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Despois de um período de complicações trazidas pela Covid-19, o ano de 2021 – quando se comemora 80 anos de relações diplomáticas bilaterais – foi de retomada das exportações de frutas do Brasil para o Canadá. Apesar do mercado canadense não ter uma representatividade significativa nos embarques de frutas brasileiras, o interesse tem sido cada vez maior, de acordo com a Câmara de Comércio Brasil-Canadá (CCBC), o que tem sido oportunidades, especialmente, para pequenos produtores.

Hoje, o Brasil ocupa a 16ª posição dentre os países que mais exportam produtos para o Canadá (Foto: Jason Rosenberg/CCommons)

 

Armínio Calonga Jr., gerente de negócios da CCBC, lembra que, no primeiro ano de exportações de frutas, foram embarcados apenas 240 quilos de figo. "Não é nada, corresponde a umas 40 caixinhas. É muito pouco, mas no ano seguinte, já passou de 6 toneladas, com a entrada também do caqui e da atemoia. Depois, esse valor saltou para um número entre 20 e 30 toneladas. Hoje, se não fosse a pandemia, já teríamos passados das 1.500 toneladas, que foi a quantidade que fechamos em 2019”.

Os problemas na logística internacional também afetou o fluxo comercial. Com as medidas de restrição no Canadá, houve uma diminuição no número de voos e navios de carga. 

Segundo Marcelo Oliveira, que exporta frutas para o país, no início da pandemia, todos os voos para o país foram cancelados; depois, passou a ter apenas um voo semanal (que servia tanto para carga quanto para passageiros); em seguida, os voos de apenas carga voltaram, porém, ainda na frequência de um por semana; até que, mais recentemente, em setembro, mais voos foram anunciados. “Agora são seis voos por semana, então, voltou quase praticamente ao normal”, diz ele.

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Apesar das dificuldades ainda persistentes no transporte, as exportações aumentaram, de acordo com os dados da Câmara Brasil-Canadá. De janeiro a setembro deste ano, frutas como melão, mamão, figo e melancia apresentaram crescimentos significativos, todos acima de 50% em relação ao mesmo período no ano passado. Em alguns casos, os embarques mais que dobraram, como os de atemoia (172%), uva (178%) e goiaba (205%). Mesmo crescentes, os volumes ainda são baixos em números absolutos.

Segundo Calonga Jr., na maioria dos casos, os resultados indicam uma recuperação dos volumes de antes da pandemia. Mas há casos de crescimento real. A exportação de melão, por exemplo, aumentou 57%, atingindo US$1,7 milhão por 3.146 toneladas exportadas. O exeuctivo acresdita que a situação é fruto de um novo acordo entre os produtores brasileiros e os vendedores canadenses, com participação da CCBC.

No que diz respeito a acordos, inclusive, Calonga Jr. aponta que já existem, há alguns anos, discussões sobre a criação de uma proposta bilateral que intensifique as relações comerciais entre os países – em diversos setores, não apenas no agronegócio. “A gente nunca esteve tão evoluído nas negociações, mas a pandemia acabou atrapalhando isso também, pois esses acordos contam com muitos encontros presenciais”, afirma.

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Além disso, ele ressalta: “estar no Mercado Comum do Sul (Mercosul) impossibilita o país de estabelecer um acordo especificamente Brasil-Canadá. É preciso levar consigo todo o Mercosul, então, a relação seria Mercosul-Canadá, o que também torna as coisas mais complexas. Sem dúvidas, isso facilitaria demais o comércio, pois colocaria o Brasil a pé de igualdade com outros países que vendem frutas para o Canadá. O México, o Chile e algumas nações da América Central são beneficiadas nessa competição por deterem acordos bilaterais”.

No relatório “Acordo Mercosul-Canadá”, a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) aponta que, com base no cálculo do Índice de Desvantagem Comparativa Revelada (IDCR), a assinatura de um acordo de livre comércio entre o bloco e o país norte-americano poderá aumentar em até US$7,8 bilhões a receita das exportações brasileiras de bens agropecuários. Somente em relação às frutas, o potencial de comércio é de US$751,7 milhões.

