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Abóboras produzidas com o uso do tanque de evapotranspiração, que reutiliza o esgoto do vaso sanitário (Foto: Arquivo pessoal)

 

Foi praticamente por acidente que Humberto Brusadelli, gestor ambiental e operador de uma das quatro estações de tratamento de água de Blumenau, em Santa Catarina, conseguiu produzir 300 abóboras em três meses. Tudo começou com um projeto de saneamento básico rural, a construção de um tanque de evapotranspiração de 20m², e o lançamento inocente de algumas sementes, ainda em setembro do ano passado.

“Foi impressionante mesmo a proporção que esse pé de abóbora começou a tomar. Chegou a atingir mais de 100m²”, conta Brusadelli, responsável pela construção do sistema de tratamento de esgoto.

Assim como o círculo de bananeiras, usado para reutilizar e tratar a água usada na lavagem de roupa e louça, o tanque ou bacia de evapotranspiração (também chamado de Tvap) é uma das técnicas usadas na permacultura para saneamento básico. Nesse caso, contudo, o foco está naquele que pode ser considerado o pior esgoto gerado pelo ser humano: o que sai pelo vaso sanitário.

“Eu costumo dizer que a sociedade é fecofóbica. No que se refere a esgoto, fezes e urina, as pessoas ficam com medo. E é natural. Essa é a percepção que se tem por medo de contaminação, do cheiro, que é ruim, e tudo mais. Mas o Tvap é uma oportunidade incrível de demonstração da possibilidade desse viés produtivo do nosso esgoto”, aponta Brusadelli, que também é estudante de engenharia sanitária.

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A concepção da Tvap é parecida com a de uma fossa séptica comum. Consiste em um buraco impermeabilizado e parcialmente preenchido com entulho e pedras (que atuam como filtro). Ao invés de uma vedação com cimento, contudo, o tanque é coberto com terra onde são plantadas bananeiras e outras plantas de elevada demanda hídrica e nutricional. Com isso, enquanto a matéria seca do esgoto é transformada em biomassa, a parte líquida é evapotranspirada pelas folhas das plantas e pelo solo.

“É um saneamento produtivo e muitos países já estão utilizando isso há algum tempo. É uma quebra de paradigma de problema para a solução. É uma fonte incrível de nutrientes e uma água que não pode ser desperdiçada”, lembra Brusadelli.

A ideia de construir o sistema partiu de um projeto para levar novos modelos de saneamento básico a uma pequena comunidade rural localizada entre as nascentes que abastecem a estação de tratamento e o local de captação da água que abastece parte de Blumenau. Com experiência prévia em projetos de tratamento de efluentes em Minas Gerais, Brusadelli imaginou que a situação em Nova Rússia, nome da comunidade de cerca de 170 famílias, não seria diferente.

“Realmente, o problema maior, e eu já tinha constatado isso em Minas Gerais também, é a falta de informação e orientação técnica. A maioria dos proprietários não sabem que está fazendo de forma errada”, destaca o gestor ambiental.

Desenho de tanqui de evapotranspiração (Foto: Arquivo pessoal)

 

Especialista na construção de sistemas de saneamento permaculturais, Adriana Galbiati ressalta a importância de construir o sistema de forma bem feita, levando-se em conta os riscos de vazamento ou subdimensionamento do sistema – calculado a partir dos índices de evapotranspiração do local e permeabilidade do solo.

“Tem que saber fazer. Não precisa ser um técnico ou um profissional com mestrado, mas tem que ter um cuidado muito grande para não ter infiltração”, explica Adriana, ao alertar também para a importância do descarte correto dos efluentes. “Tem que entender que é um esgoto, então é preciso ter cuidado. Se jogar compostos com metais pesados, aí a planta consegue absorver”, alerta a permacultora.

Uma vez tomados os cuidados em ambas as pontas do sistema (construção do tanque e uso dos efluentes originários da privada), o risco é um só: perder o controle da vegetação que rapidamente se formará junto às bananeiras. “Com certeza, esse é um trabalho bem melhor do que abrir e limpar a fossa de tempos em tempo”, provoca Galbiati.

Humberto, com suas bananas e abóboras (Foto: Arquivo pessoal)

 
Source: Rural

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