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Recursis do Moderfrota estão esgotados (Foto: Divulgação)

 

Diante do esgotamento dos recursos do crédito rural para o financiamento de máquinas, a Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq) encaminhou em fevereiro ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) o pedido de um aporte de R$ 7 bilhões no atual Plano Safra. Além do reforço no Programa de Modernização da Frota de Tratores Agrícolas e Implementos Associados e Colheitadeira (Moderfrota), a entidade reivindicou mais R$ 3,8 bilhões para o Programa para a Construção e Ampliação de Armazéns (PCA), R$ 800 milhões para o Inovagro e R$ 1,8 bilhão para o Pronaf Mais Alimentos.

“Tivemos reunião com o secretário de Política Agrícola do Ministério da Agricultura (Cesar Halum), que considerou o pleito justo e temos o empenho da ministra Tereza Cristina. O que vem dificultando são as restrições orçamentárias. Na minha opinião, a probabilidade de haver aportes no atual Plano Safra são remotas”, diz Pedro Estevão, presidente da Câmara Setorial de Máquinas e Implementos Agrícolas da Abimaq.

Segundo dados do Banco Central, de julho de 2020 a fevereiro de 2021, a demanda total por crédito rural somou R$ 147,57 bilhões, um aumento de R$ 22,81 bilhões (ou 18,3%) em relação a igual período da safra anterior. O valor médio dos contratos passou de R$ 90,95 mil para R$ 104,98 mil. Só no mês passado, os contratos de financiamento somaram R$ 12,8 bilhões ante os R$ 9,42 bilhões de fevereiro de 2020.

Considerando apenas as linhas de crédito rural administradas pelo BNDES (Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social), de 1º de julho até 28 de fevereiro, a soma é de 16,08 bilhões, divididos entre a agricultura familiar (R$ 2,57 bilhões), demais produtores rurais (R$ 11,59 bilhões), empresas do agronegócios (R$ 728,2 milhões) e cooperativas (1,18 bilhão). Na linha Moderfrota, o financiamento somou R$ 5,71 bilhões e no Pronaf Investimento, R$ 2,16 bilhões.

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O dirigente da Abimaq disse ainda que, para o Plano Safra em vigor, a entidade havia pedido R$ 14 bilhões para o Moderfrota, mas só foram autorizados R$ 8,7 bilhões. “Faltaram recursos muito cedo para o programa porque a excelente rentabilidade das lavouras gerou uma demanda maior por máquinas agrícolas.” Em 2020, o faturamento das associadas da Abimaq na câmara setorial, diz Estevão, cresceu 27% em relação a 2019.

Ele estima em R$ 42 bilhões a demanda anual de crédito para compra de máquinas agrícolas e admite que o setor privado tem recursos para oferecer ao agronegócio, mas o problema são os juros e o prazo. “O Moderfrota tem juros de 7,5% ao ano com 7 anos de prazo. Os recursos do setor privado estão por volta de 10% com 5 anos de prazo.”

O Ministério da Agricultura foi procurado para falar sobre a possibilidade dos aportes, mas não houve resposta aos questionamentos até a publicação desta reportagem.

Novo Plano Safra

Ademiro Vian, especialista em crédito rural que participa das reuniões de estruturação do Plano Safra e dirige o IBDAgro (Instituto Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável do Agronegócio), diz que a chance de saírem novos aportes é zero. “Se sobrar uma rapinha do tacho, dá para fazer algum remanejamento, mas nada expressivo”.

Segundo ele, as chances de aumento no volume para o novo Plano Safra, que passa a valer em 1º de julho, também são próximas de zero. “Vai depender da abrangência da PEC do Auxílio Emergencial que deve ser votada esta semana no Congresso.” Vian diz que não está claro ainda quem será afetado, mas, diante do cenário de endividamento do governo federal causado pela pandemia, será necessário reduzir subsídios para pagar o auxílio.

“O pensamento do governo é o seguinte: o setor do agro está faturando como nunca, ganhando musculatura há várias safras. Nesse cenário, o agronegócio pode buscar alternativas de financiamento no mercado, sem precisar de subsídios.”

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O problema nesse raciocínio, diz Vian, é que os grandes bancos privados gostam do agronegócio, mas não do crédito rural. “Eles só gostam de operações de curto prazo porque têm que cumprir metas anuais. Oferecem ao produtor rural cartão de crédito, cheque especial, mas não crédito de longo prazo com seus próprios recursos para financiar um trator, por exemplo.” Ele estima em R$ 320 bilhões a demanda anual por crédito rural apenas do setor de grãos e fibras.

O especialista alerta ainda que um novo dificultador nos próximos anos para o crédito rural é a independência do Banco Central, que hoje controla e fiscaliza todas as operações. Segundo ele, está tramitando uma medida provisória que faz uma revisão completa do crédito rural atual que foi estabelecido pela lei 4.829 de 1965. “Essa revisão pode tirar poderes e obrigatoriedade dos bancos de aplicar os depósitos à vista no crédito rural, por exemplo.”

Nesse cenário, Vian acredita que os bancos privados e os das montadoras serão chamados a participar mais das operações de financiamento para investimento no setor e podem ganhar peso as operações de leasing de equipamentos, como ocorre nos Estados Unidos, e os consórcios.
Source: Rural

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