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Uma série de fatores econômicos impacta diretamente o consumo de carnes no Brasil. Nos últimos anos, quando o país se recuperava da recessão econômica vivida entre 2014 e 2016, o mundo foi surpreendido pela pandemia sanitária mundial. O PIB nacional teve uma forte queda (-3,9%) com reflexos na renda média da população. 

 

Segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o rendimento domiciliar per capita em 2020 foi de R$ 1.380, recuo de 4,1% frente a 2019, que foi de R$ 1.439.

Para 2021, considerando os dados do 2ºtrimestre, do boletim “Desigualdade nas Metrópoles” (PUC-RS), a estimativa é de uma renda per capita de R$ 1.326, ou seja, é esperado mais um ano de recuo.

Paralelamente à queda na renda da população, os preços das carnes subiram no mercado interno, conforme gráfico 1, que mostra a evolução das cotações das carnes bovina, suína e de frango no atacado desde 2019.

Gráfico 1 – Evolução dos preços das carnes bovina, suína e de frango no atacado em São Paulo, em R$/kg. (Foto: Fonte: Cepea / Elaboração: CNA )

 

Essa alta é explicada por uma série de motivos, mas principalmente pelo aumento nos custos de produção da pecuária (ração, energia, combustíveis etc.), além da questão da demora em se equilibrar o ciclo pecuário, que refletiu em uma menor oferta de bovinos para abate nos últimos anos. As exportações brasileiras também foram alavancadas por uma maior demanda internacional.

Mudanças no perfil do consumidor brasileiro

No Brasil, o menor poder aquisitivo da população, provocado pela deterioração do mercado de trabalho e pela aceleração da inflação, levou a uma procura por uma diversificação do consumo de proteínas. O gráfico 2 mostra a evolução do consumo per capita de carnes bovina, suína e de frango no País, em quilos por ano.

Gráfico 2 – Evolução do consumo per capita de carnes bovina, suína e de frango no Brasil, em kg/ano. * Estimativa Obs. A soma das 3 proteínas é de 95,3kg/hab. em 2021. Para uma comparação: China (53,4kg/ano); EUA (88,4kg/ano) e Argentina (112,7kg/ano). (Foto: Fonte: IBGE / USDA / Elaboração: DTec/CNA )

 

Observe que no caso da carne bovina, o consumo per capita, que chegou próximo de 40kg anuais entre 2010 e 2014, recuou para próximo de 38kg nos anos seguintes, com a crise econômica de 2014/2016 e em 2020, com a pandemia de covid-19, caiu para 35,9kg por habitante por ano. 

Para 2021, a estimativa é de um consumo per capita de 32,8kg de carne bovina, queda de 8,7 % em relação a 2020 e 13,1% abaixo do registrado em 2019, o equivalente a 4,93kg a menos por habitante. 

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Para uma comparação, nesse mesmo período (2019 a 2021), o consumo per capita de carne de frango aumentou 4,0% no País, atingindo 48,3kg por ano, o maior volume da série histórica analisada. 

Para a carne suína, a situação foi de queda no consumo per capita em 2020 no Brasil, mas com uma retomada do crescimento em 2021. Esse movimento é explicado pela alta nos preços do produto em 2020, acompanhando as valorizações no mercado internacional, impulsionadas pela forte demanda da China, e, posteriormente, os recuos verificados nos preços em 2021.

Expectativas

Para 2022, mesmo com a continuidade na recuperação do mercado de trabalho, o desemprego ainda está em alto patamar no país. Com isso, e considerando a baixa renda média domiciliar per capita da população, não há uma expectativa no mercado por um aumento da demanda por carnes.

Apesar das expectativas de consumo interno fraco, haverá dificuldades para recuos nos preços das carnes no País. 

Esse quadro se dá em função das expectativas de exportações aquecidas, mas especialmente devido aos custos elevados de produção da pecuária e da oferta ainda reduzida de animais terminados na próxima temporada, que deverão seguir pressionando os preços na base produtiva e demais elos da cadeia, incluindo o consumidor final.

*Rafael Ribeiro é assessor técnico da Comissão Nacional de Pecuária de Corte da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA)

**as ideia e opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade exclusiva de seu autor e não representam, necessariamente, o posicionamento editorial da revista Globo Rural
Source: Rural

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