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(Foto: Senasa/Divulgação)

 

Desde a última semana, uma nuvem de gafanhotos que passa por propriedades rurais na Argentina tem despertado curiosidade e dúvidas. Vídeos chamam a atenção pelos cerca de 400 milhões de insetos que se deslocam rapidamente (é isso mesmo, você não leu errado!), podendo percorrer até 150 quilômetros por dia.

Por conta do risco às culturas anuais de inverno, como trigo, aveia e cevada, o Ministério da Agricultura teve de agir rápido. Além do monitoramento constante e troca de informações com os governos de Paraguai, Argentina e Bolívia, o governo fez parceria com o Sindicato Nacional das Empresas de Aviação Agrícola (Sindag) para o uso de 426 aviões, caso a praga cruze a fronteira, e decretou emergência fitossanitária no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina.

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Para responder às principais dúvidas, Globo Rural reuniu a opinião de especialistas como o chefe da Divisão de Defesa Sanitária Vegetal da Secretaria da Agricultura do RS, Ricardo Felicetti; a ministra da Agricultura, Tereza Cristina; Maria Kátia Matiotti, do Departamento de Biodiversidade e Ecologia da PUC/RS; Sinval Silveira Neto, colaborador sênior do Departamento de Entomologia e Acarologia da Esalq/USP; e a mestre em entomologia agrícola e gerente regulatório de Defensivos Químicos da Croplife Brasil, Andreza Martinez.

(Foto: Senasa/Divulgação)

 

Tire suas dúvidas

 

Qual é a praga que está na nuvem de gafanhotos?

Essa variedade do gafanhoto tem o nome científico de Schistocerca cancellata, é marrom, tem entre 4 a 7 centímetros e é conhecida por sua capacidade migratória. Segundo o Ministério da Agricultura, a praga está presente no Brasil desde o século 19 e causou grandes perdas às lavouras de arroz na região Sul do país nas décadas de 1930 e 1940.

"No entanto, desde então tem permanecido na sua fase 'isolada', que não causa danos às lavouras, uma vez que não forma as chamadas 'nuvens de gafanhotos", afirma o Ministério da Agricultura.

Como se dá a formação de uma nuvem?

Para o gafanhoto, o objetivo da revoada é ocupar novos espaços e habitats e se reproduzir. A formação da nuvem tem início na busca do inseto por comida e por ambientes mais secos e quentes.

Embora tenha feito frio e chovido nos últimos dias, as condições climáticas nas últimas semanas para a região Sul, quente e seco – atípicas para esta época do ano, em que as temperaturas deveriam estar mais baixas – associados ao desequilíbrio ambiental, favorecem
a disseminação e a reprodução dos gafanhotos.

Vídeo mostra avanço da nuvem na Argentina:

 

 

Quantos gafanhotos existem na nuvem? 

Na última semana, especialistas avaliaram que poderiam ter até 40 milhões de gafanhotos na nuvem localizada na Argentina. No entanto, o cálculo mais recente com base na literatura científica estima que sejam 40 milhões por cada km². Considerando os 10 km² de extensão
da nuvem atual, seriam aproximadamente 400 milhões de gafanhotos que se deslocam diariamente.

Qual a capacidade de proliferação da Schistocerca cancellata?

Segundo entomologistas, um gafanhoto adulto fêmea pode gerar entre 80 a 120 ovos. Por isso, uma das preocupações de especialistas é quanto a uma possível segunda onda dos insetos.

Uma das recomendações do manual elaborado pelo Ministério da Agricultura na última semana para a prevenção é verificar se existem buracos no chão ou se foram encontrados ovos no trajeto por onde passaram os gafanhotos adultos.

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Qual o risco de os gafanhotos chegarem ao Brasil?

Na manhã desta segunda-feira (29/6), autoridades do Serviço Nacional de Saúde e Qualidade Agroalimentar (Senasa) da Argentina afirmaram que a praga estaria indo para o oeste do país, em direção ao Rio Paraná, se distanciando de Brasil e Uruguai.

No entanto, o chefe da Divisão de Defesa Sanitária Vegetal da Secretaria da Agricultura do RS, Ricardo Felicetti, declarou que há uma preocupação em relação ao clima. Em caso de uma mudança na direção dos ventos, a praga pode se deslocar para o norte do país vizinho
e cruzar a fronteira no oeste do Rio Grande do Sul.

