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Joe Biden, presidente eleito dos Estados Unidos (Foto: Divulgação)

 

A posse na Casa Branca está marcada só para 20 de janeiro. Mas o presidente eleito dos Estados Unidos, Joe Biden, começa a definir prioridades e a analisar as primeiras medidas e serem adotadas quando assumir o governo. Além da recuperação da economia americana e do combate à pandemia de coronavírus, a política americana relacionada às mudanças climáticas está entre as prioridades já na transição.

De acordo com a imprensa internacional, o democrata já quer começar a estabelecer já na transição um contrates com a administração de Donald Trump, republicano que concorreu à reeleição. Derrotado na corrida eleitoral, o atual presidente ainda não reconheceu os resultados e trava uma batalha na Justiça questionando a votação em vários estados americanos. 

“Seus passos para ajustar o tom de sua administração acontecem a despeito do espetáculo sem precedentes de um presidente que perdeu a eleição, mas se recusa a aceitar a realidade”, criticou Stephen Collison, em análise na CNN Internacional. Ainda conforme a imprensa americana, a intenção do presidente eleito é dar o tom de como seu governo vai atuar, inclusive, já prevendo anunciar um grupo de trabalho para tratar do tema.

O controle da covid-19 no país é o principal tema da agenda do novo governo. Nesta segunda-feira (9/11), o presidente eleito e a vice-presidente eleita, Kamala Harris, anunciaram a formação de um grupo de trabalho para monitorar a pandemia em território amerucano. 

Mas a questão climática foi debatida na campanha. Biden defendeu o retorno dos Estados Unidos ao Acordo de Paris, do qual Trump anunciou a saída durante o mandato e formalizou com a Organização das Nações Unidas (ONU) na semana passada, enquanto os votos de milhões de americanos eram apurados para saber quantos delegados do colégio eleitoral iriam para cada candidato.

No site oficial de sua campanha, o plano de governo de Joe Biden fala em uma “revolução de energia limpa e justiça ambiental”. Em um vídeo postado na página, o próprio Biden afirma que pretende implantar mecanismos para uma economia americana baseada em energia limpa e fazer investimento recorde em pesquisa e desenvolvimento de tecnologias baseadas no conceito de carbono zero.

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“A América será o motor da economia de energia limpa, exportando equipamentos ‘made in USA’ para ajudar outros países e reduzirem suas emissões”, diz Biden. “Vou trabalhar em uma iniciativa diplomática para fazer com que cada país vá além de seus compromissos iniciais”, diz Biden, no vídeo, mencionando em particular a China.

Citando especialistas nas discussões do clima, reportagem do jornal britânico The Gurdian, oublicada neste domingo (8/11), pondera que a agenda do novo presidente americano para o clima deve enfrentar dificuldades internas. Apesar disso, sinaliza um possível efeito positivo do retorno dos Estados Unidos ao acordo climático.

“O retorno ao Acordo de Paris será um impulso à ação internacional no clima”, diz a reportagem. “Sob o acordo, todos os países devem apresentar a cada cinco anos compromissos fortalecidos para reduzir as emissões de gases de efeito estufa, o que significa que cada país deverá estimular novas metas para 2030 até o final deste ano. Biden pode não cumprir esse prazo, mas estará pressionado a redigir compromissos dos Estados Unidos a tempo da Cúpula do Clima (Cop26)”, informa o jornal.

De todo modo, a situação climática e ambiental pode refletir, inclusive, na relação dos Estados Unidos com o Brasil, marcada, ao menos nos últimos dois anos, por uma forte aproximação dos presidentes Jair Bolsonaro e Donald Trump. Durante um dos debates eleitorais com Trump, Biden defendeu uma arrecadação de US$ 20 bilhões para financiar a preservação da Amazônia, declaração criticada Bolsonaro.

No sábado (7/11), horas depois dos veículos de imprensa americanos projetarem sua vitória nas eleições presidenciais, Biden voltou a mencionar a questão climática como prioridade, em seu discurso da vitória, em Wilmington, no Estado de Delaware. Entres as várias “batalhas” a serem travadas durante o seu mandato, citou controle da pandemia, atendimento à saúde e a batalha para “salvar o clima”.

