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Em junho do ano passado, as autoridades fitossanitárias da Argentina se depararam com uma sequência de infestações de gafanhotos em lavouras do país, que chegaram a causar danos às plantações e estiveram muito perto do Rio Grande do Sul.

Um ano depois, Globo Rural conversou com especialistas e a situação é de alerta. A avaliação deles é que a crise hídrica enfrentada pelo país e o clima seco são favoráveis à formação de novas nuvens, o que poderia trazer riscos à agricultura.

Nuvem de gafanhotos que atacou a Argentina no ano passado (Foto: Senasa/Divulgação)

 

O Brasil enfrenta uma crise hídrica, que, de acordo com Ricardo Felicetti, chefe da Divisão de Defesa Sanitária Vegetal da Secretaria da Agricultura do Rio Grande do Sul, favorece a ocorrência de infestações por insetos, inclusive gafanhotos.

“Altas temperaturas e clima seco favorecem a mobilidade das nuvens e a dispersão destas para diferentes regiões, inclusive para o Brasil. Contudo, não há registros de gregários migratórios de gafanhotos no momento atual”, afirma Felicetti.

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Héctor Emilio Medina, coordenador do Programa de Controle de Gafanhotos e Tucuras do Serviço Nacional de Sanidade e Qualidade Agroalimentar da Argentina (Senasa​), explica que o Brasil não é uma área endêmica, portanto, apresenta uma certa segurança com relação a essas pragas no momento.

Por outro lado, alerta que o país “pode ter um impacto secundário de um possível ataque em países que fazem parte da zona endêmica, como a Argentina, Bolívia ou Paraguai, e neste caso, a seca pode afetar o desenvolvimento da peste”.

De acordo com Medina, a chave para entender como os gafanhotos se desenvolvem ocorre no inverno – iniciado na Argentina e no Brasil no último dia 21 de junho.

Se o inverno apresenta temperaturas mais quentes do que o normal, favorece o desenvolvimento da praga. Agora, se tivermos um inverno rigoroso, isso atrapalha. Atualmente, na Argentina, temos temperaturas frias, o que dá uma possibilidade de que a situação não seja tão complexa no curto prazo

Héctor Emilio Medina, coordenador do Programa de Controle de Gafanhotos e Tucuras do Senasa

Felicetti complementa dizendo que a "questão chave" para as nuvens migratórias é a ocorrência de condições predispostas na região de formação das nuvens. "Por exemplo, o deserto do Chaco engloba condições de umidade e temperatura para proliferação da espécie Schistocerca cancellata”, observa.

A seguir, confira a avaliação dos especialistas e tire dúvidas sobre os perigos de uma nova infestação de gafanhotos na Argentina e na fronteira com o Brasil.

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Onde estão os gafanhotos hoje?

Héctor Emilio Medina, coordenador do Programa de Controle de Gafanhotos e Tucuras do Senasa, afirma que as nuvens de gafanhotos foram controladas em sua grande maioria.

“Elas vieram principalmente do Paraguai e avançaram em grande parte do nosso país, nas províncias de Corrientes e Entre Ríos, no noroeste da Argentina, na fronteira com o Brasil e o Uruguai. Seguimos controlando as nuvens restantes que permaneceram ao longo de 2020 e, em 2021, realizamos ações de vigilância e não detectamos novas populações relevantes. Isso não significa que não existam gafanhotos, mas sim que estão em níveis muito baixos”, ressalta.

Ricardo Felicetti, chefe da Divisão de Defesa Sanitária Vegetal da Secretaria da Agricultura do RS, concorda. “Não há registro de nuvens no presente momento na região do Conesul. Há pequenos focos de crias na Argentina, provavelmente oriundas das migrações do ano passado, contudo não são adultos com o fenótipo migratório”.

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Existe ameaça hoje às lavouras da Argentina? E ao Brasil?

Felicetti indica que, até o momento, os monitoramentos não indicam nenhuma formação, mas alerta. “Existe a possibilidade de ocorrência de nuvens na região de formação, no deserto do Chaco”.

