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O Brasil é o maior produtor e exportador de café, com 42,3 milhões de sacas de 60 quilos colhidas em 2020 e recorde de exportações de 36,80 milhões de sacas – crescimento de 1,3% em comparação ao ano anterior, de acordo com dados do Ministério da Agricultura.

Os dados sobre a produtividade do café geram expectativa a cada safra, e os valores de alta são sempre muito celebrados, já que a cadeia produtiva cafeeira gera emprego e renda para um universo de 290 mil produtores, tendo boa parte da produção em áreas pequenas, geridas pela agricultura familiar.

 

Por isso tudo, a cafeicultura é um sistema importante para entender a indispensável relação entre produção agrícola, biodiversidade e serviços ecossistêmicos.

Este é o objetivo de um projeto de pesquisa científica, que está em andamento, e é financiado em parceria entre Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Ibama, Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC) e Associação Brasileira de Estudos das Abelhas (A.B.E.L.H.A.).

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O desenvolvimento dos grãos de café leva meses até o ponto certo da colheita, e tudo tem início com a fecundação nas flores (quando os grãos de pólen chegam à parte feminina da flor e fecundam os óvulos, iniciando a formação dos frutos).

É verdade que os grãos de café podem ser formados por autopolinização, ou seja, sem ação de animais; mas a taxa de frutificação é muito maior quando o serviço de polinização é feito pelas abelhas, que buscam alimento nas flores e, nas visitas, transferem grãos de pólen entre flores, o que rende maior produtividade nos cafezais.

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Em áreas que avaliamos no Espírito Santo (ES), no Rio de Janeiro (RJ) e no Paraná (PR), observamos aumento de até 21% na frutificação pela ação das abelhas. Este aumento significativo foi observado comparando flores visitadas com flores que não tiveram visitas das abelhas.

Um ponto muito importante é que não estamos nos referindo somente à abelha africanizada, espécie mais conhecida e que certamente faz este serviço. Outras espécies, nativas do nosso país, fazem um eficiente trabalho de polinização e em conjunto compõem um grupo muito maior e mais abundante nas áreas agrícolas.

As abelhas silvestres fazem a polinização das flores dos cafeeiros e aumentam a biodiversidade nas áreas agrícolas, favorecendo também a produção agrícola como um todo

Maria Cristina Gaglianone

Em nosso projeto, detectamos 41 espécies de abelhas em flores de café arábica nos Estados do Espírito Santo, Rio de Janeiro e Paraná, e 25 em áreas de conilon no Espírito Santo; todas estas espécies são abelhas silvestres e a maioria delas pertence ao grupo das abelhas sem ferrão.

Algumas abelhas sem ferrão permitem o manejo em caixas, e já existem iniciativas no Brasil fazendo a sua introdução em áreas de cultivo de café. É importante salientar que esta introdução só deve ser feita com espécies silvestres que já ocorrem naturalmente na região e que comprovadamente visitam as flores do cafeeiro.

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O manejo, entretanto, não é possível para todas as espécies de abelhas sem ferrão. Como exemplo, a Schwarziana quadripunctata, conhecida como abelha-mulata ou mombuquinha, que ocorre com frequência e poliniza as flores do café arábica e também do conilon, é de difícil manejo, pois constrói ninhos no chão. O mesmo acontece para muitas espécies de abelhas silvestres não sociais que igualmente aumentam a produtividade dos cafeeiros.

Para elas, estratégias eficazes e que contribuem para a produção de café necessariamente envolvem conservar os hábitats naturais e as matas nas proximidades das áreas de produção e evitar o uso de agrotóxicos, possibilitando assim paisagens mais amigáveis aos polinizadores.

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O declínio das populações de abelhas deve ser uma preocupação para todos e, mais ainda para os produtores de café que tanto se beneficiam dos serviços prestados por elas. As abelhas silvestres fazem a polinização das flores dos cafeeiros e aumentam a biodiversidade nas áreas agrícolas, favorecendo também a produção agrícola como um todo.

Por isso, conservar a biodiversidade e usufruir dos serviços ecossistêmicos com sabedoria e tecnologia adequada é uma urgência para possibilitar a produtividade a longo prazo para a nossa e para as próximas gerações.

*Maria Cristina Gaglianone é professora e pesquisadora da Universidade Estadual do Norte Fluminense (UENF), Campos dos Goytacazes (RJ), e escreveu este artigo a convite da Associação Brasileira de Estudos das Abelhas (A.B.E.L.H.A)

As ideias e opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do seu autor e não representam, necessariamente, o posicionamento editorial da Revista Globo Rural.

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Source: Rural

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