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O mundo precisou se reorganizar nestes últimos dois anos. No ambiente competitivo dos negócios, quem não se adaptou, e rápido, padeceu. Nós, brasileiros calejados, até que temos uma vantagem: somos bons em nos adaptar e reinventar. Sobrevivemos a destemperos constantes, como mudanças cambiais, oscilações governamentais, inflação, tributações incongruentes, e por aí vai.

O empreendedor brasileiro já nasce com a adaptação no DNA, é um fato. E, mesmo assim, não somos de ferro e sofremos como todo o mundo com essa pandemia. Negócios, serviços, estruturas e governos – todos, de uma forma ou de outra, tiveram que configurar novos cenários para continuar a existir. Ainda somos incapazes de mensurar totalmente os resultados da aceleração da transformação digital que impactou a vida de bilhões de pessoas, mas já é claro que o mundo mudou em definitivo, e que não há como voltar atrás.

 

Já sabemos, no entanto, que o universo online, que já estava em crescimento antes, teve seu desenvolvimento acelerado por, ao menos, uma década. O costume da compra online, do delivery, que já era comum em uma parte da sociedade, alastrou-se para quase todos os segmentos, entre eles o agronegócio. Serviços e bens que antes só eram vendidos em prateleiras de lojas rurais (revendas ou cooperativas) passaram a ser entregues, necessariamente, dentro das porteiras das fazendas.

Adubos, insumos, sementes, implementos, agora são entregues como um lanche, um livro ou outro item de consumo que aguarda nas portarias de edifícios residenciais de uma grande metrópole. Isso acontece porque, no fundo, o varejo, os processos de compra e venda, sejam elas feitas na cidade ou no campo, são muito mais similares do que imaginávamos. Na realidade, não há tecnologias de varejo utilizadas nas cidades que não possam também ser aplicadas ao campo sem profundas mudanças. E a pandemia escancarou isso. Mas, nesse processo da criação de um varejo eficiente para o agronegócio, estamos apenas começando.

Fazendo a analogia entre essas mudanças no varejo e a adoção recente de tecnologias, percebemos que o momento de transformação é transversal e não tem volta. Foi graças à introdução de diversas tecnologias que a produção de alimentos foi triplicada no mesmo hectare de terra. Com a adoção delas, o Brasil alcançou a liderança mundial na produção de importantes cultivos, como soja, café e algodão.

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Vejamos os números: segundo dados do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), o agronegócio alcançou a participação de 26,6% do PIB (Produto Interno Bruto) no Brasil em 2020. Em valores monetários, dos R$ 7,45 trilhões registrados no ano passado, o setor foi responsável por R$ 2 trilhões – 24,3% superior ao resultado de 2019. A safra 2021/2022 promete novo recorde. Segundo o último levantamento da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento), esta safra deve ultrapassar 289,8 milhões de toneladas de grãos, um acréscimo de 37 milhões de toneladas em relação ao ciclo anterior.

Os números são extraordinários e, até o momento, sempre crescentes. Mas isso não quer dizer que será sempre assim. A pandemia tem causado algumas mudanças importantes e também preocupantes. A mais relevante para agronegócio brasileiro está ligada à China: acredita-se que o crescimento deste país, que alcançava dois dígitos anualmente, ficará no passado.

É o que mostram as análises da Academia de Ciências do Agronegócio na China (CAAS) e do Ministério da Agricultura e Assuntos Rurais da China (MARA). Segundo estes órgãos, o crescimento chinês deve cair pela metade do que foi registrado nas últimas décadas, com uma média prevista de 4,9% até 2030. Estes números preocupam o Brasil, visto que a China é o maior parceiro comercial do País, responsável pela compra de 32,3% de tudo o que foi exportado no ano de 2020.

Entretanto, vários analistas de mercado não acreditam que esta redução de crescimento causará grandes impactos nas exportações brasileiras, mas sim no aumento da concorrência com outros países com os quais a China tem criado acordos. Como, por exemplo, países africanos e, possivelmente, os EUA. Existe a possibilidade de aumento de compra pela China de outras commodities, como café e açúcar, mas este cenário ainda está se configurando.