Há algum risco para os seres humanos? Do que a praga se alimenta?

Especialistas reiteram que não a risco para os seres humanos. No entanto, é preciso ter grandes cuidados, pois os gafanhotos podem causar grandes prejuízos para a agricultura local. No Brasil, as produções com maior potencial de dano são as lavouras de inverno, com os plantios de trigo, aveia e cevada, assim como lavouras perenes, com citros, videira e oliveira, além de pastagens.

De acordo com informações do governo da província argentina de Córdoba, cerca de 40 milhões de insetos são capazes de comer o que 2 mil vacas consomem em um dia.

Vídeo mostra técnicos argentinos em operação para conter insetos

 

 

Onde nasceu a atual nuvem de gafanhotos que está na Argentina?

A questão é polêmica. O Serviço Nacional de Saúde e Qualidade Agroalimentar (Senasa), órgão do Ministério da Agricultura da Argentina, diz ter emitido o primeiro alerta ao Serviço Nacional de Qualidade e Saúde de Plantas e Sementes (Senave) do Paraguai em 11 de maio.

A praga teria ingressado na Argentina em 21 de maio, retornado ao Paraguai, para voltar a Argentina outra vez no dia 28 do mesmo mês. "No final de maio, de maneira similar ao que ocorreu nos anos de 2019 e 2017, houve uma nova invasão de gafanhotos na Argentina. As nuvens entraram do Paraguai", diz o boletim do Senasa. O órgão paraguaio contesta e argumenta que a praga teve início no norte da Argentina.

Qual é a capacidade de deslocamento do inseto?

“O gafanhoto é uma praga migratória, que não reconhece limites ou fronteiras e, em um dia, pode viajar até 150 quilômetros e, por exemplo, atravessar de uma província para outra, ou mesmo de um país para outro em poucas horas”, diz o boletim do Senasa.

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Como combater os gafanhotos? 

Especialistas recomendam diferentes tipos de tratamento de acordo com o estágio de desenvolvimento do inseto, mesclando o uso de produtos químicos com o combate através de biológicos. Por exemplo: se na fase inicial é necessário o monitoramento de ovos, a mesma coisa é indicada para as ninfas, isto é, quando o gafanhoto ainda se encontra em estado juvenil, já que, nesta fase, o inseto não consegue levantar voo.

Na fase adulta, é comum o uso de inseticidas. No entanto, é preciso adotar alguns cuidados. A recomendação das autoridades fitossanitárias é esperar a praga assentar no solo para a utilização de pulverizadores manuais e aviões aeroagrícolas. 

É importante ressaltar que no Brasil os agroquímicos são classificados por culturas, e não por pragas. O Ministério da Agricultura ainda avalia quais defensivos poderão ser utilizados, para não causar prejuízos por conta da evasão de químicos, por exemplo.

(Foto: Governo de Córdoba/Divulgação)

 

O que determina a emergência fitossanitária decretada pelo Ministério da Agricultura na última semana para os Estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina? 

A portaria tem base no Decreto nº 8.133, de 28 de outubro de 2013, que autoriza o Ministério a importar produtos químicos não autorizados e conceder permissão para o seu uso de forma temporária, caso os já autorizados não sejam eficazes. Com prazo de vigência de um ano, a portaria também abre espaço para a contratação de pessoal por tempo determinado para prestação de serviços eventuais nas ações de defesa agropecuária. 

Segundo a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, a medida tem caráter preventivo. “É para que algumas ações possam ser feitas pelos governos estaduais onde há possibilidade de essa nuvem chegar", disse, na última semana. 

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Qual o trajeto da praga até aqui? 

Ao reingressar ao território argentino, a nuvem avançou sobre as províncias de Chaco e Formosa e passou pela cidade de Santa Fé. Ao final da última semana, os gafanhotos se instalaram na cidade de Sauce, na província de Corrientes, estando a 130 quilômetros, em linha reta, das cidades de Barra do Quaraí, no Brasil, e de Bella Unión, no Uruguai. 

Neste domingo (28/6), a praga foi encontrada pelas autoridades fitossanitárias argentinas em uma propriedade na cidade de Curuzú Cuatiá, em Corrientes, a mais de 100 quilômetros com o Brasil. Após três ações de combate aos gafanhotos, as autoridades fitossanitárias
da Argentina teriam eliminado 15% dos insetos presentes na nuvem.
Source: Rural

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