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As indústrias de carnes também foram às compras com antecedência (Foto: Divulgação)

 

*Publicado na edição 419 de Globo Rural (Setembro/2020)

O dólar cotado acima de R$ 5,50 e os preços da soja e do milho, em reais, em patamares recordes têm incentivado os agricultores a antecipar a venda da safra 2020/2021. As indústrias de carnes também foram às compras com antecedência, para garantir estoques e
evitar desabastecimento nas granjas de aves e suínos.

Victor Ikeda, analista de grãos do Rabobank, observa que, em agosto, na reta final da colheita, 87% da safrinha de milho já estavam comercializados – ritmo muito acima da média dos últimos anos. Ikeda explica que, diante da alta dos preços, os grandes consumidores nacionais da commodity, como o setor de proteína animal e de etanol, também buscaram antecipar suas compras.

Na avaliação do diretor-geral da Associação Nacional dos Exportadores de Cereais (Anec), Sérgio Mendes, “as vendas antecipadas refletem uma postura cada vez mais empresarial do setor”. “O mesmo movimento já está acontecendo com a safra 2021/2022, e nossa conclusão é de que isso não é mais algo isolado, mas uma tendência”, explica.

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Segundo Mendes, a movimentação dos grandes exportadores de grãos tem puxado a fixação de compras por parte dos agentes do mercado interno. “Os grandes exportadores de proteína animal não querem e não podem ficar sem ração no momento atual.”

O presidente da Associação de Proteína Animal (ABPA), Ricardo Santin, confirma: o setor tem se movimentado para garantir o abastecimento de milho ao longo deste novo ano-safra e, principalmente, travar custos. “Embora haja a visão de que não vai faltar milho, a gente sabe que ele está precificado por causa das exportações já contratadas. Então, esse é um custo que as empresas sabem que vão ter de enfrentar”, explica Santin.

Segundo o analista de carnes do Rabobank, Wagner Yanaguizawa, travar preços não é comum entre pequenos e médios produtores, que ficam ainda mais expostos às oscilações cambiais e possíveis altas na cotação de um item que compõe cerca de 70% dos custos de produção. “Em momentos de crise econômica e aperto de margens, isso acaba sendo um nivelador de mercado. O nível de competitividade exigido vai subindo e quem fica abaixo acaba saindo da atividade”, ressalta Yanaguizawa.

 (Foto: Getty Images)

 

Os grandes exportadores de
proteína animal não querem
e não podem ficar sem
ração no momento atual

SÉRGIO MENDES
Diretor-geral da Anec

Na pecuária de corte, a alta de preços do milho, aliada à forte valorização do animal de reposição, provocou redução no confinamento de gado para engorda e venda durante o período de entressafra em Mato Grosso. O segundo levantamento do Instituto Matogrossense de Economia Agropecuária (Imea), divulgado no início de agosto, apontou uma redução de 22,2% na quantidade de animais confinados neste ano em relação aos dados consolidados de 2019.

Os analistas do Imea observam que o preço médio da saca de milho em julho ficou 41,5% acima do registrado no mesmo período de 2019, quando os confinadores já se preocupavam com os patamares da época. “A menor disponibilidade de grãos no Estado, um dos fatores que têm elevado as cotações, também é demonstrada pela quantidade de insumos que ainda precisa ser adquirida em julho pelos confinadores, que era de cerca de 14%.”

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A baixa disponibilidade de animais para abate e as exportações recordes de carne bovina, devido à forte demanda chinesa, impulsionaram os preços do boi gordo. O indicador calculado pelo Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea/Esalq/USP) atingiu o maior valor da série histórica iniciada em 1994.

Os pesquisadores do Cepea observam que os animais de reposição (bezerro e boi magro) são negociados em patamares recordes reais e os custos com a alimentação estão elevados.

Vale lembrar que as exportações de carne bovina in natura atingiram recorde para um mês de julho. De acordo com dados da Secex, foram exportadas quase 170 mil toneladas, volume 11% maior que o embarcado em junho e 31,1% superior ao de julho de 2019.
Source: Rural

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