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Guia Alimentar (Foto: Reprodução)

 

A discussão sobre a modificação do Guia Alimentar para a População Brasileira incitou a participação da categoria dos profissionais de Engenharia de Alimentos e da indústria de alimentos. O tema gnhou relevância após divulgação de nota técnica feita pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) na quinta-feira (17/9), direcionada ao Ministério da Saúde.

Na nota, o Mapa defende que a “revisão completa do Guia deverá contar com ampla discussão com setores especializados na ciência dos alimentos”, sendo “absolutamente indispensável a participação de outros especialistas como os Engenheiros de Alimentos”.

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Em nota, a Associação Brasileira da Indústria de Alimentos (Abia) reconheceu a importância do Guia Alimentar brasileiro para a sociedade civil, mas destaca que a edição de 2014 apresenta “lacunas na melhor ciência desenvolvida para a classificação de alimentos”.

A entidade defende a “constante revisão do Guia Alimentar”, que “deve acompanhar o processo e a evolução da ciência alimentar realizada por profissionais como engenheiros, pesquisadores, cientistas de alimentos, além, é claro, dos órgãos governamentais e da sociedade civil”. “Trata-se de aprimoramento contínuo em benefício da população”, finaliza a nota.

Embora a Abia cite duas referências de publicações científicas para respaldar a necessidade de revisão do Guia brasileiro, citando o estudo Springmam 2020, o documento aponta que foram analisados guias de 97 países e as recomendações do guia brasileiro estavam na posição 86 do ranking, "à frente, portanto, de apenas 11 países”, conclui a entidade.

No entanto, a realidade é que foram comparados documentos de 85 países mais dois guias globais, e os resultados foram apresentados divididos por região, e não em um ranking único. Além disso, o estudo Springmam 2020 conclui, dentre outros pontos, que, “em comparação com a ingestão atual, os padrões de consumo representativos aderindo aos valores médios dos FBDGs [orientações dietéticas baseadas em alimentos, em português] nacionais incluíram, em média, mais frutas e vegetais, legumes, nozes e sementes, grãos inteiros, leite, ovos e peixes, menos açúcar e carne, especialmente carne vermelha e processada (…).”

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O mesmo estudo ainda aponta que “a adoção das recomendações da OMS foi associada a uma redução nas emissões de gases de efeito estufa em média 12% em países com FBDGs nacionais, em particular como resultado do menor consumo de carne de ruminantes (associado às recomendações em carne processada). A maioria das reduções nas emissões de gases de efeito estufa foi associada a limites mais rígidos sobre a carne vermelha e, para os outros domínios ambientais, as reduções de menos produtos de origem animal”, o que corrobora com as recomendações trazidas pelo Guia Alimentar brasileiro.

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Engenharia de Alimentos

A Associação Brasileira de Engenheiros de Alimentos de São Paulo (Abea-SP) também publicou nota em que manifesta o apoio às recomendações do Mapa. A entidade “compreende que, somente com a participação das várias áreas de atuação, como médicos, nutricionistas, engenheiros de alimentos, pode-se criar um guia voltado para a promoção da alimentação saudável para a população”, e se colocou à disposição para a “discussão destas terminologias a partir do prisma da ciência de alimentos”.

Na visão da presidente da entidade, Irene Rodrigues Freitas, é um equívoco achar que parece haver “uma disputa entre a área de engenharia de alimentos e demais profissões”. Segundo ela, o foco do debate está relacionado aos componentes químicos dos alimentos. 

Há esforços dentro da área de ciência e tecnologia de alimentos para substituir esses aditivos (conservantes), por aditivos naturais e há diversos artigos que abordam esse assunto, diversas pesquisas nas instituições e até mesmo nas indústrias

Irene Rodrigues Freitas, presidente da Abea-SP

 

Ela ressalta os benefícios das técnicas de conservação de alimentos, como branqueamento, pasteurização, congelamento, que são operações que não têm a adição de qualquer tipo de substância química, e que fazem com que o alimento esteja mais próximo do natural possível.

“A Engenharia de Alimentos reconhece a importância de uma dieta saudável, mas temos que entender que o consumo de alimentos que são produzidos industrialmente não significa que afeta a saudabilidade. Entendemos os esforços das demais áreas, e a importância da redução desses aditivos, mas precisamos ter cautela de como vamos dispor essas informações para o público em geral que já é leigo. Não podemos sair criando classificações novas, designações que são equivocadas, e que não são classicamente aceitas por áreas que têm domínio sobre o processamento de alimentos”, diz.

Nota divulgada pela Associação Brasileira de Engenheiros de Alimentos de São Paulo (Foto: Reprodução/Abea-SP)

 

Os "ultraprocessados"

 

O guia classifica quatro categorias de alimentos, definidas de acordo com o tipo de processamento empregado na sua produção. A primeira reúne alimentos in natura ou minimamente processados, como frutas, legumes, arroz e feijão. Já a segunda categoria corresponde a produtos extraídos de alimentos in natura ou diretamente da natureza e usados para temperar e cozinhar alimentos e criar preparações culinárias, a exemplo de  óleos, gorduras, açúcar e sal.

A terceira classificação diz respeito a produtos fabricados essencialmente com a adição de sal ou açúcar a um alimento in natura ou minimamente processado, como legumes em conserva, frutas em calda, queijos e pães. A quarta corresponde a produtos cuja fabricação envolve diversas etapas e técnicas de processamento e vários ingredientes, muitos deles de uso exclusivamente industrial. Exemplos incluem refrigerantes, biscoitos recheados, “salgadinhos de pacote” e “macarrão instantâneo”, que seriam considerados como alimentos ultraprocessados.

A fonte da discussão mora no conceito dos alimentos “ultraprocessados”. Na análise técnica do Ministério da Agricultura, “a classificação nova utilizada é confusa, incoerente e prejudica a implementação de diretrizes adequadas para promover a alimentação adequada e saudável para a população brasileira”, diz a nota técnica. De acordo com o Mapa, “a classificação é arbitrária e confunde nível de processamento com a quantidade e tipos de ingredientes utilizados na formulação dos alimentos industrializados”.

De acordo com o  Guia Alimentar para a População Brasileira, é necessário haver uma classificação clara sobre os tipos de alimento quanto ao nível de processamento. “O acesso a informações confiáveis sobre características e determinantes da alimentação adequada e saudável contribui para que pessoas, famílias e comunidades ampliem a autonomia para fazer escolhas alimentares e para que exijam o cumprimento do direito humano à alimentação adequada e saudável”, aponta o documento. 

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Source: Rural

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