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(Foto: Ricardo Tobaldini / Flickr)

 

Se há um ano, quando começava a pandemia de Covid-19 no país, a corrida da população para se abastecer levou à disparada nos preços de alimentos básicos como o feijão, a realidade do mercado em 2021 para produtores e consumidores da tradicional leguminosa brasileira beira a estagnação.

No varejo, as cotações acima de R$ 7 pelo quilo levaram a uma forte redução na demanda em março. Enquanto isso, no campo, agricultores acompanham atentos os sucessivos recordes nos valores de milho e soja, commodities cotadas em dólar e de maior liquidez no mercado nacional e internacional.

“O que estamos vendo é que, pontualmente, teve um período de preços muito altos. Em agosto, isso deu uma amenizada, mas a nossa preocupação é com a tendência. E ela tem sido de diminuição de área de feijão por causa da soja e do milho”, explica Marcelo Lüders, presidente do Instituto Brasileiro do Feijão e Pulses (Ibrafe).

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Com um preço pago ao produtor na faixa dos R$ 270 pela saca de 60 quilos do feijão carioca no Paraná e entre R$ 290 e R$ 300 em Minas Gerais, Lüders lembra que, historicamente, a cotação do feijão tem se mantido em cerca de 2,43 sacas de soja – hoje cotada a R$ 172, segundo o indicador Esalq/BM&FBovespa para a oleaginosa no porto de Paranaguá (PR). 

Por essa lógica, o preço pago ao produtor de feijão no país deveria estar acima de R$ 400 pela saca de 60 quilos para manter a cultura atrativa quando comparada à principal commodity agrícola exportada pelo Brasil.

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Pelo menos R$ 100 mais baixas, contudo, as cotações atuais já levaram a uma desaceleração do consumo quando comparado ao ano passado – fato atribuído à perda de renda de população, explica o analista de mercado da Conab, João Figueiredo Ruas.

“No varejo, para os consumidores, principalmente os menos privilegiados, é muito complicado o feijão nesse preço. A compra tem sido muito devagar. A gente vê que não tem tido escoamento nas grandes redes de supermercado”, observa o pesquisador ao destacar que, apesar dos preços remuneradores, os produtores que ainda dispõe de grãos carioca de boa qualidade têm resistido em colocá-los no mercado à espera de novos aumentos.

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Em seu último boletim, divulgado em março, a Conab aponta uma queda de 5,6% na área plantada de segunda safra do feijão cores, cuja semeadura ainda está em andamento. No Mato Grosso, onde a presença da soja e do milho são mais fortes, a redução esperada no plantio até o mês passado era de mais de 40%.

“Se o preço está bom e o produtor não planta, qual é o argumento que você vai ter para convencê-lo? O incentivo vem de toda parte para as commodities e ainda tem um grande argumento que é um mercado que está bombando, enquanto para o nosso isso é mais difícil de perceber”, pontua Lüders ao lembrar que, no caso do feijão carioca, o mais consumido pelos brasileiros, a exportação está longe de ser uma saída para o mercado interno fraco – o que agrava o desestímulo ao plantio diante do atual cenário de mercado.

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“O problema é que antes a gente tinha o consumidor tendo alternativas. Só que a carne subiu 20%, o frango 30% e o feijão 40%. Então, não tem mais alternativa. Por isso, a nossa ansiedade e urgência para achar uma solução. Porque, além de existir o aspecto econômico, há o aspecto social que a gente, enquanto ser humano, tem que cuidar”, destaca Lüders.

Diante deste cenário, ele defende que o estímulo à cadeia do feijão é uma “causa social”. “Do lado da produção, implica envolver e sustentar desde o produtor de meio saco até o produtor grande e, por outro lado, no consumo, você tem consumidores de classe A a D, em que só muda a frequência em que consomem”, pontua o presidente do Ibrafe.
Source: Rural

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