Maior pressão

Em live promovida pela Globo Rural na semana passada, ainda antes do anúncio do vencedor na eleição presidencial americana, o coordenador do Insper Agro Global, Marcos Jank, avaliou que Joe Biden tende a ser um presidente que traga os Estados Unidos de voltas ao multilateralismo nas discussões internacionais. E destacou a questão ambiental como parte importante do que chamou de nova postura.

Na visão dele, a questão ambiental não é mais restrita a produtores, organizações não governamentais ou governos. É uma agenda que atinge todos os elos da cadeia de valor. O mundo inteiro está preocupado com situações como o desmatamento da Amazônia, levando empresas que podem ser mais atingidas, como as de soja e de pecuária de corte, a tomar medidas a favor de cadeias com mais rastreabilidade.

Para ele, o Brasil vai precisar se adequar à agenda da mudança do clima, que é positiva para o país, considerando a importância da agropecuária. Desde que consiga resolver problemas relacionados à ilegalidade, alguns de mais de 30 anos, como a regularização fundiária na Amazônia, ou mais recentes, como a aplicação do Código Florestal.

“O mundo fará pressão para que o Brasil resolva esse problema da agricultura que é vilã, que é a agricultura associada ao desmatamento ilegal. Mas a gente tem que lembrar que a agricultura também é vítima e também é solução”, disse Jank. “Temos visto os efeitos da mudança do clima sobre a agricultura e algo precisa ser feito. Agora, nós temos uma agricultura aqui no Brasil de alta produtividade, que faz duas ou três safras por ano, integração lavoura-pecuária, biocombustíveis”, ressaltou.

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Também participando da live, Pedro Dejneka, diretor da MD Commodities, consultoria sediada em Chicago, nos Estados Unidos, também destacou a necessidade de mudanças na política ambiental brasileira. Ponderou, no entanto, que, muitas vezes, a percepção que se vende sobre esta situação no mercado é maior que a realidade. E, pelo menos por enquanto, não vê um reflexo dessas questões nos preços das commodities agrícolas, especialmente soja e milho.

“Há um exagero muito grande, principalmente, vindo da Europa. Temos que tomar sempre muito cuidado. No mundo que a gente vive hoje, existe muita desinformação vindo não parte só dos meios principais de mídia, como mídias sociais”, disse ele, para quem a situação ambiental do Brasil relacionada à agricultura “não é perfeita, mas é longe de ser tudo isso que fala por aí”.

Professor titular de Relações Internacionais da Universidade de Brasília (UnB), Eduardo Viola disse acreditar que, em sua grande maioria, o agronegócio brasileiro é moderno e está dentro da lei. Por outro lado, destacou o problema do desmatamento da Amazônia como muito grave. E que, diferente de períodos passados, hoje, a ciência tem conhecimento para relacionar a mudança do clima com o uso da terra.

“Na Amazônia, grande parte do desmatamento é ilegal e realizado por redes de crime organizado, que, embaixo dele, tem um pequeno crime, de pessoas que violam a lei por uma questão de sobrevivência e que, em cima, até tem vínculo com o narcotráfico”, afirmou.

Efeito China

Jank pontuou ainda que, embora essa pressão venha, principalmente de americanos e europeus, eles não são os principais clientes do agronegócio brasileiro. É a Ásia, especialmente a China. O especialista acrescentou que os chineses estão, por exemplo, mudando seu modo de produção de suínos o que deve ampliar a demanda do país por insumos como soja e milho.

“Eles vão precisar do Brasil e a postura da China é bem diferente da postura de Europa e Estados Unidos em relação ao desmatamento”, destacou.

Viole destacou que é decisivo para o Brasil reconhecer a gravidade dos problemas relacionados à Amazônia e as deficiências de sua política ambiental. E lembrou que empresas de Estados Unidos, Europa, além do Japão e Coreia do Sul, vêm incorporando o risco climático em seus processos decisórios.

“O valor dos ativos está ligado à pegada de carbono dessas empresas. Essa é uma mudança muito grande”, disse ele. Agora, isso afeta as empresas do mundo ocidental, com Japão e Coreia do Sul. Na China e em outros lugares da Ásia, a sensibilidade em relação a isso é muito menor porque o fundamental para eles é a segurança alimentar”, acrescentou Viola.
Source: Rural

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