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(Foto: Getty Images )

 

A segurança do alimento vem sendo objeto de interesse de diversos agentes econômicos e sociais. A percepção de que existe risco à saúde associado ao consumo de alimentos adulterados ou contaminados surge como agente de pressão sobre o ambiente institucional. Em um cenário onde a origem do produto e a garantia da sanidade durante o processo de produção e venda da carne são cada vez mais valorizados pelo consumidor, a rastreabilidade da cadeia aparece como uma forma de tangibilizar a “qualidade” do produto.

Nesse sentido, é importante comunicar aos consumidores, as informações e boas práticas sustentáveis da cadeia produtiva e de suprimentos que garantam atributos de credibilidade no desenvolvimento do produto, a fim de impactar de maneira positiva o mercado. Alguns desses atributos referem-se a característica de um processo da cadeia de produção ou de fornecimento, como país de origem, conformidade ambiental, fair trade, ética nas questões trabalhistas. Isso significa que fornecer informações sobre rastreabilidade e ter uma cadeia de produção transparente passa a ser uma necessidade competitiva. 

Uma pesquisa realizada em 2018 durante meu doutorado pela ESPM com 725 consumidores brasileiros, revelou que a preocupação com o processo produtivo está relacionada com a atitude e a intenção de compra da carne sustentável. Os resultados confirmam a importância dos atributos “bem-estar animal” (BEA) e “rastreabilidade” no processo de escolha da carne.

O desejo de pagar (WTP) por uma carne rastreável é maior do que o de pagar por uma sem rastreabilidade. A pesquisa ressalta a necessidade do controle de origem, uma vez que a segurança do alimento já é um atributo bastante requisitado entre consumidores. Fica claro que  tanto a rastreabilidades até o frigorifico quanto até a fazenda são valorizadas frente ao produto não rastreável.

Os participantes da pesquisa indicaram ainda a presença do selo do Serviço de Inspeção Federal (SIF), que atesta a qualidade sanitária dos produtos de origem animal, como sendo um dos itens observados no momento da compra, o que confirma a importância desse selo pelo fato de estar associado a origem da carne. Nas entrevistas com especialistas, representantes da indústria indicaram a rastreabilidade “da fazenda à mesa” como relevante nas operações das empresas como forma de tangibilizar a segurança do alimento e atender à demanda do consumidor

A pesquisa trouxe elementos importantes para auxiliar os pecuaristas, a indústria e o setor varejista na formulação de estratégias de comunicação e posicionamento de produtos/marcas que possuam atributos socioambientais como parte dos benefícios oferecidos no mercado. Os resultados sugerem que as empresas devem explorar melhor os aspectos das emissões de carbono e de bem-estar animal em suas estratégias de comunicação.

A indústria e o varejo devem pensar em selos de certificação, garantindo o bem-estar animal, uma vez que este atributo se encontra “esquecido” na mente do consumidor brasileiro. A indústria pode aumentar a confiança do consumidor usando rótulos claros e processos de garantia apoiados pelos valores da marca, o que pode assegurar  um maior grau de transparência e melhor comunicação de seus produtos.

Outra sugestão do estudo é que os atributos “redução de gases de efeito estufa (GEE)” e “bem estar animal” devem servir de argumento para o governo brasileiro utilizar em negociações com governos de outros países de forma a facilitar a abertura de novos mercados internacionais. A rastreabilidade até a fazenda também deve ser ponto de atenção dos órgãos públicos, visando garantir a credibilidade na segurança do produto brasileiro bem como viabilizar a certificação da carne brasileira com relação aos atributos considerados relevantes, como o bem-estar animal.

A falta de um sistema de rastreabilidade eficiente na cadeia da carne brasileira provoca insegurança e incertezas no processo de compra do consumidor, acarretando em perda de credibilidade para as marcas envolvidas com a fabricação e fornecimento do produto e para a cadeia de suprimentos como um todo. A falta de informações sobre a origem e procedência da carne e os processos sustentáveis adotados durante o processo produtivo levantam dúvidas desnecessárias que apenas interferem na decisão de compra segura por parte do consumidor.

Desse modo, a cadeia da carne bovina precisa continuar o trabalho de melhoria contínua nos processos de rastreabilidade, a fim aprimorar os  resultados em termos ambientais, sociais e econômicos, os quais são cada vez mais preocupantes para os consumidores.

* Pedro Burnier é Eng. Agrônomo, doutor em Administração pela ESPM, gerente do Programa de Cadeias Agropecuárias da ONG Amigos da Terra – Amazônia Brasileira e coordenador do Grupo de Trabalho dos Fornecedores Indiretos (GTFI).

As ideias e opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do seu autor e não representam necessariamente o posicionamento editorial da revista Globo Rural.
Source: Rural

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