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Anailê do Jacaré e seu caminhão reformado (Foto: Arquivo Pessoal)

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Seja na estrada, viajando o Brasil inteiro, ou nos porrtos descarregando cargas que serão embarcadas em navios, essas mulheres estão sempre atrás do volante e das câmeras.

Com o objetivo de provar do que são capazes e até incentivar outras motoristas, as caminhoneiras youtubers mostram seu dia a dia no trabalho. E esse movimento tem ganhado cada vez mais reconhecimento, tanto nas redes sociais quanto pelas empresas, que contratam as influencers para divulgar seus produtos.

Com 348 mil inscritos, o canal de Anailê Goulart foi um dos primeiros a produzir esse tipo de conteúdo, há sete anos. A ideia surgiu logo que ela começou a trabalhar com caminhão. “Saí em um jornal aqui na minha cidade, e alguns homens não acreditaram na história. Por isso, resolvi fazer um vídeo e provar que realmente trabalhava com isso”, conta ela, que mora em Vila Velha (ES).

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O sucesso foi tanto que a vida de youtuber logo ganhou espaço importante para a caminhoneira, que hoje administra o canal junto com o marido, Lucius Ribeiro Ramos. Foi também em grande parte por incentivo dele que ela começou na profissão. Enquanto trabalhava no escritório e ele no caminhão, os horários dos dois não batiam. Por isso, Anailê achou melhor tirar a CNH para que pudessem trabalhar juntos.

“O meu último emprego foi justamente numa transportadora onde ele e os outros colegas de trabalho iam depositar a boleta, papel que vai nos permitir receber o dinheiro depois. Antes, era eu quem fazia esses depósitos. Hoje, vou lá para depositar o meu”, afirma.

No entanto, atualmente apenas Lucius está trabalhando. Com a gravidez e a reforma do caminhão, Anailê decidiu parar por um tempo. Enquanto isso, foi o projeto do novo veículo que alimentou o canal com vídeos. Mas ela não vê a hora de voltar à lida. “Mês que vem a gente já deve concluir o cavalinho, que é a parte da frente, aí até o final do ano a gente também reforma a carreta."

 

 

 

 

 

É nessa parte de trás do caminhão, a qual ainda precisa ser reformada, que ela leva os contêineres na área portuária de Vila Velha. Apesar disso, Anailê conta a rotina como autônoma não significa que tudo é mais fácil.

“Eu dirijo uma carreta, que é diferente de um caminhão normal porque ela é articulada. Todo o processo de manobra é de outro jeito e, por isso, acaba sendo mais difícil de aprender. No começo, algumas pessoas até me ajudavam, mas tinham muitos que se debruçavam no muro para ver onde eu ia errar”, conta.

(Foto: Arquivo pessoal)

 

Demorou algum tempo até que conseguisse o respeito dos outros caminhoneiros. Mas, para ela, isso é normal e vem com o tempo. Quando começou na Associação de Carreteiros Autônomos, Anailê era a única mulher entre 174 homens. “Hoje, já tem outra mulher lá com a gente. O marido dela mostrou meus vídeos e, com isso, ela acabou entrando na profissão”, destaca.

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Anailê diz ainda que, além da fama, a internet também lhe trouxe várias oportunidades, como uma viagem para a Alemanha, patrocinada pela Mercedes Benz, para conhecer o museu da empresa e dirigir alguns de seus caminhões.

Publis na boleia

Quem também sentiu essa diferença foi Vanessa Mariano, que hoje consegue até fazer de suas publis – publicações pagas – uma segunda renda. “Foram surgindo algumas parcerias. As marcas que vendem algum produto ligado com caminhão contratam a gente para fazer propaganda para elas”, explica.

Entretanto, o sucesso no YouTube e no Instagram não veio logo de cara. A caminhoneira chegou a fazer alguns vídeos quando entrou para o ramo, mas nada que ganhasse muita proporção. E a própria Vanessa tinha vergonha de aparecer e de falar.

Até que, em 2017, ela retomou o canal, dessa vez mostrando os lugares por onde passava, como forma de registrar sua vida na estrada. O alcance aumentou e, hoje, ela já tem 74,3 mil inscritos no Youtube e 170 mil seguidores no Instagram.

 

 

 

 

 

“Na época, eu nem sabia o que era ser influencer digital. Só postava minha rotina e algumas pessoas começaram a me acompanhar. Aí teve um vídeo que eu fiz sobre um ponto lá no Rio Grande do Sul em que nem pagando queriam me deixar tomar banho. A filmagem viralizou”, diz ela.

Ao contrário de Anailê, Vanessa trabalha viajando e já conheceu 21 dos 26 Estados, além do Distrito Federal. Para ela, isso é "viver um sonho que tinha desde pequena", ainda mais quando vai acompanhada do pai. “Ele ainda tem o caminhão, e a gente está fazendo safra e rodando juntos. Ele me ensina muita coisa e tem sido uma escola para mim”, afirma.

Enquanto tem serviço, a caminhoneira tenta ficar o mais perto possível de casa, trabalhando entre o Rio Grande do Sul e o Paraná. Até o final de 2020, ela era funcionária e acabava passando muito tempo longe. Agora que comprou seu próprio caminhão, consegue ficar mais próxima da família.

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“Tenho um filho de 12 anos e já fiquei muito tempo longe desde que ele tinha 5 anos. Nessa época, eu chegava a passar três meses viajando, voltava por dois ou três dias e já tinha que pegar a estrada de novo. Então, minha meta era trabalhar muito para conseguir juntar dinheiro e comprar o caminhão”, explica.

Hoje, como autônoma, a rotina de Vanessa pode ser mais flexível, mesmo com uma ou outra dificuldade que aparece no caminho, como problemas no caminhão e nas viagens. O que ela percebeu com o tempo, e tenta mostrar de alguma forma em seus vídeos, é que tem espaço para todo mundo na estrada, seja mulher ou homem.

Em busca de igualdade

Foi por causa de incentivos como esse que Tania Muck, mais conhecida como Mika do 113, entrou para a profissão e para o mundo das caminhoneiras youtubers.

“Quando vi essas mulheres fazendo vídeo e contando da vida delas, pensei que também poderia funcionar para mim, já que entendo de ferramenta e conserto. Então, era um diferencial”, conta ela, que desde pequena acompanhou o pai em suas viagens. Foi inclusive com ele que aprendeu tudo que sabe sobre caminhão.

 

 

 

 

 

Ainda começando, Mika tem pouco mais de 33 mil inscritos no YouTube e 22,2 mil no Instagram. Ela conta que já pensou em desistir algumas vezes, mas sempre aparece alguém para elogiar os seus vídeos ou dizer que a acompanha. É isso, diz a caminhoneira de Santa Catarina, que a motiva a continuar.

“O dia a dia é muito complicado não só pelo trabalho de estar o tempo todo viajando e sem saber direito qual o próximo destino, mas nós, como mulheres, ainda sofremos muito preconceito. E o pior é que, na maioria das vezes, isso vem dos próprios colegas de profissão, sendo que nós somos tão competentes quanto eles”, ressalta.

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*Com supervisão de Leandro Becker
Source: Rural

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