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Nem tudo são flores na relação entre vizinhos. Porém, para o agricultor, são justamente elas, as flores, que podem atrair visitantes dos arredores muito bem-vindos: os polinizadores. Esses animais são imprescindíveis para a melhoria da produtividade das lavouras. Das 107 culturas agrícolas que lideram a produção global, 85% são beneficiadas pelas abelhas e outros polinizadores. Os benefícios da polinização são traduzidos em mais frutos, maiores, mais vistosos, com maior valor nutricional, maior tempo de prateleira, o que agrega maior valor de mercado.

 

Mais do que nunca, estamos vivendo um momento em que é imprescindível conhecer ainda mais os polinizadores e a relevância do serviço que eles prestam, tanto do ponto de vista alimentar quanto do meio ambiente. As abelhas são nossos principais polinizadores. No mundo, conhecemos cerca de 20 mil espécies e o Brasil possui mais de 1.900. Muitas delas são conhecidas por serem eficientes na polinização agrícola e por terem grande potencial de manejo.

Para mantermos os serviços de polinização realizados pelas abelhas nas paisagens agrícolas, devemos conservar e manejar os recursos essenciais para sua sobrevivência. Estes incluem habitats adequados para fazerem seus ninhos (como cavidades arbóreas, bambus, madeiras podres, cavidades no solo), para obterem seus alimentos (flores que ofertem pólen, néctar, óleo) e outros recursos necessários para sua sobrevivência (como água limpa, sombra, resinas, fibras, óleo, barro).

Áreas de vegetação natural dentro e no entorno dos campos de cultivo frequentemente oferecem tais habitats. Como as abelhas sempre regressam aos seus ninhos após suas viagens a campo para coleta de alimento nas flores, a proximidade dos habitats naturais aos cultivos é um dos principais determinantes da polinização agrícola.

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Alterações na paisagem agrária impactam as populações de abelhas, os serviços de polinização e, consequentemente, a produção do campo (além de alimento, as abelhas beneficiam culturas utilizadas nos setores de medicamentos, fibras, biocombustíveis, adubo verde). A constatação mais óbvia é que a subtração de áreas naturais leva à redução de espécies de polinizadores. Por diversos fatores, como a diminuição de recursos alimentares, de moradia e o isolamento físico e genético das populações.

Outro problema é que o aumento da distância entre as áreas naturais e as de cultivo afetam negativamente a diversidade de visitantes florais e a produtividade agrícola. Quanto maior essa extensão, maior o declínio de espécies de polinizadores e o prejuízo à colheita. Nas lavouras distantes 1km das áreas de matas, há uma redução de 35% das espécies de insetos selvagens e de 16% na produção de frutos. Isso porque muitas das espécies nativas não voam distâncias tão longas para procurar por alimento.

Está claro que a simplificação das coberturas vegetais e o aumento do isolamento entre as lavouras e os habitats naturais comprometem a diversidade de polinizadores e dos serviços de polinização das culturas. Esse conhecimento mostra claramente que os produtores rurais precisam se preocupar com as alterações na paisagem agrícola, seja conservando as áreas naturais existentes, seja recuperando as degradadas, preferencialmente com ações de reflorestamento com espécies nativas.

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Muitas vezes, práticas sustentáveis que visam melhorar a qualidade de áreas dentro e no entorno das propriedades agrícolas podem ser encaradas pelo produtor como algo que afetará negativamente seus interesses econômicos. Contudo, o que deve ficar claro é que se o produtor adotar tais medidas, ele beneficiará diretamente os polinizadores e as culturas agrícolas por eles polinizadas. Essas ações também reduzirão os gastos com pesticidas (inseticidas, herbicidas, fungicidas), pois essas áreas também abrigarão agentes de controle biológico de pragas.

É urgente que o setor agrícola, em especial, adote práticas sustentáveis que visem a conservação de polinizadores, já que eles estão diretamente ligados à segurança alimentar e à diversidade e estabilidade nos preços de venda de produtos agropecuários. Assegurar a manutenção e diversidade de polinizadores em áreas de cultivos significa maximizar a produtividade agrícola, conservar a biodiversidade e aumentar a capacidade de recuperação de serviços ecossistêmicos. É positivo para a agricultura, para a sociedade e para todo o planeta.

*Denise de Araujo Alves é pós-doutoranda do Departamento de Entomologia e Acarologia da Esalq-USP e integrante do comitê científico da Associação Brasileira de Estudos das Abelhas (A.B.E.L.H.A)

**as ideias e opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade exclusiva de sua autora e não representam, necessariamente, o posicionamento editorial da revista Globo Rural
Source: Rural

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