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Cancelamento de contratos de matéria-prima preocupa Abrapa (Foto: Embrapa)

 

O mercado da indústria têxtil também sente os efeitos da pandemia do coronavírus. De acordo com Fernando Pimentel, presidente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit), houve uma queda de 90% no consumo de vestuário no país devido ao fechamento das lojas como medida de prevenir a proliferação do vírus.

Este cenário impacta as vendas de algodão, à medida que a indústria brasileira costuma comprar a pluma mensalmente conforme a demanda, não havendo compras antecipadas em quantidades significativas, segundo a Associação Brasileira de Produtores de Algodão (Abrapa).

Algumas indústrias, conta o presidente da Abit, já estão fazendo pedido para entregar a matéria-prima mais para frente. “Isso vai afetar o mercado de algodão, porque vai ficar parado por pelo menos um mês. Os contratos estão sendo postergados aguardando alguma posição de quando poderemos voltar. Se você não produz, o consumo de todas as matérias-primas cai”, diz.

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Fábricas paradas

Pimentel ainda ressalta que São Paulo e Rio de Janeiro representam, juntos, de 13% a 14% do consumo de vestuário do Brasil e, com lojas e shoppings fechados, grande parte da indústria já fica comprometida. Por isso, apesar de ainda não haver cancelamento de contratos, já existe a postergação e a negociação dos prazos de pagamento.

Mesmo com as vendas online, por meio de e-commerce, “varejistas de maior porte dizem que já há uma queda de 36% na atividade”, explica Pimentel, complementando que mais de 80% das fábricas estão em férias e só algumas estão operando em meio turno.

“A indústria nacional tem capacidade de absorver até 650 mil toneladas de pluma anualmente, o que, certamente, se reduzirá, em função do momento que o Brasil e o mundo estão vivenciando”, aponta a Abrapa, por meio de nota.

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Conjuntura preocupante

A safra atual está cultivada em estágio vegetativo adiantado, não restando outra alternativa, segundo a Abrapa, a não ser vender mais pluma para o exterior. A entidade estima que 65% a 70% da safra de algodão que será colhida até o final de 2020 já esteja travada por contratos futuros, com preços entre 65 e 70 centavos de dólar por libra peso.

O Brasil exportou, em plumas, 169,9 toneladas em fevereiro e 140,7 toneladas em março deste ano, o que representa alta de 82% nos volumes embarcados nos mesmos meses em 2019 e um recorde histórico de exportações. Porém, cerca de 35% da safra a ser colhida ainda não foi comercializada, tanto no mercado interno quanto externo. Isso equivale a 1 milhão de toneladas de pluma que estarão dependentes do cenário pós coronavírus.

Outro agravante que preocupa o setor é a queda nos preços internacionais, chegando a 0,50 centavos de dólar por libra peso. “O risco é que a multa a ser paga pelos compradores pelo cancelamento seja mais vantajosa que honrar os contratos”, diz a Abrapa, em nota.

A produção mundial de algodão está projetada em 26 milhões de toneladas e, antes da pandemia de coronavírus, o consumo estava previsto para 26,2 milhões de toneladas para 2019/2020. Entretanto, com a perspectiva de redução na demanda global, a Abrapa afirma que ainda não há avaliação segura sobre o percentual de redução, mas existe a preocupação com o cancelamento de contratos.

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Consequências

Na perspectiva da associação dos produtores de algodão, ao se confirmar a baixa demanda, os cotonicultores terão duas alternativas: reduzir a área cultivada para a safra 2020/2021 ou manter a área cultivada e a oferta, e buscar aumentar os volumes de exportações.

Ainda assim, a Abrapa explica que, além da cotação da commodity, o cenário das exportações depende do mercado internacional de pluma não ter sido afetado pela pandemia ou que algum país importante na produção deixe de ofertar volume significativo tradicional.
Source: Rural

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