Medina complementa que, neste momento, a situação está calma na Argentina, porém, deve ser levado em consideração que o estado de emergência permanece. "O panorama de hoje é que não há risco direto, no curto prazo, para as lavouras da Argentina e do Brasil."

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Quais os riscos de os gafanhotos voltarem a migrar?

“O Brasil não é uma área endêmica, e como não tem a praga, não é um foco direto neste momento. Apesar de elas terem invadido o Brasil, atualmente não existem populações importantes no país", afirma o especialista do Senasa.

Ele também observa que, por outro lado, o Brasil pode ter um impacto secundário de um possível ataque em países que fazem parte da zona endêmica, como Argentina, Bolívia ou Paraguai. "Neste caso, a seca pode afetar o desenvolvimento da peste”, pondera.

A crise hídrica no Brasil pode favorecer o retorno dos gafanhotos?

Felicetti afirma que condições de déficit hídrico tendem a favorecer a ocorrência de infestações por insetos, inclusive gafanhotos. “A questão chave para as nuvens migratórias é a ocorrência de condições predisponentes na região de formação das nuvens, por exemplo, o deserto do Chaco, que engloba condições de umidade e temperatura para proliferação de gafanhotos Schistocerca cancellata”.

Sobre o panorama no país argentino, Medina afirma que, atualmente, as temperaturas frias na Argentina trazem a possibilidade de que a situação não seja tão complexa no curto prazo. “Todo monitoramento será reforçado quando a primavera começar e as temperaturas começarem a subir novamente”.

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Qual é o clima "ideal" para os insetos se reproduzirem?

“Altas temperaturas e clima seco favorecem a mobilidade das nuvens e a dispersão destas para diferentes regiões, inclusive para o Brasil”, observa Felicetti, chefe da Divisão de Defesa Sanitária Vegetal da Secretaria da Agricultura do RS.

Como é feito o monitoramento?

De acordo com Medina, o monitoramento é constante, desde quando se detecta uma nuvem, ou apenas pequenas populações das pragas. “A vigilância não é interrompida porque sabemos que a praga não está presente só porque a gente tem certeza de que não está. Além disso, devemos sempre considerar as áreas de floresta de difícil acesso também."

Sobre o Brasil, Felicetti explica que há monitoramentos locais e informações colhidas pela rede de vigilância, sob coordenação do Ministério da Agricultura. “O Mapa integra o Comitê de Sanidade Vegetal da América do Sul, que compartilha as informações de detecções e outros riscos fitossanitários entre os países membros”, afirma.

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Quais os riscos e os tamanhos de possíveis novas nuvens?

“Os riscos são altos. Não temos danos devastadores na Argentina desde 1950, mas infelizmente, nos últimos cinco anos, o risco de isso acontecer é latente. A nossa ação rápida nos últimos anos tem impedido de termos danos massivos”, afirma Medina.

Ele estima que uma nuvem de um quilômetro quadrado consome o mesmo que 2 mil vacas em um dia. “A FAO estima também que essa mesma nuvem consome a mesma quantidade de material vegetal de 35 mil pessoas em um dia”.

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Os riscos com a praga tendem a ser mais constantes neste e nos próximos anos?

“Os gafanhotos são pragas que se denominam cíclicas, eles têm ciclos de explosão. Por exemplo, na Argentina, o último pico populacional ocorreu em 1950 e voltou em 2015. Há picos de aparecimento desta praga que não são constantes, mas existem certas condições favoráveis ​​que os fazem explodir", diz Medina.

Segundo ele, não está totalmente claro, mas provavelmente tudo está relacionado às mudanças climáticas e ao aumento da temperatura da Terra. “Então, é provável que a partir de agora teremos esses picos populacionais de gafanhotos repetidamente e mais vezes, já que o aumento de temperatura favorece seu desenvolvimento”, conclui.

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Ricardo Felicetti acrescenta que não há evidência de causas específicas para as ocorrências, mas foi observada periodicidade no relato das nuvens, com a última ocorrendo na década de 1970. “Alguns fatores como influência climática e ausência de alimento no local de formação foram levantados para pesquisa”, salienta o especialista.

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Source: Rural

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