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Ainda, para complicar o desafio do aumento de competitividade internacional frente ao mercado brasileiro, soma-se a crise energética da China que impactou diretamente a indústria química. Muitas fábricas deste país foram solicitadas a reduzir o uso de energia ou, até mesmo, fechar por alguns dias, ocasionando a falta de insumos e matéria-prima. A crise energética impulsionou o aumento do preço do barril de petróleo, que atingiu o maior valor dos últimos três anos, e do gás natural que, na Europa, já atingiu patamares de aumentos de preço na casa de 1.000%, impactando o mundo todo.

Ainda outros fatores se somam a este cenário e complicam a situação de fornecimento de insumos, principalmente o de fertilizantes. São quatro os principais pontos que impactam a disponibilidade deste, que é um dos principais insumos do plantio mundial e brasileiro. Um deles, se refere à crise energética citada acima.

Outro ponto, tão importante quanto, se refere às sanções econômicas impostas à Bielorrússia, um dos maiores produtores de potássio mundial. Estas sanções são oriundas de um conjunto de medidas internacionais tomadas pelos países europeus e pelos EUA contra o caráter antidemocrático do governo local. Outros dois fatores – o aumento dos fretes marítimos em função da escassez de contêineres e mão-de-obra portuária, bem como do congestionamento dos mesmos; e as restrições de exportações adotadas pela China, Rússia e Egito – limitam as exportações de fertilizantes para o mundo.

Com este cenário crítico, o mercado mundial passou a viver uma grande crise de fornecimento de insumos agrícolas.  A curto prazo, com a situação de imprevisibilidade, é recomendável que o agricultor brasileiro se previna antecipando e garantindo as suas compras de insumos para a safra atual e para a safrinha. Mas, a médio e longo prazo, a situação exige preparo, não somente dos agricultores, mas de toda a cadeia do agro, incluindo a compra e venda no varejo agrícola. O lado positivo é que esta é justamente a área em que há o maior potencial de desenvolvimento tecnológico.

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Enquanto nos últimos 20 anos a produtividade brasileira se transformou, o varejo – a relação comercial no segmento – ficou estagnada. A configuração dos canais de vendas e o modelo de relação comercial dos insumos agrícolas é similar de norte a sul do país. Os modelos ficaram presos no tempo e no ambiente tradicional da sala simples de atendimento atrelada a um barracão de produtos para retiradas emergenciais. 

Pouco, ou quase nada, se oferece além disso e da prestação de alguma assistência técnica no campo. O ponto é que o mundo mudou e os agricultores também mudaram. Mais eficientes e exigentes, eles demandam por muito mais. E é exatamente neste ponto que se conectam as oportunidades e a transformação dos negócios e das relações. Assim, quebrando o tabu do tradicionalismo instaurado, o agro se reinventa mais uma vez. Nasce a “era das experiências”: uma extensão das mudanças vivenciadas pelo varejo de consumo, agora, transformadas para impulsionar o agronegócio.

Hoje, com a tecnologia disponível, a revenda, o barracão de armazenamento de insumos, o papel dos representantes comerciais e das cooperativas, terão que ser revistos. Eles têm que agregar valor ou estarão fadados a desaparecer. Está na hora de transformarmos os tradicionais pontos de vendas (PDV) e, finalmente, os convertermos em pontos de relacionamento de experiências (PDX).

Afinal, com um simples telefonema, por computador, do próprio celular, sem sair da fazenda, o agricultor pode agendar a compra e entrega de qualquer insumo, semente ou adubo. Ele não precisa mais da revenda analógica para a aquisição desses bens, nem para tomar um “cafezinho”. Se é para o agricultor se locomover até uma revenda, que seja para ser recebido em um centro tecnológico, especializado, preparado para educar e alavancar o conhecimento desse agricultor e ajuda-lo a impulsionar os negócios.

Ele precisa sentir que seu tempo foi recompensado, que obteve algo a mais do que ele poderia ter consumido sentado em seu pátio olhando o pôr do sol ou tomando uma limonada com os filhos. E é isso que a Nutrien está fazendo com a inauguração dos Centros de Experiência: reinventando a revenda agro. Há muito tem se falado sobre o agronegócio 4.0, impulsionamento digital, transformação de negócios, entre tantas tendências e modernidades. Está na hora dessas ideias saírem do papel e serem, finalmente, implementadas.

*Cíntia Leitão de Souza é diretora de Marketing da Nutrien América Latina

**as ideias e opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade exclusiva de sua autora e não representam, necessariamente, o posicionamento editorial da revista Globo Rural
Source: Rural

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