhos e até pessoas no entorno, caso algum dos cadáveres estiver contaminado”, completa o laudo.
Source: Rural

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