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Terceiro maior produtor mundial de carne suína, depois da China e dos EUA, o Brasil entrou em estado de alerta nas últimas semanas depois que foi confirmado o primeiro foco de peste suína africana nas Américas. Contudo, mesmo com o aumento do controle nas granjas comerciais e nos portos e aeroportos, especialistas em sanidade animal ressaltam que o risco de o vírus entrar no país é alto, o que poderia gerar uma avalanche de embargos à carne suína brasileira.

Veterinários e cuidadores de animais usam roupas de proteção durante desinfecção de fazenda de suínos na China após casos de peste suína africana (Foto: Stringer/Reuters)

 

“A República Dominicana é um país basicamente turístico, está muito próximo do Norte do Brasil onde nós temos uma suinocultura não tecnificada e de subsistência. Pelo menos na minha opinião, é ali que teríamos que ter o máximo de reforço em relação a biosseguridade”, destaca o médico veterinário e gerente da área de suínos na América Latina da SANPHAR Saúde Animal, Paulo Bennemann.

Histórico

Ele lembra que o Brasil já teve casos da doença na década de 70, o que comprometeu o desenvolvimento do setor até 1984, quando recebeu o reconhecimento internacional de zona livre da Peste Suína Africana. “Até então, a PSA era considerada endêmica no Brasil. Foi feito todo um trabalho de erradicação e de 1984 em diante não tivemos mais nenhum caso. E como o vírus, naquela época, entrou no país? Justamente em suinocultura de subsistência”, recorda o médico veterinário.

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O caso aconteceu em 1978, no interior do Rio de Janeiro, como conta a professora de patologia suína da Universidade Federal do Paraná, (UFPR), Juliana Sperotto Brum. “Era um senhor que alimentava seus suínos com restos alimentares obtidos de um restaurante que fornecia refeições para uma companhia aérea na época. Então, esse voo veio de Portugal pra cá e trouxe o vírus junto com essa alimentação que era servida pras pessoas e que, ao ser descartada, foi oferecida aos animais sem tratamento térmico”, explica a médica veterinária, ao ressaltar que o turismo é a principal porta de entrada da Peste Suína Africana nos países.

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“Agora que teve um caso na República Dominicana, aumenta muito o risco, porque a gente tem cruzeiro, voo direto, e é um dos poucos destinos ainda abertos para os brasileiros após a pandemia. Então, existe essa probabilidade maior do vírus entrar dessa maneira”, ressalta a médica veterinária, ao avaliar que “estamos bem mais expostos que antes”.

Subsistência vulnerável

Resistente ao processamento da carne suína e sem risco à saúde humana, o vírus da Peste Suína Africana é transmitido, principalmente, a partir da ingestão, pelos animais, de restos alimentares contaminados, além do contato com a secreção de outros animais infectados.

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É justamente por essas características que os especialistas apontam ser extremamente improvável que granjas grandes, ligadas a grandes indústrias e cooperativas, registrem casos da doença. Com os animais alimentados com ração e protocolos rígidos de biosseguridade, esses estabelecimentos redobraram os cuidados sanitários desde que a doença começou a se espalhar por rebanhos do mundo todo. “Eu, por exemplo, não consigo mais fazer aula prática em granja. Não tem mais como fazer”, relata a professora da UFPR.

A realidade das pequenas criações, contudo, é bem diferente. “Eu sou uma defensora das criações de subsistência e acho que a gente tem que ensinar. Falar para eles que não pode deixar pessoal de fora entrar, pois a gente pensa que isso não acontece, mas acontece. Principalmente com quem trabalha com produtos especiais, o pessoal vem de fora conhecer as granjas”, conta Brum.

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Controle das fronteiras

Nos portos e aeroportos, o risco também é grande. De acordo com o diretor de comunicação e relações públicas do Sindicato dos Auditores Fiscais Agropecuários (Anffa Sindical), Antonio Andrade, apenas 5% das cargas que chegam ao Porto de Santos, no litoral paulista, são vistoriadas presencialmente. Só no aeroporto de Guarulhos, onde uma força-tarefa foi montada, mais de uma tonelada de produtos foi apreendida em menos de um mês.

“Dessas toneladas, quase 15 quilos era de produto derivado de suíno. É muita coisa, a gente não consegue pegar tudo”, relata o auditor fiscal agropecuário. Segundo Andrade, o Brasil tem cinco aeroportos que recebem voos diretos da República Dominicana, onde o Ministério da Agricultura (Mapa) tem concentrado esforços. A determinação, conta, é para que 100% das bagagens de passageiros vindos do país sejam vistoriadas.

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“Temos que ficar em alerta, porque há muito tempo que o continente americano não tinha nenhum relato de PSA e o vírus entrou de alguma forma. Com a globalização e fluxo aéreo e marítimo que temos hoje, entrou por um descuido. Então, acho que temos, sim, que manter essa vigilância e reforçar esses cuidados”, alerta Bennemann, da SANPHAR, ao destacar os prejuízos que um possível caso geraria à suinocultura brasileira.

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“O principal impacto esta relacionado à economia. No momento em que é feito um diagnóstico positivo de PSA, o país inteiro é tido como positivo. Não interessa se é numa suinocultura de fundo de quintal no Norte do Brasil ou numa granja altamente tecnificada no Sul do país. É considerado o país e não a região. E a primeira coisa que acontece nessa situação é a suspensão total das exportações”, completa o médico veterinário.
Source: Rural

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