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Cientistas da Esalq/USP descobriram que o fungo Fusarium verticillioides é capaz de manipular insetos e plantas para se reproduzir e, consequentemente, infectar canaviais.

Este fungo é um dos causadores da podridão vermelha, uma das principais doenças da cana-de-açúcar e sua presença está associada à infestação do inseto conhecido como broca da cana-de-açúcar (Diatraea saccharalis).

O Centro de Tecnologia Canavieira (CTC) estima que a infestação dos canaviais pela dupla inseto-fungo cause prejuízos anuais de R$ 5 bilhões, equivalentes a cerca de 400 mil toneladas de cana que deixam de ser moídas.

Fungo é um dos causadores da podridão vermelha, uma das principais doenças da cana-de-açúcar (Foto: Heraldo Negri de Oliveira)

 

Anteriormente, os pesquisadores acreditavam que o fungo penetrava no interior dos caules da cana a partir dos orifícios deixados pela broca da cana-de-açúcar. Porém, os estudos – iniciados em 2015, agora indicam que a infecção trata-se de uma associação tripartite, ou seja, o fungo controla o inseto, na fase de lagarta e de mariposa, e também a própria planta.

Com as novas descobertas, a equipe de estudo afirma que o trabalho altera completamente o conhecimento de infecção da cana pelo fungo. “Estabelecemos aqui um novo paradigma para a associação planta-inseto-fungo na cana-de-açúcar”, afirma José Maurício Simões Bento, entemólogo da Esalq/USP.

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Infecção da cana

Os pesquisadores suspeitavam da associação entre a broca e o fungo para infectar a cana, mas aí chegaram à descoberta que, segundo eles, é o mais importante do estudo. Processos adaptativos tornaram o fungo capaz de controlar tanto o comportamento da lagarta quanto a produção de voláteis (aromas) pela planta, com a finalidade de favorecer a própria reprodução e propagação do fungo.

A contaminação faz com que a planta passe a exalar aromas específicos, que atraem as mariposas sadias da broca até a planta para serem infectadas pelo fungo. As plantas não infectadas não exalam esse cheiro. “O inseto se comunica com a planta por meio desses compostos ou ‘cheiros’”, explica a agrônoma Amanda Carlos Túler.

A forma adulta da broca é a mariposa, que coloca os ovos na planta (Foto: Heraldo Negri de Oliveira)

 

“A planta contaminada pelo fungo produz voláteis irresistíveis às fêmeas grávidas não infectadas. O inseto que normalmente não escolheria qual planta infectar, tem seu comportamento alterado. Serão estas plantas infectadas as escolhidas pelas fêmeas para depositar seus ovos,” afirma Bento.

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O processo segue da seguinte forma: uma vez que os ovos eclodem, as lagartinhas que nascem serão infectadas pelo fungo ao penetrarem na planta. Quando as brocas se tornam adultas – na forma de mariposas, ao acasalar, elas transmitem o fungo aos seus descendentes. Logo as futuras lagartas já estarão contaminadas.

“O fungo usa o inseto como vetor, ou seja, está manipulando tanto a planta quanto o inseto para se reproduzir e disseminar”, explica Bento. Ele também exalta que, pela primeira vez, a manipulação de plantas por um fungo foi demonstrada, fato que só havia acontecido no caso de vírus e bactérias.

O fungo manipula a lagarta. Ele precisa da lagarta para infectar a planta. O fungo é o maestro de uma orquestra. Ele controla a lagarta, a fêmea adulta e a planta

Marcio de Castro Silva Filho, geneticista da Esalq/USP

Geneticista da Esalq/USP, Marcio de Castro Silva Filho relata que são frequentes os relatos de perdas de 50% a 70% da sacarose de colmos atacados simultaneamente pelo fungo e pela broca.

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Source: Rural

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