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A mulher que, antigamente, não era vista como responsável por uma área, agora tem reconhecimento das funções (Foto: Getty Images)

 

Contratações de mulheres para papéis de liderança em empresas do agronegócio ou na gestão das fazendas têm se intensificado nos últimos anos. No entanto, para que fiquem mais comuns e formem um mercado de trabalho equânime, especialistas da área de recursos humanos indicam que contratá-las deve fazer parte da cultura da empresa. Mais do que abrir processos seletivos e esperar que mulheres se inscrevam, o ideal é que haja incentivo para as candidatas ficarem à vontade para concorrer.

“É um trabalho de consciência, de gestores entenderem que times mistos vão ajudá-los a entregar um resultado melhor”,  diz Areta Barros, responsável por processos de recrutamento e seleção na Hub Talent, agência que atua no setor do agronegócio.

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De acordo com ela, a consciência deve vir acompanhada de metas, para que a contratação saia do discurso e atinja todas as áreas de uma organização. “Trace um percentual das vagas a ser fechado com mulheres e compartilhe com o time contratante. A equipe precisa estar alinhada quanto a isso. Se não estiver, vai repetir velhos padrões nas novas contratações”, aconselha.

Trace um percentual das vagas a ser fechado com mulheres, e compartilhe com o time contratante

Areta Barros, responsável por processos de recrutamento e seleção na Hub Talent

Elisabete Rello, diretora de recursos humanos da Bayer, explica que a multinacional segue o mesmo raciocínio. Há dois anos, o grupo de alta liderança da empresa continha apenas uma mulher. Atualmente a divisão entre homens e mulheres é de 50%, considerando todos os setores em que a alemã atua. “Existe um compromisso global da Bayer de ter equidade de gênero em cargos de liderança até 2030”, afirma.

No campo, Elisabete admite que a contratação de mulheres ainda está “aquém do esperado”, mas a própria criação do Prêmio Mulheres do Agro, idealizado pela Bayer, tem sido uma forma de amadurecer a contratação de funcionárias em diferentes níveis. “Esse processo veio crescendo, evoluindo, despertando mais adesão e agora a gente, como empresa, amadurece e vai nessa direção”, projeta.

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Mariselma Sabbag, líder do comitê de agronegócio do Grupo Mulheres do Brasil, aconselha que as grandes empresas devem tomar a iniciativa de oferecer oportunidades equânimes para mulheres. “A gente vibra quando mulheres alcançam postos de presidência e queremos que elas sejam exemplo para outras profissionais, inclusive àquelas no campo”, diz.

Sobrecarga

A dupla – e até tripla – jornada de trabalho da mulher ainda é uma realidade e afeta as profissionais de todos os níveis, ressalta Areta Barros. Ela reforça que a situação gera uma sobrecarga que pode impactar a performance na vida profissional.

“As políticas que podem ajudar, de fato, a diminuir a sobrecarga feminina são aquelas que estimulam os homens a dividirem o trabalho de cuidado, como o aumento da licença-paternidade, por exemplo”, indica.

Areta ainda diz que o fator família também pesa mais para a mulher, quando o assunto é deslocamento para uma oportunidade de emprego. Muitas vagas no agronegócio são afastadas de grandes centros.

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“Se for homem, ele vai aceitar e mudar com a família ou vai vê-la aos finais de semana. Se for mulher, ela vai pensar muito antes de aceitar, em especial se a família estiver bem estabelecida na localidade”, conta, ao afirmar que nunca conheceu uma mulher que trabalharia longe e veria a família apenas aos sábados e domingos.

“Por conta da restrição de mobilidade, há um impacto significativo na progressão de carreira das mulheres”, lamenta Areta.

Mariselma Sabbag, que também é produtora de café, relata que até hoje mulheres precisam levar seus filhos para a lavoura, pois não têm com quem dividir o cuidado. O custo de uma ajudante do lar é caro e a renda da família precisa ser garantida.

“Um dos desafios é retomar a escola rural, a fim de ajudar a mulher com filhos, incentivando a educação e garantindo a renda, sem que haja esta sobrecarga”, sugere.

Michelle Rabelo de Morais, responsável pela Fazenda CBM, em Brasilândia de Minas (MG), concorda que a jornada dupla é visível no dia-a-dia da fazenda. E adiciona que ainda há o receio da mulher perder o emprego, caso engravide.

Para isso, propõe um auxílio às funcionárias, dando condição de permanecer no mercado de trabalho, “sem que isso possa gerar algum tipo de estresse ou esgotamento físico, mental e emocional”.

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Novas gerações

 

 

 

Ao longo dos anos, [a mulher] vem se empoderando […] Ela não se deixa mais submeter a coisas que aconteciam em gerações anteriores

Elisabete Rello, diretora de recursos humanos da Bayer

A responsabilidade dos cuidados com o lar e família, como exclusividade da mulher, pode também interferir no nível de capacitação da profissional, mas Elisabete Rello enxerga que as novas gerações vêm mudando este cenário.

“Nas gerações mais novas, a mulher tem um posicionamento diferente e o homem também. Ao longo dos anos, ela vem se empoderando, enxergando seu potencial dentro das organizações. Ela não se deixa mais submeter a coisas que aconteciam em gerações anteriores", indica a diretora da Bayer. 

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Tatiele Dalfior Ferreira, responsável pelo Sítio Oriente, em Governador Lindenberg (ES), vê esta mudança também no campo. Para ela, a mulher que antigamente trabalhava na fazenda, mas não era vista como responsável por uma área, agora tem reconhecimento das funções e passa a ser considerada essencial na gestão.

“Felizmente este cenário tem mudado nos últimos anos, principalmente com a percepção de que a propriedade rural deve ser tratada como uma empresa. Esta nova visão e valorização da gestão no agro abriu um espaço importante para a atuação das mulheres como gestoras do agronegócio”, afirma.

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Source: Rural

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