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(Foto: Divulgação)

 

Criado em 1997, o Parque Ricardo Franco deveria “proteger os recursos hídricos e a viabilidade de movimentação das espécies da fauna nativa, preservando amostras dos ecossistemas existentes na área e proporcionando oportunidades controladas para o uso do público”, como aponta o decreto que criou a unidade de conservação integral de 158 mil hectares no encontro entre os biomas do Cerrado, do Pantanal e da Amazônia.

Mesmo assim, 13 mil hectares da reserva foram desmatados para uso pecuário desde então, com fornecimento de carne para os três maiores frigoríficos do país: JBS, Marfrig e Minerva. Segundo levantamento feito pelo Greenpeace, o parque possui 137 imóveis rurais cadastrados que ocupam 71% da sua área total.

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“Muitas destas “fazendas” produzem gado, que é vendido para mercados além dos mares, na Europa, Ásia e Oriente Médio”, afirma o relatório divulgado na quinta-feira (4/6). A ONG destaca casos particulares de desmatamento ilegal na região, como a fazenda Paredão, com 2.096 hectares derrubados ilegalmente para abertura de pastagens e criação de gado em áreas de conservação.

“Não importa onde você esteja, nenhum frigorífico ou supermercado no Brasil que compra animais da Amazônia atualmente pode garantir que todo o gado produzido e comprado na Amazônia brasileira seja totalmente livre de desmatamento e outras irregularidades como a invasão de áreas protegidas e conflitos por terra”, avalia o Greenpeace.

 

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A organização, em conjunto com a ONG Repórter Brasil, mapeou a venda de pelo menos 4 mil cabeças de gado entre abril de 2018 e junho de 2019 da fazenda Paredão para a fazenda Barra Mansa, principal fornecedora dos três maiores frigoríficos do país – processo conhecido no setor como “lavagem de gado”.

A investigação constatou ainda a venda de 6 mil bovinos da Barra Mansa para a planta da JBS em Pontes e Lacerda entre janeiro de 2018 e junho de 2019, de 2 mil animais para a Minerva, entre agosto de 2018 e junho de 2019, e de 300 cabeças de gado para a Mafrig, entre julho de 2018 e julho de 2019.

Toda esta operação ilegal de cria e venda de gado alimenta o fogo e o desmatamento que consomem a região, colocando em risco espécies únicas

Greenpeace, em relatório

O Greenpeace também destaca que essas empresas firmaram um Termo de Ajustamento e Conduta com o Ministério Público em 2009 comprometendo-se a excluir da sua lista de fornecedores fazendas com irregularidades ambientais ou trabalhistas.

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Contraponto

 

 

 

JBS

Em nota, a JBS afirma estar “comprometida com todos os aspectos do Compromisso Público da Pecuária do Greenpeace, de 2009”. “Quando uma não conformidade socioambiental é identificada, a companhia toma ações decisivas. Até o momento, mais de 9.000 fazendas fornecedoras de gado já foram bloqueadas por não conformidade”, explica a empresa.

Ainda de acordo com a JBS, a “lavagem de gado” apontada pela ONG é uma consequência da maior fiscalização e consequente dificuldade de comercializar o gado de fazendas irregulares na região. “Portanto, tal fenômeno deve ser interpretado como um sinal positivo de mudanças estruturais que estão ocorrendo na governança socioambiental das cadeias de carne na Amazônia”, aponta o frigorífico.

Entre os mecanismos desenvolvidos pela JBS para conter a aquisição de gado irregular, a empresa cita a adoção de um índice teórico de produtividade de gado por hectare por ano e o uso das coordenadas geográficas das áreas embargadas pelo Ibama para a avaliação de fazendas fornecedoras, medidas que entrarão em vigor a partir de julho deste ano. “Essas inovações devem ter um grande impacto na redução dos casos de "lavagem de gado" na indústria de carne”, ressalta a JBS.

Marfrig

A Marfrig também destaca o cruzamento de dados na avaliação de seus fornecedores e aponta como um dos critérios a não sobreposição de área de produção com áreas de conservação.

A empresa, contudo, reconhece a dificuldade de obter informações de fornecedores indiretos e afirma que mantém uma ferramenta de solicitação voluntária a seus fornecedores quanto aos nomes dos  produtores e fazendas dos quais podem ter adquirido animais previamente “para promover a transparência e fortalecer ainda mais os dados sobre a origem dos animais fornecidos a empresa”.

“A Marfrig Global Foods reconhece seu papel no contexto do desenvolvimento sustentável de suas atividades e é absolutamente comprometida nos temas socioambientais e constantemente desenvolve tecnologias para mitigar riscos, sempre envolvendo os seus fornecedores e dando transparências a todas as partes interessadas”, aponta o frigorífico, em nota.

Minerva

Já a Minerva ressalta que “qualquer iniciativa de controle de fornecedores indiretos neste momento não é passível de processos certificados”. “Vale ressaltar que a competência legal pela gestão das Guias de Trânsito Animal (GTAs) é de responsabilidade do Ministério da Agricultura (MAPA) por meio do Serviço de Inspeção Federal (SIF), presente em todas as fábricas da Minerva Foods", afirma, em nota.

A empresa ainda diz que, "como qualquer outra indústria fiscalizada pelo SIF, não possui acessibilidade completa ao sistema de Guias de Trânsito Animal e, portanto, não possui meios efetivos de verificar e rastrear fornecedores indiretos com o uso das GTAs”. Também afirma que a fazenda Paredão está bloqueada no seu sistema de fornecedores desde 2018.

Na nota, a Minerva diz estudar a adoção de uma ferramenta de cruzamento eletrônico de GTAs desenvolvida pela Universidade de Winsconsin para combater a lavagem de gado entre seus fornecedores.

“Com base nas informações divulgadas pelo Greenpeace, vamos apurar os fatos com o uso dos dados que legalmente estão disponíveis para essa análise e, caso seja encontrada qualquer irregularidade no processo de fornecimento do gado pela Fazenda Barra Mansa para a nossa unidade de Mirassol D'Oeste, as providências cabíveis serão adotadas”, garante a empresa.
Source: Rural

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