Skip to main content

Lavoura Agro sem CEP (Foto: Getty Images)

 

 

 

*Publicada originalmente na edição 412 de Globo Rural (fevereiro/2020)

Enquanto o mundo urbano espera a chegada da tecnologia 5G, a zona rural ainda precisa lidar com a falta de sinal. Dos 5,07 milhões de estabelecimentos rurais no Brasil, 71,8% não têm acesso à internet, segundo dados do último Censo Agropecuário do IBGE, de 2017.

Para Silvia Massruhá, chefe-geral da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) Informática, é preciso mudar esse cenário. “A tecnologia da informação se torna imprescindível para trazer transparência para a cadeia produtiva, o que inclui a agricultura de precisão e a conectividade de máquinas”, diz.

saiba mais

ConectarAgro leva internet 4G para 5,1 milhões de hectares no país

Conexão 4G e nanotecnologia mudam realidade das fazendas

 

Algumas empresas do setor produtivo se uniram no ano passado e criaram o ConectarAgro, iniciativa que tem o objetivo de levar a tecnologia 4G ao campo. A ação é composta por AGCO, Bayer, CNH Industrial, Jacto, Nokia, Solinftec, TIM e Trimble. A meta das companhias é espalhar a tecnologia para mais de 5 milhões de hectares no Brasil.

Alexandre Dal Forno, head de IoT (internet das coisas, em português) da TIM, admite que o sinal 4G ainda é uma realidade mais próxima às grandes propriedades. “Agora, quando se fala de pequeno e médio, não temos uma solução fechada.”

A principal finalidade do ConectarAgro está associada à conexão de máquinas e à produção rural. “Obviamente, toda essa abordagem acaba levando cobertura para áreas ao redor. Por exemplo, se você digitar no Google ‘Fazenda Panorama’, ele vai dizer exatamente onde é a sede da fazenda, e quem está próximo também se beneficia,” afirma Alexandre.

Endereço invisível na internet

 

Benedita Almeida do Nascimento, que produz dendê no Pará, enfrenta transtornos pela falta de conectividade (Foto: Fabio Chiba)

 

Benedita Almeida do Nascimento é produtora de dendê em Moju (PA), a 128 quilômetros da capital, Belém. Ela conta que “para chegar até nós, ou o cabra vem perguntando ou a gente vai até ele”. 

A agricultora já chegou a viajar 280 quilômetros até Cametá para buscar um funcionário da empresa de telefonia que iria instalar uma antena de celular na propriedade.

“Infelizmente, para ter telefone aqui, você tem de ter uma antena rural. Quem não tem condição de ter essa antena não tem comunicação”, diz. O investimento no equipamento, segundo ela, foi de R$ 25 mil. 

Você acaba ficando isolada num lugar onde poucas pessoas sabem que você existe. É uma sensação de abandono

Benedita Almeida do Nascimento, produtora de dendê em Moju (PA)

Benedita está entre os milhares de brasileiros que ainda vivem “offline” por estarem na zona rural. A falta de tecnologia e conectividade no campo dificulta o acesso de produtores a serviços modernos, de entrega em domicílio a atendimentos emergenciais. As pessoas ficam literalmente fora do mapa dos serviços de localização.

No tocante aos endereços, os Correios destacam que a competência é municipal. A estatal afirma que, no caso de não serem cumpridas as condições mínimas necessárias para a entrega em domicílio, há alternativas, como as Caixas Postais Comunitárias ou a entrega em unidade dos Correios.

Apesar dessas possibilidades, Benedita afirma que não é tão simples assim. “Aqui não tem nem um nem outro. Geralmente, a gente dá o endereço de pessoas conhecidas na zona urbana, os Correios entregam e a gente busca. Mas é um transtorno”, afirma.

SP mapeia fazendas com o Google

O governo do Estado de São Paulo firmou uma parceria com o Google com o objetivo de  identificar 340 mil propriedades rurais. Por meio de uma tecnologia chamada Plus Codes, o acordo, lançado em dezembro de 2019, prevê a criação de endereços para os estabelecimentos e posteriormente apresentar rotas de acesso.

A ferramenta gratuita converte coordenadas de latitude e longitude fornecidas por satélite em códigos curtos e alfanuméricos. Ou seja, cada propriedade teria uma espécie de código de identificação para o Google, um CEP digital.

(Foto: Reprodução)

 

 

“Os primeiros seis meses serão de consolidação da base de dados. Em seguida, parte das estradas que já foram mapeadas serão disponibilizadas no Google Maps”, explica Gustavo Junqueira, secretário de Agricultura e Abastecimento do Estado.

Wilson Rodrigues, gerente de parcerias do Google na América Latina, conta que o Plus Codes pode ser usado sem conexão com a internet. “É importante que os endereços existam, inclusive para que empresas de telefonia consigam instalar internet. A partir do momento em que a gente desenvolve esse ecossistema, isso também é interessante para o Google”,  diz Wilson.

Falta de padrão

O diretor de inovação do Ministério da Agricultura, Luis Cláudio França, vê a iniciativa com bons olhos, “enquanto não há outra solução”, mas pondera que a geração de endereço via código alfanumérico foge do padrão.

“Nós temos algumas padronizações que precisaríamos evoluir mais do que termos outro padrão. Numa rua de terra que hoje foi aberta, ela tem nome, então nós poderíamos avançar utilizando o nome dessas ruas”, defende.

O Departamento de Inovação do Ministério da Agricultura estima que de 6% a 9% da agricultura brasileira tenha algum tipo de conectividade. Com a finalidade de expandir esse número, ainda segundo Luis Cláudio, os ministérios da Agricultura e da Ciência e Tecnologia começaram, em 2019, a discutir a conectividade por meio da criação da Câmara Agro 4.0. 

Na Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), da Universidade de São Paulo (USP), o tema vem sendo discutido desde 2017. Sergio Marcus Barbosa, gerente da Esalqtec, incubadora tecnológica da Esalq, diz que há pouca evolução nesse tema no país e destaca o alto valor exigido para que um produtor possa instalar uma antena na propriedade, por exemplo.
Source: Rural

Leave a Reply