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Além de ambientalmente responsável, reformar pastagens e investir no aumento da produtividade pecuária na Amazônia pode ser mais barato do que derrubar florestas visando a abertura de novas áreas. É o que aponta estudo divulgado nesta quarta-feira (1/9) comparando os custos necessários para fazer frente ao crescimento de 1,4% ao ano na produção brasileira de carne bovina projetada pelo Ministério da Agricultura.

Embora seja mais econômica, reforma de pastagens compete com a alta dispobilidade de terras para abertura de novas áreas na Amazônia (Foto: Globo Rural)

 

Partindo de um aumento na produtividade de 80 quilos por hectare para 300 quilos por hectare, proporcionado pela melhoria das condições de pastagem, o estudo avalia que seria necessária a recuperação de 170 mil hectares a um custo de R$ 270 milhões por ano para atender ao crescimento esperado da demanda por carne bovina nos próximos anos. Essa área corresponde a 0,37% do total de pastos degradados no país. Já a expansão sobre áreas de vegetação nativa demandaria 633,9 mil novos hectares sem ganho de produtividade e a um custo 71,5% superior, avaliado em R$ 950 milhões.

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“Se pegássemos todo o pasto degradado no país hoje e transformássemos amanhã em pasto bom eu não teria nem boi para mandar de tanta área que tem e, se tivesse boi, o preço da carne iria lá pra baixo, porque é muita área que o Brasil já desmatou”, observa o pesquisador associado do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), Paulo Barreto, ao lembrar que há mais de 90 milhões de hectares de pastos degradados no país.

Porém, apesar da viabilidade econômica e financeira da recuperação dessas áreas, Barreto ressalta que, para muitos produtores, essa opção é menos atrativa quando comparado ao desmatamento. 

“Vários ministros já mencionaram que não precisa desmatar e que temos áreas para produzir. Mas a solução que é dada tende a ser uma solução mais técnica e simples, de treinar os pecuarista e dar credito, mas isso é insuficiente dado que a baixa produtividade está associada a uma coisa mais complexa e parte grande disso é a facilidade de acesso a terra, principalmente pela grilagem com uma finalidade que é em grande parte especulativa”, destaca o pesquisador do Imazon, ao lembrar que parte das políticas adotadas pelo governo hoje vai no sentido contrário, estimulando a ocupação ilegal de terras públicas.

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Entre essas medidas, o pesquisador cita o projeto de lei de regularização fundiária em tramitação no Senado, que amplia de dezembro de 2011 para dezembro de 2014 o marco legal de regularização de terras públicas ocupadas por terceiros. “É isso que a regularização fundiária faz. Perdoa o crime e ainda dá um desconto no valor da terra. Ou seja, ele cria, ao fazer isso, um incentivo para novas ocupações. Então esse modelo de regularização fundiária é totalmente inadequado e absurdo”, critica Barreto, ao defender um maior rigor do setor privado nas compras de gado dentro do bioma amazônico.

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“A gente já sabe onde está o risco do desmatamento. Vários estudos já mostram. Então os frigoríficos deveriam ter uma atuação mais ativa de demandas rastreamento. Eles estão fazendo isso com a meta de atingir o rastreamento total até 2025. Mas isso está muito longe, a gente e não pode esperar até 2025”, completa o pesquisador.

Ele estima que menos de 10% do total do crédito rural oferecido aos pecuaristas da Amazônia Legal seria suficiente para reformar os 170 mil hectares de pastagens necessários para atender ao crescimento da demanda pela carne bovina brasileira.

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“Quando você vai ver os números, o crédito rural para a Amazônia é relevante. Só para a pecuária, pegando os dados do Banco Central, foram R$ 9,5 bilhões em 2019. É muito dinheiro”, destaca o pesquisador. Esses recursos, contudo, têm sido alocados para custeio e investimento relacionado aos animais, mas em menos de 2% dos casos foram usados para reforma de pastagens. “Isso significa que não é uma questão de não ter o dinheiro. Mas de quais são as regras e se elas induzem ou não o uso do recurso para ganho de produtividade”, completa Barreto.
Source: Rural

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