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(Foto: Kevin Arnold/TNC)

 

Visto como alternativa à criação de gado no sudeste do Pará, a produção de cacau tem ganhado escala nos municípios de Tucumã e São Félix do Xingu. É que agricultores familiares na região têm percebido que a atividade cacaueira alia o benefício da recuperação da mata nativa ao retorno financeiro, criando um ambiente sustentável em meio à floresta amazônica.

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São Félix do Xingu foi o terceiro município com mais queimadas no Brasil no mês de agosto,  com 52.021 focos de calor em apenas 31 dias, considerando todos os satélites do Programa Queimadas do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).

Integrante do Arco do Desmatamento na Amazônia, a região geralmente é explorada pelo ciclo de queda de árvores, lucro por madeira ilegal, fogo nas terras e gado para demarcação de território, de acordo com Rodrigo Freire, vice-gerente de Restauração da The Nature Conservancy (TNC) Brasil.

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No entanto, segundo ele, a pecuária nesta localidade não é uma atividade com retorno econômico de médio e longo prazo para a agricultura familiar, que segue a lógica da monocultura e inicia a ocupação da terra pela pecuária de corte mais rústica.

“O solo da Amazônia é fraco, ácido. Quando se tira a floresta e vira pasto, aquele pasto se degrada e, de repente, quem ocupou se vê com um passivo ambiental grande, prejuízo financeiro, pouca produtividade e, muitas às vezes, é obrigado a sair dali sem renda e com a natureza prejudicada”, diz.

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É com o objetivo de quebrar este ciclo exploratório e mostrar a riqueza da biodiversidade que a TNC tem investido no projeto Cacau Floresta, em que agricultores familiares têm percebido que produzir o fruto é mais rentável que criar gado de corte ou de leite, além de ser mais promissor no médio e longo prazo.

Para Freire, esta é uma das maneiras de criar soluções para as comunidades locais de forma socioeconômica e cultural. Prova disso é que os produtores que criam o cacau têm de cinco a sete vezes mais rentabilidade por hectare em relação à pecuária.

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É o caso de Idalto Mendes Pereira, cacaueiro em São Félix do Xingu (PA). Ele conta que tem 217 hectares e parte da propriedade continha áreas degradadas quando, entre 2013 e 2014, iniciou o plantio do cacau em parceria com a TNC. Após o preparo da terra e o aprendizado com assistência técnica, em 2017 ele colheu os primeiros frutos. 

Produtor conta sobre início da produção de cacau 
(Crédito: Tucum/TNC Brasil)

 

  

Atualmente, Idalto possui oito hectares de cacau, sendo dois em estágio avançado e o restante em evolução. “A primeira área ainda não atingiu a cota máxima porque demora cerca de oito a dez anos para o potencial total”, diz ele, afirmando estar bem contente com decisão que tomou há sete anos.

“A gente está muito empolgado, vendo que a cada ano está melhorando, e o apoio técnico é muito importante também. Agora em 2020, nesses dois hectares, deu em torno de um quilo de cacau por pé, o que é muito favorável. Pelo tamanho da planta, já é um resultado bem significativo, porque estamos alcançando a média geral do Estado do Pará e estamos só começando”, conta, com orgulho.

E não é só de cacau que se faz a propriedade. Ele também cultiva dez hectares de milho,  7,5 hectares de um projeto para rotacionar pasto com mata nativa para ter gado leiteiro sombreado, além de 80 hectares de mata já preservada e cinco hectares de recuperação de Área de Preservação Permanente (APPs).

A gente vê que dá certo quando os próprios animais acolhem isso. Eles estão vendo que a natureza está voltando

Idalto Mendes Pereira, cacaueiro em São Félix do Xingu

Além dos resultados da própria colheita, Idalto narra uma por uma as recompensas que já percebe na natureza. “Veio uma anta lá da mata nativa na nossa propriedade, tem passarinho que a gente nem via e agora encontramos ninho no pé de cacau. Tem uma andiroba com 10 metros de altura que plantamos em 2014. Em uma área degradada ver uma árvore assim deixa a gente cada vez mais empolgado. A gente vê que dá certo quando os próprios animais acolhem isso. Eles estão vendo que a natureza está voltando. É uma prova viva”, ressalta.

Este exemplo de recuperação e preservação de parte da Amazônia é um entre outras 249 famílias que fazem parte do projeto Cacau Floresta em Tucumã e São Félix do Xingu. E nos últimos dois anos, conforme conta Rodrigo Freire, a iniciativa conseguiu fazer integração da cadeia completa, do cacau ao chocolate. “A gente trouxe duas indústrias para apoiar a estratégia e gerar resultados conjuntamente: a Olam, uma das maiores processadoras de cacau, e a indústria Mondelez”. 

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Ao ver um horizonte próspero, Idalto já pensa nas árvores que serão resultado do sistema agroflorestal. “A gente semeia plantas nativas da Amazônia em um espaço de 18×18, planta o cacau entre elas e, no futuro, as plantas nativas vão crescer, nascendo a floresta e o cacau sombreado por baixo. Vai ser bonito de ver”, projeta.

(Foto: Erik Lopes/TNC)

 
Source: Rural

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