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(Foto: Gettyimages)

 

Por três gerações ao longo de mais de um século, a família do empresário mineiro Laércio Almeida viveu da tradicional produção de queijo minas frescal, na fazenda que pertenceu ao seu bisavô, nos arredores de Santa Bárbara do Monte Verde, a 321 quilômetros de Belo Horizonte (MG). A mudança do campo para a cidade de Lima Duarte com a mãe e os irmãos, no início da década de 1990, iniciou também um processo de transformação na vida de Laércio, de sua família e dos negócios.

Há 11 anos, o empresário virou vegano e ativista dos direitos animais e, aos poucos, convenceu a família a aposentar as vacas e partir para um estilo de vida diferente (hoje, dois dos cinco irmãos são vegetarianos e outros dois são veganos), inclusive na produção de queijos. Mas, antes, deixou todos “malucos” com a transição. “Nesse primeiro momento, a aceitação foi nenhuma”, lembra ele.

Depois de ter passado a infância vendo a família produzir o famoso queijo mineiro, foi trabalhando num restaurante vegetariano de origem tailandesa que Laércio teve o seu primeiro contato com o tofu, o tradicional queijo oriental feito à base de soja.

As primeiras tentativas de receita do tofu, há quase dez anos, foram feitas no improviso, nos fundos da casa do pai, com botijão de gás e panela de pressão. Ali, com o toque da experiência adicionado pelo seu Adão, que aprendeu ainda criança a ordenhar vacas e preparar o minas frescal, o empresário consolidou a ideia da UAI Tofu, um queijo vegano feito à base de soja, como o tofu, mas com características do mineiro.

Produtos da UAI Tofu

 

(Foto: Divulgação)

 

“O mercado de tofu no mundo traz diversos tipos: demi, extrafirme, soft, defumado. Eu tive esse acesso à cultura de mais de 2000 anos de tradição de produção de tofu e a raiz de minha tradição de minas. O que a gente vende é o tofu frescal”, explica Laércio.

A primeira vez em que fez o tofu mineiro para venda foi em 2012, apenas para familiares, amigos e algumas encomendas. Da maneira rústica de produzir queijos, a família se profissionalizou e investiu em equipamentos e estrutura para chegar à concretização do sonho de Laércio em criar um produto originalmente vegano.

EM FAMÍLIA

Atualmente, a UAI Tofu entrega seus produtos em aproximadamente 700 pontos de venda em quase todo o país, com meta de atingir 1.000 até o final deste ano. Os revendedores são bastante diversificados, de mulheres empreendedoras que os vendem em feiras a grandes lojas de produtos naturais e restaurantes.

Em 2018, a UAI Tofu fechou com um faturamento superior a R$ 500 mil, vindo de um crescimento anual de 50% nos últimos dois anos. “Mas, até chegar aí, foram mais de seis anos de investimento na empresa”, calcula Laércio, que lidera o negócio com a sua esposa e sonhadora de causa, Hanna Benites, também vegana desde janeiro de 2016. Além deles, a fábrica, em Juiz de Fora (MG), conta com a mãe e Laércio, a cunhada e uma dezena de funcionários.

A fábrica produz, em média, 180 quilos de tofu frescal por dia, embora tenha capacidade para fazer 400 quilos diariamente, e funciona o ano inteiro, parando apenas para um recesso no final do ano. Além de estar inteiramente envolvido com a produção e a parte administrativa, Laércio também se dedicou ao marketing da empresa, que ganhou força graças ao seu ativismo nos direitos animais, mas focado em atrair o consumidor a testar novos sabores.

Laércio Almeida e a esposa, Hanna Benites (Foto: Divulgação)

 

“A grande questão foi transformar o tofu num produto que agrade ao paladar do brasileiro, que está acostumado com o sabor do queijo como protagonista. Houve casos de descendentes de japoneses que disseram que nosso produto não era tofu. E realmente não é, naquele conceito oriental. A gente transcendeu mesmo esse conceito. Temos cliente de hamburgueria que usava o tofu nos hambúrgueres veganos que costumava pedir 5 quilos por mês e hoje pede 35 quilos”, conta, orgulhoso.

Para cair no gosto da gastronomia brasileira, Laércio criou diferentes produtos: o tofu frescal (semelhante ao queijo mineiro na consistência e sabor), o tofu defumado fatiado e o tofu defumado em peça (semelhante ao queijo provolone ou com sabor de bacon, a depender do preparo). O preço do quilo varia de R$ 60 a R$ 120.
 

SOJA ORGÂNICA

Com 99% da soja brasileira sendo transgênica e cultivada no sistema convencional, encontrar um fornecedor da oleaginosa orgânica foi um dos grandes desafios para impulsionar a produção do tofu. “Tive de ligar para umas 200 pessoas, porque foi dificílimo encontrar a soja orgânica certificada. Quase toda essa soja é vendida para fora do país”, conta Laércio, que compra o grão da empresa Biorgânica, do Paraná, pagando cerca de três vezes mais do que o valor da soja convencional.

Mauro Reichert, diretor da Biorgânica, explica que, embora o mercado de convencionais seja crescente, é difícil produzir soja orgânica num país onde o consumo de proteína animal é alto e predomina o cultivo de transgênicos. “Conseguir sementes isentas de transgenia, manter as lavouras e equipamentos livres das contaminações, desenvolver as próprias soluções técnicas para controle de pragas e doenças, atender aos protocolos de certificação orgânica, além de manter índices satisfatórios de produtividade e viabilidade econômico-financeira são os principais desafios.”
Source: Rural

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