O documento comprova a fala do gerente da CCBC e indica, por exemplo, que o Canadá importa melões dos Estados Unidos, Guatemala e Honduras, mas, enquanto os preços médios FOB pagos por tonelada do produto brasileiro variam de US$ 593,70 a US$ 754,70, a média mundial chega a US$ 811,80.

Nesse sentido, o relatório conclui que o país seria amplamente beneficiado pela assinatura do tratado, em especial, no caso das vendas de frutas, cereais, sucos e hortaliças, mas não restrita a elas. Isso, porque a remoção das barreiras, “na prática, relançam os sócios sul-americanos na agenda de abertura comercial” e  “poderão abrir portas para acordos com outros países – estratégia fundamental para consolidar o agronegócio brasileiro nas principais cadeias globais de alimentos e bebidas”.

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Mas, hoje, a quem é benéfica as trocas comerciais com o Canadá?

No contexto em que enfrenta a competição pelo mercado canadense com outros países – que, por vezes, possuem acordos para circulação e estão localizados geograficamente mais próximos do Canadá -, o Brasil encontra espaço para atuação nos períodos de entressafra. A diferença dos hemisférios faz com que os brasileiros consigam oferecer produtos cujo período de oferta no norte do globo já tenha cessado.

Segundo Oliveira, o período mais intenso do fluxo das exportações para o país norte-americano é justamente no final do ano, com a Primavera e o Verão presentes abaixo da Linha do Equador. E, assim, os destinos principais dessas frutas encontram-se nos supermercados de cidades populosas como Montreal, Vancouver e Toronto.

Com essa dinâmica, a CCBC afirma que é possível inserir os pequenos produtores no país. A partir do diálogo entre os exportadores no Canadá e esses microempreendedores, ocorrem dois movimentos: tanto a busca ativa canadense por um alimento no Brasil quanto a oferta brasileira nesse novo mercado. Calonga Jr. pontua que isso permite que se introduza a mercadoria desses agricultores mesmo que em pequenas quantidades. “Já tivemos momentos em que alguns produtores escoavam apenas 400 ou 600kg de frutas, às vezes, todas as semanas ou uma vez na semana ou a cada 15 dias”.

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Lucas Brotto, cuja fazenda está localizada em Campinas (SP), reitera o interesse no Canadá do ponto de vista de um desses pequenos produtores. Questionado sobre o diferencial do país frente a outros destinos de exportação, o fruticultor destacou o comprometimento, tanto no que se refere ao processo de envio das frutas quanto ao pagamento pelo serviço.

“Os canadenses são bem regrados. Com data, se o embarque é, por exemplo, na quarta-feira, isso não pode falhar. Eles, normalmente, também não cancelam pedidos em cima da hora, como é um problema, às vezes, com a Europa. E, quanto aos pagamentos, eles fazem tudo corretamente e no dia combinado”, explica Brotto, que, hoje, escoa de 30% a 35% das suas frutas para o Canadá.

Devido a esse comprometimento, o produtor acrescenta que a dificuldade para atender esse mercado está em entregar as frutas com a qualidade e a regularidade desejadas, pois, segundo ele, essas são as duas principais características exigidas pelo país em suas trocas comerciais. Isso, porém, não interrompe o interesse por parte do empresário, que alega um crescimento anual contínuo de cerca de 15% no número de suas exportações.

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O mesmo vale para os seus colegas de profissão. O agricultor indica que o Canadá “está sendo muito falado agora pelos produtores aqui do Brasil e esse número de interessados cresce a cada ano”. Segundo Oliveira, que também é o responsável por realizar as exportações das frutas cultivadas por Brotto, a expectativa é que a sua operação cresça em 30% nesta safra.

Para o exportador, o Canadá tem se tornado, cada vez mais, um destino importante para os pequenos fruticultores brasileiros, em especial os mais jovens. “A primeira geração construiu o que temos hoje. Com a passagem da fazenda para os seus filhos, que tem uma cabeça nova, com outras dimensões, eles seguem em outra direção e incorporam novas tecnologias. Os pais tinham uma preocupação imediata com o mercado nacional, já essa segunda geração pensa para além do território”.

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Source: Rural

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