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(Foto: Getty Images)

 

O Brasil perdeu 87,2 milhões de hectares de áreas de vegetação nativa entre 1985 e 2019, o equivalente a 10,25% do território nacional. Os dados, fornecidos pelo Projeto de Mapeamento Anual da Cobertura e Uso do Solo no Brasil (MapBiomas), apontam que em todos os biomas brasileiros houve modificação do uso da terra. O mapeamento constatou que a conversão de áreas para a agropecuária foi responsável por 90% da perda de vegetação natural do Brasil no período.

"O levantamento do MapBiomas mostra que pelo menos 9,3% de toda a vegetação natural do Brasil é secundária, ou seja são áreas que já foram desmatadas e convertidas para uso antrópico pelo menos uma vez", explica Tasso Azevedo, coordenador-geral da iniciativa.

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Percebida em todos os biomas, a descaracterização da área nativa aconteceu principalmente na Amazônia, segundo o MapBiomas: 44 milhões de hectares foram perdidos. Já no Cerrado, a redução foi de 28,5 milhões de hectares; enquanto no Pampa, 20% da cobertura vegetal remanescente foi suprimida e a área de florestas plantadas cresceu 4,9 vezes.

“No Pantanal, a perda de vegetação nativa foi de 12%, com aumento de 4,7 vezes da área total de pastagens plantadas. Na Caatinga, a queda na área de vegetação remanescente foi de 11%, com expansão de 26% para a agropecuária”, aponta trecho do relatório. A Mata Atlântica é o terceiro maior bioma do país e onde estão 57% das áreas urbanas do país.

Queima e desmate (janeiro a setembro/2020)

 

Para João Paulo Capobianco, doutor em ciência ambiental e vice-presidente do Instituto Democracia e Sustentabilidade, a perda de vegetação, como, por exemplo, o corte raso da floresta na Amazônia, chama muito a atenção, mas há um outro problema pouco tratado, que é a área de degradação da floresta.

“Temos regiões que não foram desmatadas a corte raso, mas foram muito degradadas pela exploração predatória, e essa perda não é mostrada nos números”, afirma Capobianco. Neiva Guedes, membro da Rede de Especialistas em Conservação da Natureza (RECN) e presidente do Instituto Arara Azul, alerta que a situação das espécies ameaçadas de extinção é delicada dentro do ecossistema, que pode demorar anos para se recuperar após o desmate e a incidência do fogo.

“Após esses episódios, você entra na floresta e ela está silenciosa, não há vida, é o desequilíbrio de todo uma cadeia. São insetos que foram queimados, que alimentariam pássaros, e assim por diante. O ambiente está aparentemente normal, mas há um vazio de indivíduos”, lamenta Guedes.

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Essa preocupação em quantificar a degradação e identificar as florestas silenciosas é o próximo desafio do MapBiomas. "Da área que nunca foi desmatada, há uma fração que já foi degradada por fogo ou exploração madeireira predatória. Quantificar esse processo de degradação das florestas é um dos próximos desafios que vamos enfrentar", revela Tasso Azevedo.

(em milhões de hectares)

 

Pesquisadores da Universidade de Brasília, da Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro e da Universidade de Michigan constataram que, na Amazônia, entre 1992 e 2014, a degradação já foi maior do que o desmatamento. Enquanto a área degradada foi de 33,7 milhões de hectares, o desmatamento atingiu 30,8 milhões de hectares.

“Medimos e mapeamos toda a gama de atividades que degradam as florestas e avaliamos a relação com o desmatamento. A degradação florestal é uma forma separada e crescente de perturbação florestal, e a área afetada agora é maior devido ao desmatamento”, aponta trecho do estudo.

Além disso, Guedes ainda lembra que a deterioração de um bioma reflete no outro. “A umidade da Amazônia faz com que ocorram as chuvas no Pantanal, então é tudo inter-relacionado”, ela diz. Ocorre o mesmo no Cerrado, segundo Mario Barroso, coordenador de monitoramento da organização ambiental The Nature Conservancy (TNC) Brasil.

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"Com a degradação, há perda de um conjunto de espécies nativas. Então, as áreas desmatadas há mais tempo quase já perderam seu valor biológico.” Segundo Barroso, um dos problemas do Cerrado é a pastagem degradada. Com base em dados de 2018 do Atlas digital das pastagens brasileiras, elaborado pela Universidade Federal de Goiás, ele calcula que 24% das pastagens do Brasil estão com grau severo de degradação.

Cobertura e uso da terra (em milhões de hectares) (Foto: )

 

“São pastagens muito degradadas, que não irão retornar ao que eram. Quer dizer, a gente perdeu esse valor e mesmo esse pasto para o gado não tem o máximo potencial, não compensa economicamente”, reflete.

Uma solução proposta pelo coordenador da TNC, ao saber que o Cerrado é sinônimo de agropecuária, é levar a produção de carne e soja para áreas que já foram abertas e não estão produzindo. “Mais ou menos 20% do bioma pode ser ocupado de forma mais intensa e produtiva”, diz
Source: Rural

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