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(Foto: Lucas Scherer/Embrapa/Divulgação)

 

Pesquisas desenvolvidas pela Embrapa Trigo e Embrapa Suínos e Aves apontam que cereais de inverno, como trigo, aveia, centeio, cevada e triticale, são opções viáveis para substituir o milho na formulação de rações e concentrados para alimentar suínos e aves.

Além de reduzir a dependência desse grão na Região Sul, cuja produção não tem sido suficiente para atender à demanda, o resultado amplia o mercado para os cereais de inverno, que ocupam cerca de 20% da área potencial de cultivo.

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A escassez de milho frente ao crescente aumento na produção de proteína animal e a ociosidade de áreas produtivas no inverno foram as principais motivadoras dos estudos, que avaliam a viabilidade econômica e nutricional no uso de cereais de inverno na composição de rações, além da caracterização de cultivares mais adequadas à alimentação de suínos e aves.

A ociosidade de áreas no inverno no Sul, especialmente em Santa Catarina e Rio Grande do Sul, é estimada em mais de 6 milhões de hectares, considerando espaços em situação de pousio ou com plantas de cobertura. Por isso, a Embrapa está desenvolvendo um projeto na região para aproveitar melhor o inverno e abastecer o mercado de proteína animal.

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Déficit de milho preocupa

Em 2019, a Região Sul produziu 25 milhões de toneladas de milho, um crescimento de 44% comparado aos volumes alcançados em 2000. Com exceção do Paraná, que conta com o reforço do milho safrinha ou segunda safra, Santa Catarina e Rio Grande do Sul têm disponível apenas metade do que consomem, descontando o que é exportado.

Somente para atender à demanda da indústria de proteína animal, que ano passado contabilizou uma produção de 2,7 milhões de toneladas de suínos e quase 8 milhões de toneladas de frango, foram necessários 21,5 milhões de toneladas de milho. O déficit de milho no Sul é suprido pelos grãos trazidos do Centro-Oeste do Brasil, mas os custos de logística sobrecarregam.

(Foto: Rafale Tovar/CCommons)

 

Trigo como alternativa

Diante disso, pesquisas da Embrapa apontam, especialmente, trigo e triticale como alimentos energéticos com potencial para substituir o milho e o farelo de soja nas dietas para suínos e frangos de corte, desde que sejam efetuados ajustes nos níveis de aminoácidos e de energia para atender as exigências dos animais em cada fase.

“Com valor nutricional complementar ao milho e ao farelo de soja, esses cereais tornam-se técnica e economicamente viáveis para inclusão nas dietas de suínos e aves, podendo suprir parte significativa da demanda de grãos para essas duas espécies”, avalia a pesquisadora da Embrapa Teresinha Bertol.

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Resultados iniciais mostram que os valores nutricionais desses cereais são variáveis, dependendo da cultivar, do local e ano de produção. Por isso, é fundamental a avaliação de cada lote dessas matérias-primas antes de seu uso na produção de rações.

Conforme as avaliações nutricionais, os níveis ótimos para inclusão do trigo e do triticale na ração de suínos ficam ao redor de 35%, enquanto para a cevada estão entre 20% e 25% a partir da fase de crescimento. No caso dos frangos de corte e poedeiras, recomenda-se níveis de 20% a 30% de inclusão de trigo ou triticale, e até 20% de cevada na ração a partir da fase inicial.

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De acordo com Teresinha Bertol, esses são os níveis que permitem a melhor combinação de ingredientes para otimização do balanceamento dos aminoácidos essenciais e que proporcionam a melhor qualidade de pellet (formato da ração peletizada).

Porém, ela pontua que é possível substituir totalmente o milho por trigo ou triticale nas dietas para suínos, desde que se faça os ajustes necessários nos níveis nutricionais para atender as exigências dos animais em cada fase.

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Aproximação da indústria

O uso de cereais de inverno na produção de proteína animal visa dar maior segurança na rentabilidade do produtor de grãos e na garantia de matéria-prima para abastecer a indústria. Em Santa Catarina ,o governo do Estado lançou neste ano o Programa de Incentivo ao Plantio de Grãos de Inverno, que está estimulando os agricultores a investirem em cereais de inverno com potencial para compor a matriz de ingredientes para rações de suínos e aves.

Um dos desafios para garantir o abastecimento da indústria de proteína animal com cereais de inverno é o clima nem sempre favorável. Mas para o especialista em agropecuária do time de nutrição da Seara, Herbert Rech, a agroindústria já tem experiência para se adaptar.

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Segundo ele, os cereais de inverno precisam competir nutricionalmente e financeiramente com os demais ingredientes da ração, como o milho e o farelo de soja, mas sem perder em qualidade. “Não estamos falando de utilizar o refugo da produção de grãos para alimentação animal. Precisamos de trigo de qualidade, que supra a demanda da indústria de proteína animal e não somente ofertas pontuais dos grãos que não atenderam os requisitos da panificação”, afirma.

"O que está em discussão agora é o modelo de negócio para viabilizar o plantio e uso em rações”, confirma Alexandre Gomes da Rocha, da Aurora Alimentos. Ele defende o estabelecimento de uma indexação de preço dos cereais de inverno ao preço do milho.

“Se o preço do milho estiver em baixa, a agroindústria perde por pagar caro pelos cereais de inverno. E, no cenário inverso, o produtor perde a oportunidade de melhor preço do trigo. Ocorrendo perdas sucessivas para um dos lados o negócio tende a perder força e descontinuar. Por isso, é preciso um modelo claro pré-definido que dê segurança para ambos os lados”.
Source: Rural

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