Skip to main content

Sementes tradicionais cultivadas por agroecologistas (Foto: Bruna Karpinski)

 

A pandemia fez as pessoas entrarem em contato com desejos genuínos que, até então, estavam adormecidos ou em segundo plano. Neste extenso período de isolamento social, nos deparamos com uma rotina mais limitada, sobretudo aqueles que vivem nas grandes cidades e moram em apartamento. A vontade é de sair correndo em direção a um lugar que tenha mais espaço e mais verde. Onde seja possível sentir-se mais livre. Este “lugar” é o rural. Quem se antecipou a esta tendência e fez o movimento muito antes da pandemia foram os neorrurais.

Os neorrurais são pessoas que residiam na zona urbana e, motivados por insatisfações com a vida na cidade, migraram voluntariamente para a zona rural. Me dedico a observar o fenômeno desde o final de 2016, quando fiz reportagem para o jornal Zero Hora contando a história de três novos rurais. Naquela época, me chamou a atenção o fato de pessoas estarem deixando empregos estáveis em grandes centros urbanos para trabalhar com a produção de alimentos. Porém, como havia poucos dados sobre estes atores sociais, decidi que seria este o tema da minha dissertação de mestrado em Desenvolvimento Rural.

Em dois anos de pesquisa, pude conhecer de perto a história de 22 neorrurais agroecologistas de 17 unidades de produção (UPs), todos integrantes da Associação dos Produtores da Rede Agroecológica Metropolitana (RAMA). São homens e mulheres de classe média, desde jovens até aposentados, em sua maioria com nível superior. Residem e trabalham com a terra em áreas rurais nos municípios de Porto Alegre e Viamão, no Rio Grande do Sul.

saiba mais

Como a tecnologia voltada ao bem-estar animal impactará a pecuária brasileira

Avicultura precisa de alternativas quando há escassez de milho

 

Considerando a amostra do estudo, as migrações do urbano para o rural tiveram início na década de 1990, cresceram nos anos 2000 e se intensificaram a partir de 2010. Além de confirmarem a existência dos neorrurais na região metropolitana de Porto Alegre, os dados da pesquisa mostram o crescimento desta migração da cidade para o campo, conforme conta a reportagem da edição de março da Revista Globo Rural.

A maioria dos novos rurais trabalha com horta e comercializa o que produz em feiras. Adeptos da agroecologia, a área preservada por estes produtores é maior que a área cultivada em quase todas as UPs, dado que contrasta com o perfil tradicional de propriedade rural. Isto porque as questões ambientais e sociais estão entre as principais motivações para a migração da cidade para o campo – fatores econômicos têm menor relevância. A busca por mais saúde, bem-estar e qualidade de vida é a principal motivação. Na sequência, aparece a possibilidade de cultivar o próprio alimento e a busca pela sensação de tranquilidade, descanso, paisagem e ar puro.

Os resultados da pesquisa mostram que os neorrurais agroecologistas contribuem com a proteção ambiental e com a transformação das bases produtivas e sociais, pois questionam as práticas dominantes e buscam a construção de uma agricultura ecologicamente sustentável, economicamente viável e socialmente justa. Por meio de ações locais, estes atores sociais contribuem ainda com o desenvolvimento rural sustentável e com a transição agroecológica. Espaço para iniciativas como estas é que não faltam. 

*Jornalista e mestra em Desenvolvimento Rural pelo Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Rural da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (PGDR/UFRGS)

**As ideias e opiniões expressas neste artigo são de resonsabilidade da autora e não representam, necessariamente, o posicionamento editorial da revista Globo Rural
Source: Rural

Leave a Reply