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Exportação de milho no Porto de Paranaguá. Segundo a ministra Tereza Cristina, foi a maior queda no trimestre nos negócios com os países árabes (Foto: Cláudio Neves/Appa)

 

As exportações da agropecuária brasileira para os países árabes caíram 4,9% no primeiro trimestre deste ano em comparação com o mesmo período no ano passado, informou, nesta quarta-feira (8/4), a ministra da Agricultura, Tereza Cristina. Em videoconferência promovida pela Câmara de Comércio Árabe-Brasileira (CCAB), com participação de representantes daquela região, a ministra ponderou que esse movimento não está ligado a efeitos econômicos da pandemia de coronavírus.

De acordo com os dados apresentados por ela, as exportações do agronegócio para o mercado árabe somaram US$ 1,65 bilhão entre janeiro e março deste ano. No mesmo período no ano passado, foram US$ 1,74 bilhão. A maior queda ocorreu nos embarques de milho. Houve retração, também, em carnes bovina e de frango e óleo de soja. De outro lado, as exportações de soja em grão e de açúcar subiram no período.

“Nosso comércio segue pujante e assim continuará. As flutuações não se devem às interrupções ligadas à pandemia, mas às dinâmicas típicas do mercado”, disse Tereza Cristina. Segundo ela, a retração nos embarques de milho se deve ao atraso na safra de soja, mas a expectativa é de produção recorde na 2ª safra.

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A videoconferência teve como principal assunto as relações entre o Brasil e os países árabes, na situação atual e após o pico da pandemia. Na avaliação da ministra Tereza Cristina, a fase mais aguda da crise deve durar cerca de quatro meses e a situação talvez possa estar resolvida, “no mais tardar”, em um ano. Segundo ela, a sanidade será importante para evitar novas pandemias e o Brasil, pelas suas condições de produção, pode continuar a ser um grande fornecedor de alimentos em volume e qualidade.

Em relação ao mundo árabe, a ministra afirmou que tem se empenhado em manter o mercado aberto, embora haja dificuldades em alguns países. Destacou a viagem que fez à região no ano passado e resultados positivos de negociações com países como Egito, Kuwait e Emirados Árabes. Ela defendeu uma maior diversidade e agregação de valor aos produtos exportados para os árabes e pontuou a necessidade de um maior entendimento em relação à abertura de mercados.

“Apoiamos de maneira firme as empresas brasileiras que querem exportar para esses países. Temos certeza da qualidade dos produtos das empresas. Precisamos diminuir custos de transportes. Ter linhas que venham dos países árabes trazendo produtos para o Brasil, que possamos desenvolver em conjunto e fazer uma linha de transporte, principalmente marítimo, mais eficiente. É um desafio que lanço para os países árabes pensarem no que Brasil também pode ser demandante”, disse ela.

Aliança estratégica

Khaled Hanafy, secretário geral da União de Câmaras Árabes, afirmou que o comércio no Brasil com os países árabes tem crescido de forma significativa e o setor de alimentos tem grande participação. Mas avaliou que o volume está aquém do que pode ser realizado.

“A primeira coisa que precisamos é manter as relações comerciais para evitar o pior cenário, que é uma deterioração dos volumes de comércio. Estamos falando de quase US$ 15 bilhões. Precisamos evitar um decréscimo desse volume no futuro porque os países árabes precisam ter acesso aos produtos que vêm do Brasil e os produtores do Brasil precisam ter acesso aos mercados árabes”, disse ele.

Para Hanafy, entretanto, as relações econômicas entre brasileiros e árabes podem ir além do comércio e serem elevadas ao nível de aliança estratégica. Na visão dele, poderia beneficiar a atividade comercial entre as duas partes e também o atendimento de interesses comuns em outras regiões do mundo. Essa aliança incluiria agregação de valor a produtos e a criação de canais logísticos para melhorar o trânsito das mercadorias.

 

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Outro ponto fundamental é o apoio aos pequenos produtores, que acabam não se beneficiando da valorização de preços no mercado. “É necessário agregar um grande número de pequenos produtores do Brasil para trabalhar coletivamente e terem o máximo de benefício. E, do outro lado, termos o máximo de benefício para os consumidores árabes. É possível fazer isso nas lavouras, armazenamento, criação de hubs portuários em diferentes locais e ligar esses produtores ao comércio de commodities”, argumentou.

De acordo com Hanafy, apesar dos problemas trazidos pela queda do preço internacional do petróleo, os países árabes ainda têm capacidade de investir no setor de alimentos para abastecimento próprio de outras partes do mundo, como na África. São nações, segundo ele, com economias crescentes, população crescente e acesso a mercados.

“O coronavírus será história em breve. O que restará é nossa parceria. Precisamos falar sobre o futuro da nossa colaboração no setor de alimentos. É necessário mudar o relacionamento, de comércio para alianças estratégicas”, afirmou.
Source: Rural

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